sexta-feira, 22 de abril de 2011

EXISTE UM TEMPO PARA CADA COISA - NÃO ME CONFORMO





“Há um tempo para cada coisa”. Essa máxima hebraica é muito difundida para explicar nossa passividade perante certos eventos humanos. Nunca sabemos o tempo certo de nada; as coisas vão acontecendo e nós nos conformamos repetindo àquela primeira frase. Óbvio! Trato das coisas humanas. É muito certo que há um “tempo para plantar e outro para colher”, mas o tempo – meu tempo – não obedece as essa leis naturais. Minhas pulsões aparecem desassociadas das estações do ano. Acho que não sou natural.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VIDA+OBRA=OBRA+VIDA


“Ninguém entra para o panteon dos filósofos por se dedicar a ter apenas pensamentos eternos, pois o tom da verdade só vibra longamente quando o autor interpela sua vida.” (MERLEAU-PONTY) “A filosofia está em toda parte, até mesmo nos fatos, e em parte alguma e em domínio algum acha-se preservada do contágio da vida”. (MERLEAU-PONTY) Tive um professor na graduação que era contra essa visão de Merleau-Ponty. Afirmava que a obra do filósofo era independente de sua vida. Ele afirmava, por exemplo, que não importava se Rousseau teria deixado seus filhos para a adoção e ter escrito o Emílio, um grande tratado sobre educação das crianças burguesas iluministas. Concordo com Ponty, pois não há como separar o pensamento do autor das vicissitudes dele. Teriam outra coisa para provar, a não ser Deus, os filósofos medievais que eram padres? Foucault, que escreveu a História da sexualidade e a História da Loucura, era muito afetado por sua homossexualidade e seu problema psicológico. Até o exemplo de meu antigo professor pode ser utilizado contra ele: por ser uma coisa que marcou a vida de Rousseau, a educação se tornou um tema crucial no conjunto de sua obra. Óbvio! Não deixaria de ler o livro de Bacon por ele ter sido um mau caráter em sua vida pessoal. Muito menos deixar de ler Wittgenstein por ter sido homossexual. O que defendo é que no percurso de suas vidas fatos e acontecimentos tem um papel importante na influência contida em suas obras – elas estão impregnadas da vida do autor. O caráter de universalidade; que faz do filósofo um autor, do literato um autor, do cineasta um autor; só é alcançado porque percebe que o problema não atinge só a ele, mas a humanidade. Hoje assisti a um filme de autor: COPPOLA. A história desse filme veio a calhar com o que refletia anteriormente. Tetro (2009) foi o filme assistido. Em preto e branco, o personagem central – que dá nome ao filme – é muito curioso. Dois irmãos se encontram na Argentina e ambos são americanos. Tetro é super estranho e hostiliza a visita do irmão. É revelado que a mulher de Tetro é uma médica de loucos que o teria conhecido em um manicômio – o louco afirmava ser escritor e guardava um manuscrito feito em código dizendo ser uma obra prima. Não conseguia perder uma fala desse filme, pois eventos inesperados deixavam a trama intensa. Apesar de não gostar do personagem fiquei feliz de ver Carmem Maura, atriz fetiche do genial Almodóvar. Seu personagem é uma crítica cultural famosa. “Ainda continuo a não ligar para sua opinião” – é a resposta de Tetro (ou COPPOLA) a ela. Ora, a obra prima escrita por Tetro, nada mais é que a história de sua própria vida. Não contarei mais, mas o final do filme é surpreendente. Foi um bom dia, um bom filme, uma boa companhia. Se compor uma obra algum dia, não tenha dúvida, esses momentos estarão inclusos lá.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

UM ANO A MAIS QUE A METADE DE MEIO SÉCULO


Lembro que no ano passado, nesse mesmo dia de aniversário, perguntava se deveria comemorar mais um ano de vida ou mais um perto da morte. Ainda não decidi a comemoração, mas estou feliz por estar vivo. Confesso que começo a me preparar psicologicamente para a data de meu aniversário com um mês de antecedência. Não sei se é algum trauma, mas fico profundamente depressivo nessa data. Contudo, nos últimos anos o carinho dos alunos tem tornado esse dia muito agradável. Creio ser um carinho irônico, sincero e devoto. Certa vez escrevi em meus alfarrábios: “Que mundo sedento! Observo pessoas cada vez ais carentes; poderia compartilhar com todos. Sou traficante de carinho...” – tenho a mania de ler coisas que escrevi a muito. Tenho hoje a necessidade de total entrega a tudo e a todos. Quero fazer parte do domínio público. Posso não entender o que escrevo e o risco que corro, mas é isso.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

BLUETOOH

Não sou apenas uma transferência de dados. Nenhuma vocação para ser infravermelho, muito menos para bluetooh. Querem sugar, por vias telepáticas, todo meu interior – me nego. A única transferência seria apenas de fluidos e se sinta feliz com isso. Para mim basta: a memória é minha e as imagens passaram em um fotoshop. Realmente sou para poucos, quase ninguém. Sou assim; não sou exclusivo, apenas escolho – a atitude deve partir de mim. Pareço imortal, um insensível, mas não. Choro, amo, tenho dor. Sou essencialmente mortal. Aparento ser exibicionista sentimental, contudo não passa de uma farça – o que é meu fica para mim. Minha motivação são fatos corriqueiros, porém eu os deturpo, troco os personagens etc. Odeio psicólogos e os que querem me analisar como tal. Desista! Primeiro: não sou uma pessoa interessante e minhas excentricidades só servem para mim. Segundo: não tento fazer nenhuma psicologia reversa, ou seja, chamar atenção ao máximo me escondendo e causando a curiosidade. Sou real e imaginário ao mesmo tempo, mas saiba que sou e estou duro na realidade. Confesso que tentei usar a técnica do bluetooh sentimental; logo voltei atrás e cancelei.