sábado, 6 de novembro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 5]



Durante a minha ida ao banheiro meus pés se encheram de areia, mas como estava andando rápido para não perder o resto da conversa, não liguei. Agora essa areia estava começando a me incomodar. Tive que me ausentar mais uma vez para lavar meus pés em uma torneira próxima ao posto policial do parque. Quando voltei a brincadeira da garrafa tinha acabado e estavam discutindo sobre música. Ketlyn estava fumando de uma forma tão sensual que tive vontade de paquerá-la. Era uma Brigitte Bardot; muito linda! Não conseguia tirar o olhar dela, até que ela percebe e me encara. Desviei o olhar, mas acho que ela acredita que eu estou não só prestando atenção nela, mas em toda a conversa. Desse momento em diante, ela começa a me encarar de forma ameaçadora, e tive que aguçar mais o ouvido para continuar a ouvi-los. Comecei a refletir sobre meu papel naquele momento. Será que eu era um fofoqueiro e não sabia? É muito raro alguém acusar outro de fofoqueiro, a não ser que a vítima em alguma ocasião de raiva “exploda”. Como ninguém tinha me acusado de fofoqueiro, fiquei pensando. Acho que não sou bisbilhoteiro; mas porque aquele grupo chamou minha atenção? Eu estava realmente xeretando toda a conversa e a julgar todos do grupo. Bom, só naquele momento eu assumo ser fofoqueiro. Voltemos às peripécias dos jovens que estou a observar.
Não falei de uma garota chamada Samara, essa realmente era a mais discreta daquele grupo. Era negra, estava vestida de preto e fumava. Ketlyn perguntou a ela se tinha trazido canabis – a velha maconha – mas Samara disse que isso era coisa do passado que a “onda” agora era outra coisa. Realmente eu não entendi o que ela quis dizer. A líder lançou outra pergunta:
- Você ainda dorme em cemitérios? – ao fazer essa pergunta Ketlyn fica com uma cara muito cínica.
- Não! – Samara responde de maneira seca.
- Então você assume que já dormiu antes? – Ketlyn realmente era muito ardilosa.
- Na verdade eu nunca dormi. – Samara percebe que tinha caído em uma pergunta falaciosa de Ketlyn.
Pelo desenrolar da conversa, Samara era uma “dark”, ou uma gótica; realmente não sei distinguir essas duas coisas. Eles retomam a conversa sobre música e essa garota vestida de preto chega a comentar sobre Bob Dylan. Um aspecto que me chamou atenção sobre aqueles jovens foi a liberdade que eles tinham em comentar acerca de suas sexualidades. Samara, por exemplo, viu um rapaz que fazia uma caminhada pelo parque e logo expressou sua vontade em fazer sexo com ele. Acho interessante como as pessoas se interessam pela sexualidade das outras, mesmo que não esteja interessado “o povo fala mesmo”. Acho que Ketlyn estava dando umas investidas em Samara, mas esta não percebeu ou se fez de despercebida.



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