quinta-feira, 28 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 3]

A primeira garrafa de vinho acaba e começam a jogar a brincadeira conhecida como “verdade ou desafio”; utilizam a garrafa para escolher aleatoriamente as pessoas questionadas. No momento em que começam a jogar o parque fez um silêncio momentâneo, uma daquelas coincidências em que todos ficam em silêncio e é preciso alguém para quebrar a falta de som. Um silêncio incômodo interrompido pela impaciência de Kátia, uma garota de 16 anos que aparenta ser muito recatada e cheia de pudores, no entanto era uma das mais empolgadas no vinho. Tinha os cabelos castanhos mais bonitos que eu já tinha visto, sua pele era clara e seu nariz era achatado, disse que tinha herdado essa característica do pai que era negro. A primeira pessoa que a garrafa escolheu após ser girada foi a própria Kátia. Fez aquela cara de espanto, mas depois do vinho estava disposta a arriscar.
- Verdade ou desafio? - Perguntou Ketlyn.
Ela não se fez de rogada, escolheu verdade. Acredito que ela tinha pensado que Dionísio, o Deus grego do vinho viria ajudá-la. No fundo ela sabia que a morena líder e lésbica não iria poupá-la de uma pergunta ou íntima ou indecente. Ketlyn “não perdoa”:
- Você gosta de homens ou de mulheres? - perguntou como isso fosse a coisa mais natural do mundo. - Ou seja, você acha que é lésbica ou heterossexual?
- Não sei! - responde Kátia com bastante sinceridade.
- Como não sabe? Já ficou com um menino?
- Já!
- E gostou? - Ketlyn pergunta com cara de nojo.
- Sim, mas... - Kátia é interrompida com outra pergunta.
- E com meninas já chegou a ficar?
- Também! - A garota responde com uma sinceridade incomum nesses jogos, pois todo mundo mente nesse tipo de brincadeira.
Foi nesse momento que eu senti uma vontade enorme de ir ao banheiro, não cheguei a ouvir o desfecho da conversa acerca da sexualidade de Kátia. No caminho em direção ao banheiro pude perceber como tinha muita gente no parque. Aquele grupo que eu observava era apenas um entre vários nesse recanto da cidade; quantos “Brunos” metidos a escritores poderiam existir? Será que as outras “Ketlyns” eram tão decidida e tão bem resolvida quanto essa? Quantas “Kátias” estariam descobrindo sua sexualidade agora mesmo? Quando voltei do banheiro a garrafa tinha girado novamente e escolhido, de novo, Kátia, mas dessa vez quem perguntava era Bruno. O garoto achou que era uma oportunidade para paquerá-la e não se fez de rogado.

2 comentários:

  1. estou lendo um livro q penso ter tudo haver com seu blog: Viagem ao Fim da Noite, de CÈLINE. Se quiser depois de ler te empresto. O blog está muito bom!

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