quinta-feira, 14 de outubro de 2010

CALIGRAMA DE MAGRITTE SEGUNDO FOUCAULT



Os quadros de Magritte que Foucault vai analisar podem ser observados na postagem anterior. Ao comentar acerca da primeira versão (a que possui apenas um cachimbo) o autor afirma que ela é simples, pois o cachimbo representado não é o objeto, mas a representação dele, isto é, as letras desenhadas no quadro corroboram com a idéia do desenho.
É nesse ínterim que Foucault vai tratar acerca do caligrama. Fiquei curioso acerca dessa forma poética desconhecida por mim. Lembrei da poesia concreta, mas percebi que é diferente. Caligrama é uma espécie de pictograma. Analisando morfologicamente: picto vem de imagem e grama de grafia, ou escrita. Dessa forma, leva a crer que é uma junção entre a imagem e a escrita ou, até mesmo, escrever formando imagens. Na foto dessa postagem está uma caligrama de Apollinare, o primeiro a utilizar a palavra caligrama no séc. XX. As vanguardas do início do século citado anteriormente acabaram popularizando esse tipo de escrita/grafismo. O design do texto complementa seu sentido.
Segundo Foucault, o caligrama possui um tríplice papel:
Ø Compensar o alfabeto.
Ø Repetir sem o recurso da retórica.
Ø Prender as coisas na armadilha de uma dupla grafia.
Cito o autor francês: “Acuando duas vezes a coisa de que se fala; por essa dupla entrada, garante essa captura, pois o discurso por si só e o desenho não são capazes”.
No caso da tela de Magritte, o desenho do cachimbo prolonga a escrita e completa o sentido que está faltando. Dessa forma, segundo Foucault, o texto desenhado do pintor belga é duplamente paradoxal: 1) pretende nomear o que não tem necessidade de sê-lo e 2) no momento em que deveria nomear faz uma negação – isso não é um cachimbo.
São três as interpretações do enunciado desenhado com letras cursivas na tela da primeira versão de Magritte:
I. Isto (o desenho do cachimbo) – não é – um cachimbo.
II. Isto (o próprio enunciado desenhado na tela) – não é – um cachimbo.
III. Isto (o conjunto constituído por um cachimbo em estilo caligráfico e por um texto desenhado) não é um cachimbo (elemento misto que depende do discurso e da imagem) – não é um cachimbo.
“Magritte quer reconstituir o lugar-comum à imagem e à linguagem”. Existe uma série de negações – quadro, a frase escrita, o desenho do cachimbo – em que tudo não é um cachimbo. Curiosidade apontada por Foucault: as letras cursivas lembram a de um mestre que está ensinando uma turma a escrever.
Já estou ansioso pela próxima postagem em que comentarei esse livro, pois Foucault irá comparar as obras de Magritte com Paul Klee e Kandinsk. Esses dois últimos citados foram estudados em algum momento na minha graduação em filosofia. Se minha memória não estiver falha, é Walter Benjamin quem analisa Klee. Com relação a Kandinsk, estudei sobre a relação entre a mística e a arte abstrata.

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