quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

INSTIGA



Tu sabes me deixar aceso.
Tu entendes os mecanismos para tal.
Cada poro de minha pele anseia
pelo seu toque. Quando isso ocorre
meu estômago contrai.

Depois da animação tu te afastas
e me enlouquece. Apenas me instiga
e me mata aos poucos.
Essa dor é viciante. Quero a todo
momento observar a languidez
[dos movimentos de seu corpo]

Sua face angelical e perversa me atrai.
Seus atos falhos me alegram;
deixam-me esperançoso.
Queria viver só de palavras,
pois elas não doem tanto.

Mas as palavras se materializam
e consigo pegá-las com as mãos.
Elas cortam
e ferem. Aliso essa palavra
consubstanciada e me torno feliz.

Quero alcançar a pura forma,
mas o sentimentalismo está impregnado
nelas. Rendo-me à dor,
faço dela uma fonte de prazeres.
Continuo aceso.
[Não consigo desativar tais mecanismos]

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

MOTO, PLATÃO E PETER GREENWAY



“[...] Quanto melhores forem, pois assim sendo tanto mais amam a imortalidade.” (Platão, O Banquete)
I –MOTO
Será que anseio pela imortalidade? Creio não pensar nisso ainda, pois equanto jovem, a imortalidade está em potência em mim. Atualmente, estou aprendendo a pilotar motocicleta – por que não utilizei apena moto? Sou retrógrado – e já coloquei o veículo a uma velocidade que, em uma queda quebraria todos os meus ossos. Penso ser imortal (risos).
II – PLATÃO
Contudo, questões relacionadas à imortalidade povoaram a minha mente pseudo-depressiva-romantica ao assistir dois filmes do diretor Peter Greenway. Seguirei o roteiro do título e deixarei o comentário sobre esse diretor por último. Comentarei sobre Platão.
“Um dos trechos mais lidos de sua obra chamada de “Symposium”, conhecida como “ O Banquete”, é o discurso de Diotima. Não quero me prender a detalhes desse livro de Platão, mas quero re-lembrar (risos) das maneiras de se imortalizar, segundo Platão, ao inventar esse personagem interessante (Diotima).
1ª Maneira de se tornar imortal® (pelo corpo) tendo filhos. Sua matéria crpórea, suas características, sua carga genética se perpetuaria.
2ª Maneira de se tornar imortal® (pelo espírito) cria aquilo que compete a alma criar. A criação é feita pelo pensamento e virtudes. Curiosamente, Platão cita os poetas.
Nesse livro platônico um trecho chamou minha atenção: Aquiles (não lembre Brad Pitt no horrível “Tróia”) não morreu pelo seu amor homossexual por Pátroclo, mas desejou ser imortalizado pelo seu feito. A premissa platônica: O homem deseja ser imortal.
III – PETER GREENWAY
Volto a comentar sobre Peter Greenway. Assisti apenas 2 filmes desse diretor: “O livro de cabeceira”(1996) e “Ronda da noite” (Nightwatching, 2008). Ambos filmes citados tem, em meu devaneio, uma ligação com o desejo da imortalidade. A arte será a promotora da sensação imortal e a libertadora das coisas fugazes. No primeiro filme, o desejo compulsivo de uma mulher em escrever livros na pele de seus amantes leva, depois da morte de um deles, à retirada da pele e a enterrá-la embaixo de um bonsai. No segundo filme as vicissitudes de Rembrant demonstram a força de sua pintura e a necessidade de se imortalizar com sua arte.
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Continuarei a pilotar motocicleta – com menos velocidade –, não pretendo nesse momento ter filhos e quero assistir mais filmes de Peter Greenway.

domingo, 19 de dezembro de 2010

[................]



Como pode uma formiga se apaixonar por um escorpião? À primeira vista ela sentiu-se hostilizada pela presença arrogante do escorpião. As diferenças – contrário ao que todos pensam – fizeram com que elas se afastassem. Contudo, a aproximação se deu quando perceberam seus pontos em comum. Ambas gostam de liberdade e possuem uma vida noturna muito ativa. O primeiro encontro foi um desastre: não conseguiram fazer nada, apenas cheiraram os orifícios alheios.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

NAKED LUNCH - preciso criar outro blog



Confesso que um de meus desejos foi realizado após terminar de ler esse livro: “Almoço nu”, de Burroghs. Infelizmente, ao devo detalhar as descrições do livro, visto que o público de leitores desse humilde blog também é composto de crianças – muitas mais espertas que eu, mas me rendo a essas convenções. Contudo, demonstro a felicidade com essa citação:
“Amável leitor, a fealdade de tal espetáculo desafia qualquer descrição. [...] Ah, meu Deus, que cena aquela! Seriam a língua ou pena capazes de transmitir tamanho escândalo? Um jovem rufião descontrolado arranca fora o olho de um confrade e passa a foder-lhe o cérebro! Temos aqui um caso de atrofia cerebral, esse negócio está tão secoquanto a buça da vovó.”
Me preparo agora para ler minha nova aquisição: “Fluxo-floema”, de Hilda Hilst.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Motivos



Nesse processo de chatice que enfrento – enjôo comigo e com o mundo – percebo que a solução está, talvez, na poesia-arte-filosofia. Percebo, também, que a solução está na alteridade, leia-se outra pessoa, visto ser muito bom conversar, amar e etc. Meus momentos de misantropia urbana, embora necessários, revelam quanto preciso dessa alteridade. Bastou um toque para que esse momento de solidão voluntária se dissipasse, bastou um olhar para perceber que também preciso de interação.
ACREDITO TER ESCRITO TAIS PALAVRAS DEPOIS DE LER ESSE POEMA :
MOTIVO
(Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

CREIO NÃO PRECISAR DIZER MAIS NADA

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UM GRITO SILENCIOSO



Um grito não audível ecoa na mente. Dura cerca de um minuto e meio. Meus lábios apenas pronunciaram – “que legal” – palavras de agradecimento. A curiosidade já deve “martelar” algumas mentes, pois: qual seria o motivo desse grito inaudível? Um grito que não brota dos pulmões e das cordas vocais, mas de um recôndito abaixo do estômago – semelhante à sensação de encontrar a pessoa amada. Chega de invenção! O motivo de tal devaneio foi a chegada de um livro em minhas mãos. Um objeto de fetiche como esse é capaz de fazer tudo o que foi descrito acima.
“Almoço nu” (Naked lunch), de Willian S. Burroughs, foi o livro que chegou às mãos pela manhã. Um amigo de infância – Carlos – foi o sacerdote que trouxe o objeto de oferenda aos deuses. Certamente o grito ecoado em minha mente não foi percebido por ele, visto ter entrado numa euforia interna sem precedentes. Qual a origem disso?
Primeiro motivo: a versão cinematográfica do livro de Burroughs ter sido gravada pelo diretor canadense David Croenemberg, o qual tenho profunda admiração. No Brasil esse filme recebeu o título – não sei por que – de Mistérios e Paixões.
Segundo motivo: Burroughs é considerado beatnick. Essa literatura americana que foge e combate os esquemas morais mais rígidos e hipócritas da sociedade. Já comentei sobre Bukowski em postagens recentes.
Devido a essa oferenda aos deuses, tive que interromper a leitura da obra que estava lendo: “O coração das trevas”, de Joseph Conrad. Curiosamente, também primeiro conheci a versão do cinema desse livro – Apocalipse Now(1979), de Copolla.
Neste exato momento acabo de ler a sexta parte do livro de Burroughs que, aparentemente, não possui nenhuma conexão, mas percebo que uma das intenções do autor é causar um efeito alucinógeno semelhante ao dos personagens Outro beatnick! Estou viciado.

domingo, 5 de dezembro de 2010

AMO PROSA, GOSTO DE POESIA. QUE TAL UMA PROSA POÉTICA?

Reservei esse final se semana a ler alguns poemas. Creio não ter nada a ver a leitura de poemas com o estado sentimental do indivíduo, mas nesse caso específico penso que sim. A leitura desses textos impregnados de poesia fez com que a seguinte interrogação pairasse sobre minha cabeça: Como entender poemas – leia-se também poesia? Não quero adentrar nesse tipo de discussão, visto ser leigo nesse assunto, mas sou leitor de poemas há bastante tempo e eles realmente me fazem viajar, sem ajuda de nenhuma droga.
Acabei nesse instante de ler o planejado para esse fim de semana e me preparo para compor mais uma música. Nunca tinha lido algo de Henriqueta Lisboa e gostei muito de um de seus poemas:
FIDELIDADE
Ainda agora e sempre
o amor complacente.

De perfil de frente
com vida perene.

E se mais ausente
a cada momento.

Tanto mais presente
com o passar do tempo.

à alma que consente
no maior silêncio

em guardá-lo dentro
de penumbra ardente

sem esquecimento
nunca para sempre

doloridamente.

(Henriqueta Lisboa)

Ouvi da boca do escritor sergipano Antônio Carlos Viana que é possível ler poesia em prosa. "Que todo prosador tem um caderno de poesia escondido". Tô começando a concordar com ele.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

FEMINISMO ERÓTICO



Não resisto! Sempre que encontro uma referencia sobre o Brasil nos livros em que leio tenho que comentar com alguém. Estou utilizando o blog para tal intento. Primeiro, foi com “O Primo Basílio”, de Eça de Queirós. Agora estou lendo outra fera da literatura mundial: Anaïs Nin (1903-1977). Na verdade, é o segundo livro que leio dessa autora, visto ter lido “O Delta de Vênus”(1969) no ano passado. Essa escritora francesa que escreveu sua obra em inglês, pois passou parte de sua vida em Nova York, se tornou famosa pelas suas histórias eróticas. Fato peculiar em sua vida: foi amante de Herry Miller, importante escritor desse gênero literário em que os adeptos de sua leitura se escondem para ler. Já ultrapassei essa fase – leio Anaïs descaradamente. Passei a metade do livro lendo dentro de um ônibus.
É realmente uma escritora à frente de seu tempo. Precursora do feminismo soube exprimir com beleza toda a sensualidade e sexualidade feminina. O desejo humano é retratado com uma profundidade tão intensa que mesmo com uma tradução nas mãos é possível sentir a musicalidade de sua prosa.
Voltando ao que comentava no início do texto, no livro atual que estou lendo de Anaïs Nin – “Pequenos Pássaros” (1959) – observei em uma das histórias um referencia ao nosso Brasil. Citação:
“Dizia que, no Brasil, as pessoas faziam sexo como os macacos, a toda hora e sem problemas; as mulheres eram acessíveis e sempre dispostas; não havia quem não reconhecesse seu apetite sexual. [...] – No Brasil, você não pode se abaixar, senão ...”
Antes que alguma feminista recalcada possa entender a citação sendo uma apologia da mulher brasileira como mero objeto sexual, quero explicar algo. Até onde minha mente entende a literariedade de Anaïs, a busca pelo sexo por parte da mulher representa a sua libertação do jugo em que sempre foi submetida. Seus personagens encaram a questão da sexualidade – influenciada pelas “descobertas” freudianas – como um processo que tornará a mulher – e, por extensão, qualquer indivíduo – livre. Não é necessário que ela perca a delicadeza para que esse objetivo seja cumprido, suas historias marcam muito bem isso.
A intenção dos textos é realmente despertar e excitar o leitor – no ônibus tive que interromper a leitura. Tenho que postar o fim da história “Um domingo no parque”.

sábado, 27 de novembro de 2010

AINDA COM BUKOWSKI

Do livro de Bukowski, citado no post anterior, várias histórias me impressionaram: “O grande rebu da maconha”, “Notas de um candidato a suicida”, “Vulva, Kant, e uma casa feliz”. A que mais chamou minha atenção foi: “Cerveja, poetas e mais papo”.
Contudo, a citação que quero comentar está em “Uma para Walter Lowenfels”:
“Los Angeles estava infestada de lugares assim. De gente que escrevia troços indignos de limpar cu de gato e ficava lendo aquilo pros outros e todo mundo a se elogiar mutuamente. Uma espécie de punheta espiritual na falta de melhor coisa pra fazer.”
Curioso: sempre tive essa impressão ao participar de eventos acadêmicos.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

BUKOWSKI É MEU PAI [aprendi a chamar autores e diretores que gosto dessa maneira com Jadson]



Terminei de ler “O falecido Mattia Pascal”, de Luigi Pirandello. Minha empolgação no início não se repetiu ao finalizá-lo. Fiquei descontente com o rumo dos personagens. O próprio Mattia, símbolo das máscaras sociais me soou moralista. O que importa é que já estou finalizando um livro do Bukowski. Afirmo isso devido a voracidade em que leio seus textos.
No primeiro semestre li a primeira parte de “Ereções, ejaculações e exibicionismos”, que tem como subtítulo “Crônicas de um amor louco”. O subtítulo dessa segunda parte – que estou lendo – é “Fabulário geral do delírio cotidiano”.
Considerado o último escritor da geração “beat” encerra esse movimento literário americano com extrema maestria. Esse fenômeno cultural é também chamado de embrião do movimento hippie, visto que os escritores e poetas levavam vida nômade e suas experiências com drogas são exaltadas nos textos. É um dos grandes movimentos de contracultura que o mundo já viu. Bukowski, especificamente, escreve histórias autobiográficas que demonstram uma “excitação frenética” em suas linhas. Como de costume, os personagens desse tipo de literatura são marginais e, na sua maioria, os autores não se preocupam com a estrutura do texto. Bukowski faz o mesmo e me deixou preso em suas narrativas durante a semana inteira.
Assim que terminar, provavelmente amanhã, irei comentar uma de suas histórias. Creio ser a primeira vez que falo de Bukowski aqui, um de meus autores prediletos. Li “On the Road”, traduzido para o Brasil com “Pé na estrada”, considerada a bíblia beatnick, mas prefiro Bukowisk.

domingo, 21 de novembro de 2010

NO VERSO DO POEMA


No verso do poema está
a verdade.
No verso do poema está
outro problema.
No verso do poema está
seu olhar.
No verso do poema está
o inverso da realidade.
No verso do poema está
meu objeto de desejo.
No verso do poema está
a rima em desuso.
No verso do poema está
a pura forma.
No verso do poema está
a poesia do infinito.
No verso do poema está
o divino.
No verso do poema está
outro poema.




sábado, 20 de novembro de 2010

VÁ TOMAR NO CÚ - GOSTEI SIM DO FILME



Primeiro: Leia até o final ou vá se arrombar.
Segundo: Não vou pedir desculpas pelas palavras consideradas torpes redigidas até agora.
Terceiro: Gostei do filme.
Sábado, 20 de novembro de 2010. Acordei, fui ao centro – não realizei meu ritual de tomar uma dose de milone no mercado central de Aracaju – para comprar um presente para minha afilhada. Comi besteiras durante o dia. Tomei uma garrafa de vinho com uma barra de chocolate.
Nada de interessante, porém tudo mudou com a chegada de uma vizinha à minha porta. Resolvi acompanhá-la até a barraca de DVDs piratas. Já tinha assistido a um filme: “Os substitutos”, com Bruce Willis – comentarei sobre ele futuramente. Tinha chegado do ensaio da banda e queria mais filmes. Resultado: comprei um filme nacional chamado “Os famosos e os duendes da morte”, do diretor Esmir Filho (2010). Certa pessoa já tinha assistido e me informara que ao tinha gostado. VÁ TOMAR NO CÚ! O filme é bom demais aos meus olhos.
A primeira impressão que tive do filme foi a de estar frente a uma apologia EMO. Isso, graças ao meu preconceito com o cabelo do ator principal Henrique Larré. O filme é uma co-produção com a frança, mas o Henrique Larré é brasileiro. Pequeno resumo da porra da história: um garoto bloga com o nome de M. Tambourine Man, fazendo referencia a uma música de Bob Dylan, o qual o garoto é fã. Esse internauta vive em uma pequena cidade alemã no RS. Ele revela os segredos mais íntimos em seu blog enquanto segue uma garota que parece não mais existir – o nome dela é Jingle Jangle, outra referencia a Dylan. Curiosamente, um rapaz retorna à cidade e trás velhas e tristes lembranças; este se parece com o próprio Bob Dylan.
As imagens e como o diretor manipula a câmera fazem com que o expectador sinta praticamente as sensações, talvez existencialistas, do personagem. Gostei muito da fotografia, que faz com que imagens de internet se tornem quase que reais e os contrastes utilizando sombra são fodas. As cenas na ponte – marcada por uma série de suicídios – são as que mais gostei.
Quarto: Já ia me esquecendo – Suely, vá tomar no olho de seu cú!



quarta-feira, 17 de novembro de 2010

TIVE UM ÊXTASE AO LER ESSE POEMA DA SERGIPANA NÚBIA MARQUES



MÍSTICO
O ódio santo
a dor mística
morreram em mim
Frágil e só
toco trêmula
o meu corpo.
[Núbia Marques]

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O FUNERAL CONTINUA - PIRANDELLO E SU FALECIDO

O capítulo III chegou de maneira inusitada – li totalmente no ônibus. Ouvi notícias de pessoas que deslocaram a retina ao fazer leituras nesse tipo de transporte; creio que devido ao péssimo estado das rodovias. Não liguei e li esse capítulo inteirinho, como se estivesse deitado em minha cama. Assim que terminei, cedi meu lugar a um idoso. Como tenho medo da velhice! Tenho que ler novamente o que escrevi nesse mesmo blog no texto “Considerações sobre o tempo”.
Nesse capítulo o personagem conta uma história bem emblemática e reitera o que tinha afirmado anteriormente: na verdade não conhecera o seu pai, mas “o povo” de sua cidade sabia a história da fortuna de seu pai com detalhes. Interessante esse comportamento comunitário de criar histórias acerca da vida alheia e transformá-las em folclore.
“O povo” afirmava que o pai de Mattia Pascal ganhou uma partida de baralho em que estava apostando uma carga de enxofre com um capitão de um navio inglês. Com o lucro, o pai do personagem central aplicou em terras e ficou em boas condições financeiras.
A morte do pai de Mattia acabou por arruinar a vida deles, visto que a administração ficou nas mãos do inábil Malagna. Mas o personagem mais curioso desse capítulo é a Tia Scolástica. A irmã do falecido pai de Mattia possui uma personalidade interessante: é rabugenta, solteirona e orgulhosa. Tudo isso ao extremo. Acrescentaria uma depressão-psicótica, pois o narrador-personagem afirma que suas visitas eram de curta duração, pois se enfurecia rapidamente e saia de sem se despedir de ninguém. Essa tis de Mattia gostaria de ver a cunhada casada novamente para que ela se visse livre de Malagna que estava arruinando a família.
Nessa parte do livro, o narrador recrda de sua infância e de seu predecessor, Pomino. Este era um conhecedor de poesia que ensinava a Mattia e a seu irmão Berto.
Mattia se descreve como adulto: tinha o nariz pequeno, uma grande barba ruiva, com uma grande testa. Comparado com Berto, seu irmão, ele era feio.
Fiquei curiosíssimo ao ver a citação de um autor por mim desconhecido: Bandello. No trecho em que o personagem promete narrar seu casamento em detalhes, cita Boccaccio e esse nome por mim desconhecido. Boccaccio e seu erotismo já são conhecidos por minha mente, mas Bandello não. Em uma nota de rodapé há uma informação que este escritor foi seminarista e conheceu Leonardo Da Vinci – com essa amizade e tendo seu nome colocado ao lado de Boccaccio espero mais um autor legal.
OBS: O final da história “Um Domingo no parque” será postada em breve.


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

UM NOVO LIVRO - DESSA VEZ UM ITALIANO



Iniciei a leitura de “O falecido Mattia Pascal”, de Luigi Pirandello. Esse autor é muito conhecido pela sua importância no teatro, mas essa nova coleção da Abril Cultural, que está semanalmente nas bancas, editou o primeiro romance desse autor italiano. Chamou minha atenção a adesão de Pirandello ao fascismo. Automaticamente lembrei-me de Heidegger, importante filósofo alemão contemporâneo, e sua adesão ao nazismo. Ambos partiram com seus partidos.
Inicio a leitura desse livro curioso sobre as vicissitudes dos personagens do início do século XX europeu, especificamente personagens italianos. Para quem não sabe fiz um curso de iniciação no italiano durante o primeiro semestre desse ano. Consigo ler coisas fáceis nessa língua bonita, não aprendi mais porque meu professor sempre dizia “Tu dimenticherai di fare gli esercisi”.
Irei comentar os dois primeiros capítulos que, por sinal, são muito interessantes.
CAPÍTULO I – Premissa
O personagem apresenta seu nome: Mattia Pascal. Existe uma nota de rodapé informando que os personagens de Pirandello têm suas personalidades refletidas nos nomes. Neste caso: Mattia vem de matto = louco; Pascal, importante filósofo, cuja principal afirmação é “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. O narrador personagem informa que trabalhou numa biblioteca deixada pelo senhor Bocamazza ao município de uma cidade de pessoas estúpidas. O narrador, Mattia Pascal, deixa seus manuscritos nessa mesma biblioteca, com a condição de que ninguém leia até que se completem 50 anos de sua terceira morte. O personagem narrador informa que já tinha morrido duas vezes. Explica que a primeira foi por engano e a segunda o leitor saberá.
CAPÍTULO II – Segunda premissa (filosófica)
É nesse segundo capítulo que Mattia informa a variedade de temas dos livros da biblioteca, inclusive libertinos. Tese apresentada nesse capítulo: os livros melhoraram consideravelmente depois da revolução copernicana, mas como conseqüência essa revolução arruinou a humanidade.
De uma maneira diferente: a mudança científica resultante da hipótese de Copérnico – corroborada pelas experiências de Galileu – trouxe uma mudança de mentalidade para a humanidade. A terra (e o homem) saiu do centro do cosmos, deixou de ser imóvel para ganhar movimento, sinal de degradação. Curiosa é a afirmação do narrador ao sofrer uma réplica que diz que a Terra sempre girou:
“- Não é verdade. O homem não sabia disso, então era como se não girasse.”
Essa mudança científica-astronômica fez com que o ser humano se reconhecesse infinitamente pequeno frente ao Universo sem sentido. Outra afirmação curiosa do personagem: “Nossas histórias são histórias de minhocas”.

sábado, 6 de novembro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 5]



Durante a minha ida ao banheiro meus pés se encheram de areia, mas como estava andando rápido para não perder o resto da conversa, não liguei. Agora essa areia estava começando a me incomodar. Tive que me ausentar mais uma vez para lavar meus pés em uma torneira próxima ao posto policial do parque. Quando voltei a brincadeira da garrafa tinha acabado e estavam discutindo sobre música. Ketlyn estava fumando de uma forma tão sensual que tive vontade de paquerá-la. Era uma Brigitte Bardot; muito linda! Não conseguia tirar o olhar dela, até que ela percebe e me encara. Desviei o olhar, mas acho que ela acredita que eu estou não só prestando atenção nela, mas em toda a conversa. Desse momento em diante, ela começa a me encarar de forma ameaçadora, e tive que aguçar mais o ouvido para continuar a ouvi-los. Comecei a refletir sobre meu papel naquele momento. Será que eu era um fofoqueiro e não sabia? É muito raro alguém acusar outro de fofoqueiro, a não ser que a vítima em alguma ocasião de raiva “exploda”. Como ninguém tinha me acusado de fofoqueiro, fiquei pensando. Acho que não sou bisbilhoteiro; mas porque aquele grupo chamou minha atenção? Eu estava realmente xeretando toda a conversa e a julgar todos do grupo. Bom, só naquele momento eu assumo ser fofoqueiro. Voltemos às peripécias dos jovens que estou a observar.
Não falei de uma garota chamada Samara, essa realmente era a mais discreta daquele grupo. Era negra, estava vestida de preto e fumava. Ketlyn perguntou a ela se tinha trazido canabis – a velha maconha – mas Samara disse que isso era coisa do passado que a “onda” agora era outra coisa. Realmente eu não entendi o que ela quis dizer. A líder lançou outra pergunta:
- Você ainda dorme em cemitérios? – ao fazer essa pergunta Ketlyn fica com uma cara muito cínica.
- Não! – Samara responde de maneira seca.
- Então você assume que já dormiu antes? – Ketlyn realmente era muito ardilosa.
- Na verdade eu nunca dormi. – Samara percebe que tinha caído em uma pergunta falaciosa de Ketlyn.
Pelo desenrolar da conversa, Samara era uma “dark”, ou uma gótica; realmente não sei distinguir essas duas coisas. Eles retomam a conversa sobre música e essa garota vestida de preto chega a comentar sobre Bob Dylan. Um aspecto que me chamou atenção sobre aqueles jovens foi a liberdade que eles tinham em comentar acerca de suas sexualidades. Samara, por exemplo, viu um rapaz que fazia uma caminhada pelo parque e logo expressou sua vontade em fazer sexo com ele. Acho interessante como as pessoas se interessam pela sexualidade das outras, mesmo que não esteja interessado “o povo fala mesmo”. Acho que Ketlyn estava dando umas investidas em Samara, mas esta não percebeu ou se fez de despercebida.



sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A MINHA PRIMEIRA VEZ - NO SERTÃO




Estive fora esses dias por um motivo bom: conhecer, literalmente, o sertão. Claro! Não tenho pretensões literárias de escrever um novo “Sertão, veredas”. Desde sábado até essa última terça estive nas paisagens mais férteis da literatura brasileira. Realmente fantástico.
Não estive no sertão no período mais conhecido, ou seja, durante a seca – estava tudo verdinho –, mas deu para perceber como é a vida por lá. Há tempos recebia o convite de Conceição para conhecer sua terra que já não faz parte de Sergipe, pertence ao estado da Bahia, mas é divisa com Poço Verde. Minha companhia foi a dona do blog Reunindo Palavras: Luciana. Estávamos realmente isolados do mundo chato como a maioria de vocês conhecem. Foi uma aventura com intenção misantrópica para meus comportamentos eremitas urbanos.
Levamos – Luciana e eu – um arsenal de filmes. Assistimos, regados a vinho, campari, aguardente e a barata, mas eficaz, sangria maravilha: Persona, de Ingmar Berman; Candy, com o saudoso Heather Ledger; As três formas de amar, de Irwing Fleming, desejo erótico juvenil da maioria; Festim diabólico, de Hitchcook; Madame Satam, fodaço! E mais algumas outras coisas.
Escrevo essas palavras ainda no sertão, espero que estejam impregnadas desse sentimento nostálgico provocado pela leitura da literatura regionalista que tanto me orgulha. Foi realmente um feriadão mágico.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 4]

- Verdade ou desafio? - questionou o menino metido a escritor.
- Desafio! - respondeu Kátia para não ter que responder mais nenhuma pergunta incômoda.
- Seguindo o “fio” da última pergunta, eu te desafio a beijar a mim e uma das garotas daqui.
- Eu mesma escolha a garota?
- Sim! - Bruno estava excitadíssimo para ver o resultado.
Kátia aproximou-se de Bruno e começou a beijá-lo. O garoto ficou muito nervoso e ambos gostaram do beijo. Quando terminaram Bruno perguntou:
- Qual das meninas você escolhe?
- Larissa! - Ketlyn respondeu sem pensar duas vezes.
Larissa era loira, magra com pernas finas. Não era feia, mas também não era bonita. A única coisa que chamava atenção nela eram suas sardas que davam um pequeno charme em seu rosto. Bruno perguntou se ela aceitava o beijo de Kátia e sua resposta me deixou boquiaberto. Larissa disse que sim, pois era bissexual. Até agora era uma lésbica – Ketlyn – e uma descobrindo ser – Kátia. A primeira impressão que tive de Larissa foi ruim, pois ela possuía olhos de peixe morto que davam a ela um “ar” de antipatia. Mas quando começou a falar pude perceber que ela era bastante doce. Quando Kátia começou a beijá-la o grupo percebeu que essa empolgação não aconteceu durante o beijo em Bruno. Acho que todos tiveram a certeza que ela era lésbica, mesmo que ela estivesse em dúvida. O beijo só foi interrompido graças a dois rapazes que estavam distribuindo panfletos de um show de rock. Eles abordaram o grupo e até ficou passando informações acerca do evento. Um deles me entregou o pequeno papel que estava escrito: “Show de rock alternativo”. Como não me interessava muito por esse estilo de música, não compreendia essa expressão “rock alternativo”.
Enquanto lia o panfleto do show, a brincadeira já tinha recomeçado e eu não percebi. Larissa estava respondendo uma pergunta com a seguinte afirmação:
- A melhor posição que se faz com um homem é como fazem todos os animais. Já com mulher é o bom e velho 69. - respondeu a sardenta com um pouco de embaraço.
- Acredito que a melhor posição sexual é o tradicional “papai e mamãe” - falou Bruno.
Ketlyn, assumindo seu papel de líder, pergunta a Kátia qual era sua posição sexual preferida. A resposta da garota foi muito interessante:
- Não sei nem se gosto de homem ou de mulher, imagine de que melhor jeito se “trepa”!
A turma fez um silêncio mortal.

A TV, COMO FAZ BEM FICAR UM TEMPO LONGE DELA




Antes de continuar a postar essa história maluca – Um domingo no parque –, quero comentar sobre algumas coisas engraçadas que vi na TV ultimamente. Não assisto televisão regularmente, mas tive tempo de ver algumas propagandas engraçadas.
1ª) Uma Skol que sai do cu de uma foca. Um naufrágio e um grupo de homens que se recusam a sair do barco sem a caixa de cerveja. No final aparecem em cima de um iceberg com uma foca, que tira a cerveja do cu. Ri muito.
2ª) Não lembro de qual órgão de imprensa, mas uma propaganda que mostrava propagandas antológicas – como, por exemplo, àquela: “Compre batom”. Mas no final da apresentação era dito: “a propaganda não obriga ninguém a comprar nada”. Que mentira!
Mas o que ultimamente tem me divertido muito é o horário eleitoral. A campanha de segundo turno para presidente da república tem atingido um nível tão baixo que não me recordo de algo semelhante. As propostas têm sido postas de lado e a moda é atacar a moralidade do candidato de forma grosseira. Claro! A Marina Silva conseguiu deixar esses candidatos desesperados. O clima de dúvida paira no ar. Não votarei esse turno, visto que estarei isolado do mundo no sertão sergipano. Mesmo achando divertida a troca de insultos eleitoreiros, no final bate um remorso e uma raiva por ser obrigado a votar. Defendo o voto facultativo. Voltarei a postar essa história ficcional escrita no ano passado.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 3]

A primeira garrafa de vinho acaba e começam a jogar a brincadeira conhecida como “verdade ou desafio”; utilizam a garrafa para escolher aleatoriamente as pessoas questionadas. No momento em que começam a jogar o parque fez um silêncio momentâneo, uma daquelas coincidências em que todos ficam em silêncio e é preciso alguém para quebrar a falta de som. Um silêncio incômodo interrompido pela impaciência de Kátia, uma garota de 16 anos que aparenta ser muito recatada e cheia de pudores, no entanto era uma das mais empolgadas no vinho. Tinha os cabelos castanhos mais bonitos que eu já tinha visto, sua pele era clara e seu nariz era achatado, disse que tinha herdado essa característica do pai que era negro. A primeira pessoa que a garrafa escolheu após ser girada foi a própria Kátia. Fez aquela cara de espanto, mas depois do vinho estava disposta a arriscar.
- Verdade ou desafio? - Perguntou Ketlyn.
Ela não se fez de rogada, escolheu verdade. Acredito que ela tinha pensado que Dionísio, o Deus grego do vinho viria ajudá-la. No fundo ela sabia que a morena líder e lésbica não iria poupá-la de uma pergunta ou íntima ou indecente. Ketlyn “não perdoa”:
- Você gosta de homens ou de mulheres? - perguntou como isso fosse a coisa mais natural do mundo. - Ou seja, você acha que é lésbica ou heterossexual?
- Não sei! - responde Kátia com bastante sinceridade.
- Como não sabe? Já ficou com um menino?
- Já!
- E gostou? - Ketlyn pergunta com cara de nojo.
- Sim, mas... - Kátia é interrompida com outra pergunta.
- E com meninas já chegou a ficar?
- Também! - A garota responde com uma sinceridade incomum nesses jogos, pois todo mundo mente nesse tipo de brincadeira.
Foi nesse momento que eu senti uma vontade enorme de ir ao banheiro, não cheguei a ouvir o desfecho da conversa acerca da sexualidade de Kátia. No caminho em direção ao banheiro pude perceber como tinha muita gente no parque. Aquele grupo que eu observava era apenas um entre vários nesse recanto da cidade; quantos “Brunos” metidos a escritores poderiam existir? Será que as outras “Ketlyns” eram tão decidida e tão bem resolvida quanto essa? Quantas “Kátias” estariam descobrindo sua sexualidade agora mesmo? Quando voltei do banheiro a garrafa tinha girado novamente e escolhido, de novo, Kátia, mas dessa vez quem perguntava era Bruno. O garoto achou que era uma oportunidade para paquerá-la e não se fez de rogado.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 2]



Aquela voz me embriagou. O lago, as árvores, as pessoas, tudo desaparecera e só prestava atenção naqueles jovens, principalmente em sua líder. Ketlyn era uma jovem morena, possuía um corpo muito sensual e tinha olhos muito vivos. Ela falava sem nenhuma inibição, freqüentemente mexendo muito os braços. Estava sentada e realmente suas expressões faciais a destacavam no grupo. Conversava com um rapaz enquanto todos prestavam atenção no diálogo. O garoto era Bruno, jovem magro e de pele muito clara, o que dava a ele um aspecto de doente. Já peguei a conversa “andando”, estavam falando de música. Bruno queria escrever um livro com um personagem inspirado em Janis Joplin, só que ele não sabia que essa era a cantora predileta de Ketlyn. Ela falava da cantora com muita excitação; poderia ser também uma excitação sexual, visto que Ketlyn confessara abertamente ser lésbica. Acredito que Bruno achava isso um desperdício.
- Adoro a voz rasgada da Janis! Parece uma gata no cio - dizia Ketlyn tentando imitar a voz da cantora - Adoro ficar nua e a ouvir cantar.
- Eu também gosto dela. Meu interesse é seu aspecto libertário. Gostaria de escrever pensando em um personagem assim. - Falou bruno escrevendo algumas anotações no caderno que estava segurando.
Bruno parecia ser um estudante bastante aplicado e afirmou que suas notas eram boas. Parecia bastante comedido, pois não estava tomando vinho com o resto do grupo. Esse fato foi motivo de piada, pois Ketlyn disse que nunca tinha ouvido falar em um escritor que não bebesse; chegou até a citar o absinto. Ela afirmou que era louca para experimentar a bebida dos poetas. O que eu achava interessante é que Bruno anotava em seu caderno logo depois que Ketlyn falava, com se estivesse anotando suas características para escrever em seu livro. Parecia que Ketlyn era sua musa inspiradora. Ela chegava a influenciar a escrita do colega. E certo momento da conversa Bruno afirmou que a Janis poderia sofrer de um distúrbio “bipolar”, o que irritou Ketlyn:
- A Essa coisa de bipolar é uma modinha que não “cola” falando da Janis; ela era a Joplin e pronto. Tentar rotular a Janis é uma “merda”. Não faça isso em seu livro. - Falou a líder do grupo.
Bastou essa represália de Ketlyn para que a ideia de retratar a Janis como uma pessoa bipolar fosse embora da mente de Bruno. Nesse momento, um vendedor de pipocas passa perto de onde estávamos e faz muito barulho com seu anúncio; isso interrompe a conversa por alguns minutos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 1]



Era exatamente cinco horas da tarde quando cheguei ao parque. Ele era um daqueles recantos da cidade em que alguns abastados freqüentavam para relaxar da semana de trabalho. Era realmente agradável. Esse parque ficou conhecido por abrigar nos finais de semana as mais diversas “tribos”; pessoas que gostavam de vários estilos musicais, e de todas as idades. Tenho sempre um lugar que gosto de ficar e logo fui procurá-lo, mas dessa vez ele estava ocupado por um grupo de cinco jovens. Era um espaço embaixo de um pé de tamarindo, um abrigo natural com uma grama incrivelmente verde e livre de insetos, mas estava ocupado. Pensei em ir embora, mas não iria perder meu domingo no parque. Não fiquei no lugar desejado, porém bem próximo, de modo que podia ouvir os jovens perfeitamente. Desse lugar podia-se observar o lago do parque e um lindo jardim com flores muito avermelhadas e todas as pessoas que faziam caminhadas, contudo meu interesse se voltou para a conversa dos cinco amigos que estavam perto de mim. Não que eu fosse bisbilhoteiro e nem estava interessado em ninguém daquele grupo, mas a voz de um dos jovens começou a chamar minha atenção. Era de um timbre muito bonito, parecia alguém do rádio, uma voz que parece ser muito convincente e decidida ao falar. Logo percebi que era uma espécie de líder do grupo e que possuía a fenomenal capacidade de controlar situação e as pessoas ao seu redor; tinha um forte espírito de liderança. Descobri que seu nome era Ketlyn.

sábado, 23 de outubro de 2010

O PARENTE INSISTENTE FOI EMBORA - O PRIMO BASILIO



Até que enfim! O parente insistente foi embora. Tem uma semana que terminei de ler o livro e só agora posto sobre ele. Da metade dessa obra para o final, as chantagens de Juliana se tornam freqüentes, como já tinha escrito antes. Contudo, um dos pontos altos da trama está quando, ainda no capítulo dez, ela vê uma notícia no jornal que Castro, o milionário iria se mudar. Castro, aquele que Leopoldina – creio que a única feliz nessa história – ofereceu como a solução de seus problemas: vender seu corpo em troca do dinheiro para pagar a empregada. Nesse ínterim, Juliana chega a dizer: - “Quem manda agora sou eu”. Luísa, com a ajuda da devassa e feliz Leopoldina, consegue um encontro com Castro, mas quando iam consumar o fato, a adúltera cheia de moralismo volta atrás.
Os problemas de Luísa aumentam quando Jorge chega a casa e encontra Juliana deitada lendo o jornal enquanto Luísa trabalha. O marido começa a ser irônico chamando Juliana de ama e mestra. É nesse capitulo – XI – que Jorge se irrita e manda Juliana ir embora; começa uma discussão sem precedentes na história. A empregada vai ter com a patroa e chega a chamá-la de puta. A cozinheira Joana defende a patroa e dá um tapa na cara de Juliana. A situação estava insustentável, a solução de Luísa foi contar tudo a Sebastião, que resolve ajudar.
Sebastião foi decisivo para que a história do adultério de Luísa não viesse a tona e se tornasse um escândalo. Pede para ficar a sós com Juliana. Luísa de Jorge vão ao teatro. Sebastião vai com um policial até a casa de Luísa para meter medo em Juliana. Bastou a ameaça de prisão que Juliana entregou as fotos a Sebastião, porém ela ameaçou contar a Jorge mesmo assim, porém Sebastião ameaçou denunciá-la como ladra de roupas e jóias da patroa. Nesse instante a empregada passa mal e morre.
Mesmo com a morte de Juliana, a saúde de Luísa piora. Tem uma espécie de febres cerebrais. Nesse momento do livro – capítulo XIV – Basílio manda uma carta para Luísa de Paris. Jorge abre essa correspondência e descobre tudo. Desabafa com Sebastião, mas continua a cuidar da esposa.
Quando Luísa teve certa melhora, o marido traído entrega a carta à esposa adúltera que desmaia imediatamente. Daí a doença piora e Luísa chega a óbito.
No último capítulo e um mês depois da morte de Luísa, Basílio chega à Lisboa e sabe da morte da ex-amante. Tem lembranças irônicas do romance de verão que teve com sua prima.
Espero, agora, fazer um comentário geral da obra em uma postagem posterior. Mas já estou com saudades desse livro. O romance que estou lendo chama-se “A outra volta do parafuso” de Henry James. É uma história de terror.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

UMA DOCE LEMBRANÇA



Uma recordação povoava minha mente enquanto observava algumas fotos. Lembrei claramente de um fato ocorrido quando possuía apenas sete anos de idade, ou seja, a 18 anos atrás. Estava em 1992 a assistir o programa que Gugu apresentava – isso mesmo, a programação de outrora também não era diferente. Esse insuportável apresentador estava fazendo mistério com um livro. Minha mente de criança estava sendo atacada por um mistério que rondava aquele livro. Era o livro Sex, com fotos eróticas de Madonna, lançado pela Warner juntamente com o álbum Erotica. Rainha dos escândalos e polemicas que deixam a ridícula da Paris Hilton no chinelo – nossa! Não dá nem para comparar. Madonna atacava diretamente os costumes moralistas de sua sociedade e a Igreja católica – ela que estudou em colégios de freira – e ainda prega aliberdade sexual.
No programa de Tv Apresentado por Augusto Liberato, alguns pedaços das fotos do livro acabaram sendo mostradas, acho intencionalmente, pelo cinegrafista. Como fiquei curioso por ver essas fotos. Com uma capa dourada e edição de couro, era extremamente atraente. Fato: só hoje, 18 anos após aquele evento infantil excitante, pude ver o ensaio completo das fotos. Agradeço a internet.
Lembro que as fotos foram um verdadeiro escândalo na época. Mas os conservadores anos 90 nos deixaram essa pérola. A frase que começa o livro: I’ll teach you how to fuck. Traduzam!
Com fotos de lesbianismo, sex hardcore, lickass, sadomasoquismo e todas as possibilidades sexuais, Madonna também conta suas fantasias sexuais (as mais lascivas) em partes escritas. Curioso que ícones das celebridades participam com ela: Naomi Campbell, Isabela Rosselini, etc.
Não colocarei nenhuma foto do ensaio, pois vários dos visitantes do blog não possuem a faixa etária correspondente. Nem colocarei link nenhum. Contudo, como minha mente foi visitada por lembranças de minha infância, não faço comparações com a Madonna de hoje, mas apenas agradeço a ela pela boa noite de sono que terei depois de observar aquelas fotos.

domingo, 17 de outubro de 2010

DOMINGO, FEIRA, WOODY ALLEN

Até hoje só tinha assistido três filmes de Woody Allen – pela ordem assistida: Scoop (2006), Zelig (1983) e Vicky Cristina Barcelona (2008). O filme de 1983 assisti em casa, graças ao meu amigo japonês, os outros tive o prazer de assistir no cinema. Esse domingo fui à feira para comprar o novo filme de Allen (o quarto que assito desse diretor). Como já tinha informado nesse blog, os filmes estão sem a legenda em português, fato que obriga assistir-los dublados. Geralmente assisto em inglês, pois tenho alguma habilidade nessa língua, contudo um “Woody Allen” requer um nível muito alto na língua inglesa, visto que a linguagem é muito rebuscada. Fiquei extremamente feliz ao assisti o filme dele esse domingo: “Tudo pode dar certo”(2009). Dei muitas risadas com essa pérola do cinema contemporâneo. Com esse filme ele volta a sua cidade natal (NY) depois de fazes filmes em outros países. Ele não atua, mas o papel principal é explicitamente inspirado nele. Pequeno resumo do filme:
Um físico chamado Boris, que concorreu ao premio Nobel e não ganhou, tem a mania de se isolar e fala da vida de uma forma muito direta e realista, se tornando uma pessoa insensível ao extremo. Sua vida muda quando ele conhece Celestine, de 17 anos, vinda do interior e ignorante segundo Boris. Casa com ela. Até que um dia, do nada, a mãe da garota aparece por lá. Igualmente sulista, desacostumada com a cidade grande e bastante religiosa, ela desaprova o casamento e parte atrás de um partido melhor para a sua filha. Na sua busca, acaba também ampliando os seus horizontes sobre a cidade e si mesma. Caminho que depois será percorrido também pelo pai de Melody, que também chega a Nova York para se descobrir e entender o que é ser feliz.
Com um roteiro muito bem articulado, fazendo com que o observador, que nesse filme interage com os personagens, fiquem presos as vicissitudes dos personagens. O final é feliz, mas as críticas feitas a sociedade, principalmente à americana, deixam uma insatisfação muito grande em que assiste. As risadas são dadas como uma saída ao pessimismo do personagem principal que, mesmo com um final aceitável feliz, não perde seu senso crítico. Um bom filme para um Domingo que ao foi muito bom. Senti dores de cabeça, fiquei com os sentimentos extremamente abalados e não ensaiei com a banda no final de semana. Estou pessimista.


sábado, 16 de outubro de 2010

AINDA CONTINUO COM ESSE PARENTE EM CASA - O PRIMO BASÍLIO



É um livro longo, mas não me canso. Tenho a mania de fazer leituras de vários livros ao mesmo tempo, mas com focos diferentes. Como já sabem estou lendo Foucault, como Filosofia e artes, e em literatura estou lendo O primo Basílio, que escrevo minhas impressões nessa postagem.
A partir do Capítulo VII, Luísa vai percebendo o esfriamento de Basílio e enfrentam a primeira discussão. Em uma das partes do livro a discussão termina em uma tórrida transa regada a muitas lágrimas. Um trecho chamou muito minha atenção, pois já fiz a mesma coisa e gostei muito: Basílio ensina Luísa como se deve beber champanhe – “ tomou um gole [...] e num beijo passo-o para a boca dela. Luísa riu muito, achou divino, quis beber mais assim”.
Essa é a metade do livro e o rumo dos acontecimentos mudou radicalmente a partir daí. Luísa ia ao seu encontro diário quando encontra o Conselheiro no caminho que a faz perder o horário com Basílio,chega em casa furiosa e encontra Juliana arrumando o quarto. Uma briga ferrenha começa e até uma vassoura é arremessada. Juliana, a empregada que odeia seus patrões explode:
“- Que as cartas que a senhora escreve aos seus amantes, tenho-as eu aqui!
Luísa desmaia.
Seu primeiro pensamento foi em fugir com Basílio. Quando ela propõe isso ao amante ele nega, pois para ele bastava dar dinheiro a empregada. A verdadeira personalidade de Basílio vai sendo apresentada durante o capítulo VIII. Ele encarava Luísa como mais uma amante. Juliana pede 600 mil réis a patroa.
As ameaças de Julia na começam no capítulo IX. Basílio já tinha saído da cidade e Luísa escreve para lhe pedir o dinheiro; ele não responde. Jorge está para voltar e pede para Juliana que não conte nada a seu marido, que iria arranjar o dinheiro. Depois de um sonho com o marido ele realmente acaba voltando ainda nesse capítulo.
Nos capítulo seguinte (cap. X), as chantagens de Juliana aumentam e até Jorge percebe a mudança no trato com a empregada. Juliana muda de quarto, ganhou roupas novas e até uma cômoda. A fama de empregada cheia de presentes se espalha por Lisboa que até ofertas de serviços foram enviados para a casa. No meio da prosperidade de Juliana Luisa definhava e sua tristeza aumentava a cada dia.
Juliana começava a deixar a casa de mão – o desleixo da empregada tomou gravas proporções. Jorge lançou uma camisa mal passada na cara de Juliana que lançou um olhar mortal para Luísa.
A situação estava insuportável. Luísa foi a casa de Leopoldina para se aconselhar. Solução de Leopoldina: pedir dinheiro ao Castro em troca de serviços sexuais. Luísa retrucou violentamente.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

NÃO TRABALHO COMO CURADOR DE EXPOSIÇÕES ARTÍSTICAS, MAS ...



A terceira parte do livro de Foucault é interessantíssima e fundamental para entender o panorama da pintura ocidental. Uau! Como estou empolgado com esse livro! Pesquisem a autoria dos quadros nas imagens dessa postagem.

III – KLEE, KANDINSKI, MAGRITTE
Nessa terceira parte do livro – Isso não é um cachimbo –, Foucault apresenta os dois princípios que predominaram sobre a cultura ocidental e, respectivamente dois artistas que romperam com esses dois princípios.
v Primeiro princípio: separação entre imagem e texto.
A representação mental de um gato visto em uma tela de pintura pode ser a mesma ao ler os sinais gráficos G-A-T-O. Porém, Foucault exprimiu que há uma espécie de hierarquia indo “da forma ao discurso ou do discurso à forma” e que “o signo verbal e a representação visual não são jamais dados de uma só vez”. É nessa perspectiva que o autor irá afirmar que Paul Klee vai abolir esse primeiro princípio, visto que em suas obras ele apresenta espaços incertos, justaposição de figuras e as sintaxes dos livros.
v Segundo princípio: equivalência entre o fato da semelhança e a afirmação do laço representativo (Isto é isto).
Ao observar um quadro de Rembrant é possível que haja essa pergunta: o que é isso? A possível resposta: é uma aula de anatomia. É um vício, ou hábito que tem fundamento segundo o autor francês. Contudo, em uma obra abstrata a resposta se complica. Daí a afirmação de Foucault que Kandinski rompe com esse segundo princípio.
Magritte está aparentemente distante de Klee e Kadinsky, mas um sistema lhes é comum: uma figura pode ser oposta e até mesmo complementar.




quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CALIGRAMA DE MAGRITTE SEGUNDO FOUCAULT



Os quadros de Magritte que Foucault vai analisar podem ser observados na postagem anterior. Ao comentar acerca da primeira versão (a que possui apenas um cachimbo) o autor afirma que ela é simples, pois o cachimbo representado não é o objeto, mas a representação dele, isto é, as letras desenhadas no quadro corroboram com a idéia do desenho.
É nesse ínterim que Foucault vai tratar acerca do caligrama. Fiquei curioso acerca dessa forma poética desconhecida por mim. Lembrei da poesia concreta, mas percebi que é diferente. Caligrama é uma espécie de pictograma. Analisando morfologicamente: picto vem de imagem e grama de grafia, ou escrita. Dessa forma, leva a crer que é uma junção entre a imagem e a escrita ou, até mesmo, escrever formando imagens. Na foto dessa postagem está uma caligrama de Apollinare, o primeiro a utilizar a palavra caligrama no séc. XX. As vanguardas do início do século citado anteriormente acabaram popularizando esse tipo de escrita/grafismo. O design do texto complementa seu sentido.
Segundo Foucault, o caligrama possui um tríplice papel:
Ø Compensar o alfabeto.
Ø Repetir sem o recurso da retórica.
Ø Prender as coisas na armadilha de uma dupla grafia.
Cito o autor francês: “Acuando duas vezes a coisa de que se fala; por essa dupla entrada, garante essa captura, pois o discurso por si só e o desenho não são capazes”.
No caso da tela de Magritte, o desenho do cachimbo prolonga a escrita e completa o sentido que está faltando. Dessa forma, segundo Foucault, o texto desenhado do pintor belga é duplamente paradoxal: 1) pretende nomear o que não tem necessidade de sê-lo e 2) no momento em que deveria nomear faz uma negação – isso não é um cachimbo.
São três as interpretações do enunciado desenhado com letras cursivas na tela da primeira versão de Magritte:
I. Isto (o desenho do cachimbo) – não é – um cachimbo.
II. Isto (o próprio enunciado desenhado na tela) – não é – um cachimbo.
III. Isto (o conjunto constituído por um cachimbo em estilo caligráfico e por um texto desenhado) não é um cachimbo (elemento misto que depende do discurso e da imagem) – não é um cachimbo.
“Magritte quer reconstituir o lugar-comum à imagem e à linguagem”. Existe uma série de negações – quadro, a frase escrita, o desenho do cachimbo – em que tudo não é um cachimbo. Curiosidade apontada por Foucault: as letras cursivas lembram a de um mestre que está ensinando uma turma a escrever.
Já estou ansioso pela próxima postagem em que comentarei esse livro, pois Foucault irá comparar as obras de Magritte com Paul Klee e Kandinsk. Esses dois últimos citados foram estudados em algum momento na minha graduação em filosofia. Se minha memória não estiver falha, é Walter Benjamin quem analisa Klee. Com relação a Kandinsk, estudei sobre a relação entre a mística e a arte abstrata.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

CECI N'EST PAS UNE PIPE - SE NÃO ENTENDEU LEIA A POSTAGEM, SE ENTENDEU LEIA TAMBÉM




FOUCAULT, Michael. Isto não é um cachimbo. Trad:Jorge Coli. Rio de Janeiro: Paz e terra, 2008.
Prometi escrever sobre o caligrama na última postagem, porém Foulcaut só irá tratar dele na segunda parte de seu texto. Apenas irei fazer o fichamento da primeira parte de seu texto em que o autor vai apresentar as duas obras de Magritte. As imagens das duas obras do artista surrealista belga estão aqui nesta postagem.
1º) O quadro tem um cachimbo com uma frase: Isso não é um cachimbo.
2º) Essa versão tem o mesmo cachimbo e o mesmo enunciado. Contudo, o texto e figura do cachimbo estão dentro de uma moldura, que repousa em um cavalete sobre tábuas. O curioso dessa versão é que existe a presença de outro cachimbo fora da moldura – flutuando – e bem maior que o outro.
Pode-se observar nas imagens dessa postagem e perceber as diferenças das duas versões.
Cito Foucault: “A primeira versão só desconcerta pela sua simplicidade. A segunda multiplica visivelmente as incertezas involuntárias.”
É nesse ponto que a análise do francês irá se aprofundar, visto que o quadro que traz dois cachimbos é que traz incertezas em contraposição ao outro que é simples. Foulcault afirma que o espantoso é a diferença entre os dois cachimbos da mesma figura:
§ O cachimbo que está dentro da moldura possui parâmetros espaciais (largura, altura, profundidade); “estável prisão”.
§ O cachimbo que paira no alto não tem coordenadas.
Um outro questionamento do filósofo é acerca do cavalete que segura a moldura com o cachimbo estável, pois só possui superfície de contato por três pontas finas. Será que o cavalete iria cair com sua tela? O que está no assoalho rústico de madeira está desordenado enquanto o cachimbo que flutua está imóvel e inacessível?
Com essas considerações, Foucault inicia seu livro apresentando os dois cachimbos e, agora sim, irá apresentar o que ele chama de caligrama tão esperado na postagem anterior, contudo esperarei para falar dele na próxima postagem.

domingo, 10 de outubro de 2010

SONHO, MAS NÃO CONSIGO LEMBRAR. SOLUÇÃO: VEJO UMA OBRA SURREALISTA



Sempre gostei de apreciar os quadros surrealistas que se apresentavam nos livros. Confesso que o surrealismo no cinema não me é muito atraente, mas entendo sua proposta. Esse movimento vanguardista ocorreu nos campos artísticos e literários do início do século XX, sob influência das teorias de Freud – a “descoberta” do inconsciente. Escrevo sobre o surrealismo porque comecei a ler um livro que discute uma obra de arte surrealista. Nome do livro: “Isso não é um cachimbo” de Michael Foucault. Sim! Foucault, que é citado no filme recordista de bilheteria pirata Tropa de Elite. Iniciei a leitura desse livro e tenho que ter noções sobre o movimento surrealista. Entendo que o surrealismo está associado a “descoberta” do inconsciente, visto que o racionalismo “consciente” impediria a produção livre do pensamento. Deve-se partir para além da lógica e expressar mundo do inconsciente e, até mesmo, dos sonhos. Nas últimas semanas assisti um dos filmes emblemáticos do surrealismo, produzido também por ícones desse movimento: Um cão andaluz, de Luiz Buñuel e Salvador Dalí.
Ao pesquisar sobre o surrealismo obtive uma informação muito interessante: “OS SURREALISTAS REJEITAM A CHAMADA DITADURA DA RAZÃO E VALORES BURGUESES COMO PÁTRIA, FAMÍLIA, RELIGIÃO, TRABALHO E HONRA”. Isso me interessa muito, visto ter uma visão acerca do ser humano contra uma existência utilitária.
Foucault irá analisar dois quadros de um dos principais representantes do surrealismo: René Magritte. Porém, foi necessário ter voltado uma leitura básica sobre o surrealismo. Outra necessidade, para adentrar com propriedade no livro de Foucault, é ter conhecimento sobre o que seja Caligrama. Como fiquei curioso sobre o caligrama, mas sobre isto deixarei para a próxima postagem.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

ESBOÇO DE UMA ANÁLISE DA POESIA DE SANTO SOUZA



A análise de A construção do espanto (1998) pode ser dividida como a própria divisão do texto feita pelo autor.
1 – Nos portões do abismo
É nesse trecho inicial que o autor exprime o sentimento de angústia da limitação humana frente aos limites impostos pela linguagem e pelo conhecimento do inacessível.
Mas resta a esfinge. E a nossa angústia, ao ver
a porta sempre aberta à ventania
da eterna indagação do acontecer
na treva indevassável, a agonia
ante o enigma maior – ser ou não ser,
com que a argúcia de Deus nos angustia.
(Souza,1998,p.14)
A esfinge representa o que há de misterioso ou o que precisa ser descoberto para a jornada órfica ser continuada. A angústia é sentida quando o enigma é proposto e só é dissipado quando resolvido; a esfinge atira-se no precipício. É o ritual de iniciação em que o poeta Santo Souza propõe no início do livro: vencer a esfinge em seu enigma. Contudo, ao vencer a esfinge é Orfeu ou os mistérios órficos que entram em cena:
E após abrir os portões do abismo,
Orfeu penetra seu falo de luz
No escuro de seu ventre, ó noite...
(Ibidem,p.15)
2 – Noite inaugural
O poeta sergipano inicia essa segunda parte do poema fazendo uma crítica à civilização que roubou a beleza natural das coisas, porém dois símbolos utilizados chamam atenção pela sua recorrência em obras anteriores. O primeiro é a rosa, cujo simbolismo remete a pureza inicial da palavra, ou seja, o iniciado deve cultivar a palavra para que não perca o frescor e exale o perfume do jardim do poeta. O segundo símbolo é o do espelho – essa referencia simbólica é bastante importante para a construção do imaginário poético de Santo Souza. O espelho precisa estar intacto, como a rosa, para que a tentativa de enxergar o reflexo do real possa ser mais nítida. A imagem projetada no espelho é uma imagem invertida do real, mas ela serve como referência mais próxima, por isso necessita estar límpido. O espelho quebrado representa o rompimento com a tradição que precisa ser refeito:
Partiram-nos o espelho, e o imediato
trabalho que nos resta é recompô-lo,
reter-lhe a simetria em nossas mãos,
dar-lhe contorno, luz e densidade,
subtraí-lo da noite e penetrar
sem medo e ousadamente em seu reflexo,
para arrancar de dentro nossas faces,
nossos olhos insones, nossos mortos,
o som das nossas músicas antigas...
(Ibidem,p.25)
A interpretação desse símbolo – espelho – tem como base a psicologia. Ela cita Karl Sheibe e apresenta três propriedades simbólicas:
I. Refletir e registrar informações; uma maneira de produzir conhecimeto.
II. Gerar autoconhecimento, pois o indivíduo se enxerga nele.
III. Refletir a história da humanidade; reflete o passado.

Recompor o espelho, então, significa também reconquistar essa perda: o conhecimento do mundo, o de si mesmo e o da história. .

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ANTÔNIO CARLOS VIANA - NO MEIO DO MUNDO - LITERALMENTE


Nas segundas-feiras não trabalho durante o dia. É o dia da semana que utilizo para resolver pendências; se não houver utilizo como dia de lazer. Vou ao mercado central comprar meu queijo, beber uma dose de “milone” etc. Como também já é de costume vou aos sebos “populares” – isso mesmo, existe sebo (venda de livros usados para elites – da capital. No sebo “Dinossauro” encontrei um livro de contos de Antônio Carlos Viana. Há tempos vinha tentando ler algo desse autor, a procura se intensificou quando participei da palestra apresentada por ele sobre o poeta João Cabral de Melo Neto. Nome do livro: “ O meio do mundo e outros contos” pela Companhia das letras. Como é característico desse gênero literário, o talento do autor é expresso na habilidade de segurar o leitor até o final de sua narrativa. Além dessa característica, Viana apresenta em seus personagens características que fazem deles – explicitamente – universais. Eventos traumáticos ou que representem um ritual de iniciação são comuns nos contos desse livro.
Sempre elejo os contos que mais me chamam atenção, da mesma forma que as cenas dos filmes, dessa vez foi o conto: “O dia em que Céu casou”. O narrador personagem é o irmão da noiva (céu) que se vê metido nos preparativos para o casamento da irmã. Esse garoto dorme na mesma cama com outra irmã e o quarto de Céu está sendo preparado para as núpcias. Ela iria casar com um agrônomo da capital para felicidade da família, só a avó reclama por achar ela novinha demais. Os primos do garoto informam o que iria acontecer à Céu na noite nupcial – fica com pena da irmã. Sem delongas, visto ser um conto, na noite aguardada, após o casamento, o garoto acorda grudado com sua irmã, tinha ejaculado. Os eventos desse conto são tão cativantes que o final dessa história leva a pensar um ser humano desprovido das amarras sociais. Ao mesmo tempo o personagem central vai aprendendo seu lugar na sociedade. Como voltei a Le “Eros e civilização – uma interpretação filosófica do pensamento de Freud”, os conceitos de Princípio de realidade e Princípio de Prazer vêm à tona quando li o livro de Viana. Freud fica para outra postagem.

Todo mundo odeia o Cris


Everybody hates Cris ou Todo mundo odeia o Cris é um sitcom americano que conta a infância do comediante Cris Rock. Uma curiosidade sobre a série é que seu nome é uma referência a outra série de grande sucesso: Everybody loves Raymond.
A história começa com Cris Rock em seu primeiro dia de aula numa escola muito afastada de sua casa e que é freqüentada por brancos. E assim a história se leva com as venturas (muito cômicas, por sinal) de Cris e sua família. Embora grande parte do humor da série se deve a piadas sobre diferentes raças (como, por exemplo, piadas sobre brancos, negros e asiáticos). O seriado consegue arrancar risadas com referências e críticas a grandes personalidades americanas e a cultura americana em si.
Um pequeno resumo dos personagens principais:
· Cris: é um típico nerd dos anos 80, não é popular, não é bom em esportes e apanha na escola. Sempre que tenta fazer algo dá errado e ele sempre se dá mal.
· Julius: é o patriarca da família, e meu personagem preferido. É pão-duro e sempre tenta economizar. É controlado por sua mulher.
· Rochele: a matriarca da família; vive batendo e gritando com seus filhos. Ela é o que Cris classifica como pobre e soberba, já que gosta de passar a idéia de que é rica para as pessoas.
· Drew: é o irmão mais novo de Cris, mas mesmo assim parece ser mais velho que ele, além se ser maior, mais popular e melhor em esportes.
· Tonya: e a irmãzinha “pestinha” de Cris e Drew. Vive entregando e importunando Cris.
Com narração do próprio Cris Rock (o que rende tiradas rápidas e engraçadas) e uma trilha sonora que vai de Michael Jackson à Ozzy Ousbourne, Everybody Hates Cris agrada qualquer tipo de público.
E como diz a música no final de cada episódio:
Everybody hates Cris...
( Por João Vítor Garrido)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

ALUNO POETA

O amor

Sem o amor não tem como viver
Porque quando começamos a ver
Uma pessoa bonita
Pensamos que ela é uma margarida
Pois o amor é lindo
Porque sem o amor não vivemos sorrindo
E nem seguimos em frente
Pois quem ama é muito valente
Se você nunca amou tem que tentar
Porque amando você vai se expressar
Pois é tão lindo que não vai mais querer parar
O amor é tudo na vida
Sem pagar nenhuma dívida
O amor é sem fronteira
Quando pensa em amor não pensa em besteira
O amor é tudo na vida
O amor é irmão da paixão
Que são filhos do coração
Pois já me apaixonei
Enquanto senti isso gostei
Pois quando você sentir
Vai viver a sorrir
E eu digo a você que o amor é lindo.
(JOHN WILLIAM, sexto ano do ensino fundamental)

domingo, 26 de setembro de 2010

AMÓS OZ - FINALMENTE!

“Os nossos inimigos trocaram a máscara, mas sempre nos atormentam. Todas as nossas festas nos mostram isso. Sempre os mesmos inimigos, e a mesma guerra continua quase sem interrupção.”

Essa é uma citação do livro “Sumri”, do escritor israelense Amós Oz. Li essa obra por inteiro nessa manhã de Domingo. Gostaria de fazer uma co-relação da citação acima – retirada do final do livro – com outra do início:

“Tudo se troca ou muda. [...] Por sinal, enquanto falamos e discutimos essas coisas, o mundo ao nosso redor segue, também ele mudando. [...] Tudo.”

Voltarei a comentar essas duas citações. Agora quero demonstrar minha felicidade ao terminar de ler esse livro. Há tempos que procurei obras desse autor. Achei muito na internet, mas odeio ler em uma tela luminosa. Certa vez encontrei em uma livraria, mas não comprei por ter esquecido meu contracheque para receber desconto. Minha curiosidade sobre o autor foi despertada por uma referencia feita no programa “Entrelinas”, visto que o autor é engajado no movimento pacifista no Oriente Médio. Ganhei uns livros sábado pela manhã, e “Sumri” estava entre eles. Dei um grito contido para exprimir minha felicidade.

Resumo da história de 72 páginas: Um garoto chamado Sumri, cheio de imaginação, tem o desejo de pôr o “pé na estrada” e conhecer o mundo. É apaixonado por Esti, que só consegue atazanar a vida dela. Possui um tio chamado de Jacó que serve de inspiração para sua vida. Esse tio lhe dá presentes estranhos, que atiçam ainda mais a imaginação do garoto. Quando ganhou uma bicicleta de seu tio tentou colocar seu plano em prática, mas a viagem de seus sonhos ficou apenas no plano imaginário.

A verdadeira viagem do personagem se dá na imaginação. Durante a narrativa, feita pelo narrador-personagem, as histórias de lugares exóticos como, por exemplo, a África e o Egito, são postas como desejo do personagem. O apelido de Sumri é “menino louco”. A bicicleta ganha era considerada feminina, mas ele não liga, quer por seu plano em prática e não ficar só no campo das idéias. Seus planos vão por “água-a-baixo” quando resolve ir, antes de sua viagem, à casa de seu amigo Aldo. Esse colega propõe uma troca: a bicicleta por uma parte de um trem elétrico. Sumri imediatamente imagina esse seu trem passando por vales da Namíbia... Aceita a troca e volta para casa com seu trem em uma caixa. Seu inimigo, Goel, valentão da cidade, interpelou Sumri e praticamente obrigou o garoto a trocar seu trem por cachorro. Caso a troca não fosse feita, Goel iria entregar a Esti a caderneta de Sumri com poemas de amor endereçados a ela. Não teve opção, trocou.

Na volta para casa o cachorro (que na imaginação de Sumri se converte em lobo) se solta e o garoto se vê num dilema: como explicaria aos pais o sumiço da bicicleta? Entre várias opções resolve ir para casa portando nas mãos um apontador qu achou nas mãos – pelo menos não estava de mãos vazias. Ao chegar ao lar apanha do pai por não dar explicações e, agora sim, foge de vez de casa. Fica em uma rua quase chrando quando o pai de Esti o encontra. Inventa uma história e vai para a casa de seu grande amor.

Não contarei o resto da trama que esse inventivo autor israelense no traz, visto ser isso apenas um atrativo para a leitura.

Volto às citações feitas no início da postagem.

Num universo completamente diferente (tradição judaica) e num calendário diferente (os meses, relacionados aos ciclos da lua, são um pouco menores e, por isso, certos anos tem treze meses), essa história tem como pano de fundo a cultura judaica e toda sua dificuldade histórica de se encontrar no mundo. As citações do texto de Amós Oz , antes de apresentar problemas filosóficos, demonstram a perenidade que a guerra se faz na cultura desse povo. Contudo, o autor mostra a solução para isso:

1 – A imaginação: Sumri, mesmo metido em problemas voa em sua imaginação pueril.

2 – O amor: O sentimento que tem por Esti conduz a uma mudança de comportamento exposta no final do livro

Tudo muda, mas algo permanece. Se for guerra para os judeus do Oriente Médio que permanece, ela pode ser transformada e sublimada através da imaginação e do amor. Como sou feliz nesse domingo, como fui feliz nessa semana em que, como o personagem de Amós Oz, fugi e não sou mais o mesmo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SEM ÁLCOOL OU COM ÁLCOOL

Alguma coisa mexe com meu cérebro. Será o álcool interferindo em minhas sinapses nervosas? Espero que não, mas lembranças de tempos anteriores em que a única preocupação era passar nas matérias da universidade povoam minha mente nessa nostálgica semana. Parece que nada mudou. Sim! Nada mudou, porém ao acordar percebo que algumas coisas não são mais as mesmas. Paradoxal? Não é efeito do álcool. É difícil expressar a felicidade não mais saudosista que invade meu peito; exprimir sensações que só entenderão quem as viveu. Mas na limitação das palavras, quero dizer algo: amo. Posso dizer sem reservas que amo algumas pessoas. Não é um puro devaneio. Acordarei daqui a algumas horas e estarei sentindo o mesmo.
ACHO QUE SÓ ALGUMAS PESSOAS – SELECIONADAS A DEDO – ENTENDERÃO O QUE ESCREVI.