sábado, 25 de junho de 2011

BUKOWSKI - pareçe que lê meus pensamentos

o humilde herdou

se eu sofro assim diante dessa
máquina de escrever
pense como eu me sentiria
entre os colhedores
de alface em Salinas?

penso nos homens
que conheci nas
fábricas
sem qualquer chance de
escapar -
sufocados enquanto vivem
sufocados enquanto riem
de Bob Hope ou Lucille
Ball enquanto
2 ou 3 crianças jogam
bolas de tênis contra
as paredes

alguns suicídios jamais são
registrados.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

ESCREVI ESSAS PALAVRAS NO FINAL DO ANO PASSADO[que saudade!]


"Cheirou minha camisa impregnada de feromônios. Fez um sinal negativo como sempre faz ao gostar de algo meu. Fiz com que cheirasse mais e joguei meu corpo sobre o seu. Acaricio seu corpo quase por completo; sabe os momentos certos dos toques. Como suspiro tentando tirar de minha mente suas pernas, sua barriga, a cor de sua amilo. Sabe me ganhar deixando minhas mãos escondidas nas tuas. Gosta de mexer em minha barriga e me arrancar cócegas. Está tocando meu corpo e cada dia descobre um novo recanto, uma nova forma de me matar através dos sentidos. Fico pensando... Estou definhando novamente. Esse é meu principal sintoma, mas fico para mim, para a página. Não expresso ao mundo o que passa, meu exibiconismo é velado, dissimulado."

NA SALA DE ESTAR


Tinham se conhecido há uns dois anos. Quando estavam juntos era apenas uma relação de carinho. Osmair contava com dezoito anos e Sandra dez a menos que ele. Mesmo com a diferença de idade a garota apresentava uma atração inexplicável pelo rapaz que adorava sua companhia. Ela freqüentava a casa de Osmair para brincar com a irmã dele que possuía a mesma idade.
Os anos se passaram e Sandra se tornou mais próxima de Osmair que de sua irmã. Os pais do jovem reprovavam a aproximação dos dois, visto afirmarem não existir amizade entre homem e mulher. Um evento inesperado mudou o rumo da relação dos dois: quando o garoto estava em frente ao computador Sandra chegou por trás e o abraçou. Até esse momento estava tudo dentro da normalidade, mas nesse abraço a língua de Sandra passeou dentro da orelha de Osmair. Ele teve um sobressalto e ficou excitado instantaneamente.  Derrubou a cadeira que estava sentado e, com o barulho, sua mãe correu até a sala perguntando o que acontecera. Osmair respondeu:
- Sandra me assustou e a cadeira caiu.
A garota também ficou assustada com a situação e saiu correndo. Porém, a relação dos dois tinha mudado para sempre.
Quando Sandra completou quinze anos uma atração física e incontrolável entre os dois surgiu, mas ambos não revelavam seus sentimentos um ao outro. Tocavam-se e sentiam como que uma corrente elétrica atravessasse seus corpos. Osmair sentia um ciúme enorme de Sandra e ficava, literalmente, doente só em pensar que ela gostava de outra pessoa.
Nesse período que Sandra teve seu corpo desabrochado, tal como uma flor que atrai pelo cheiro e pela beleza, Osmair conseguiu uma camisa dela e dormia todas as noites abraçadas a ela. Ele tinha roubado essa peça de roupa quando Sandra foi dormir no quarto de sua irmã. Embriagava-se todas as noites com o cheiro de Sandra. Essa atração de Osmair logo se tornara uma obsessão. Masturbava-se três vezes ao dia pensando nela. O máximo de intimidade que tiveram foi numa sexta-feira da paixão quando estava só em casa e Sandra apareceu procurando a irmão de Osmair. Ele deu um sorriso no momento em que a viu parada em sua porta ao sol. Nela tudo parecia atraente: seu cabelo negro, sua nuca aveludada, os pelos que apareciam em sua barriga. Ele conseguia sentir o cheiro dela com dois metros de distância. Ela perguntou o que ele fazia; respondeu que estava assistindo a um filme – foi para a sala de estar com ele.
Sandra sentou-se no sofá e Osmair deitou-se no chão disfarçando a excitação que saltava aos olhos. Começou a alisar as pernas da garota que também ardia em suas entranhas. Ela fingia que não estava acontecendo nada. Ele se ergueu e beijou a coxa dela; numa atitude rápida e ousada tocou a vagina de Sandra por cima da bermuda. Ele levantou e saiu correndo da casa. Osmair ficou muito preocupado, pois pensava que ela nunca mais iria olhar para ele. Foi tomar banho e, logo após, deslocou-se à Igreja par a celebração da sexta-feira da paixão. Já dentro do templo seu corpo e sua alma desejavam Sandra. Naquele dia nunca tinha se sentido tão cheio de desejo, tão mortal. O padre estava erguendo uma cruz de madeira e Osmair só lembrava a cor dourada da amada ao sol – teve uma ereção dentro da Igreja.            

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SEM CORAÇÃO [parte final]


O mais chocante, sem sombra de dúvida, foi o estado do corpo de meu amigo. Não o chamo de amigo apenas porque está morto. Guardo uma afeição por ele. Não pude ver seu rosto; sua camisa foi levantada e cobria sua cabeça. Seu tórax estava exposto. Não sabia que possuía um sinal perto das costelas: uma marca negra e se forma definida. Sangue por todos os lados e pegadas vermelhas parecia fazer parte da decoração da cerâmica que revestia o chão. Ate hoje lembro a surpresa que tive ao perceber o horrendo rombo feito nas costelas de Sandro. Era um quadrado quase perfeito de onde jorrava muito sangue, mas dava para ver o branco das costelas. Cheguei à conclusão que tinham sido serradas porque, ao lado do corpo, estava um arco de serra todo melado com o líquido vermelho.
Dentro da casa já estavam duas pessoas e já podia ouvir os rumores que tinham arrancado o coração de Sandro. Acompanha tudo isso atônito, ma podia acreditar. Arrancaram o coração de meu amigo. Não se sabe se o coração fora arrancado com ele vivo; qual a diferença?
Sou péssimo em desenho, senão faria um para mostrar como era o arco de serra que abriu as costelas de Sandro. Consistia num arco parecido com o que lançam flechas, mas feito de aço que possuía três extremidades: uma para o apoio das mãos e as outras duas seguravam a lamina de serra. Essa lamina era de cor amarelada com serras minúsculas, porém tão poderosas que cortavam até alguns metais. O apoio para a mão era emborrachado. Estava todo melado de sangue. Imaginei como a barbaridade foi consumada; como aquela serra atravessara os ossos; de que modo teria feito o buraco na forma quadrada. Será que foi um médico que fez aquilo devido à precisão do corte?  Qual a intenção de deixar Sandro sem coração? Estaria ele envolvido em alguma seita de magia negra? Não sei. Nem a polícia queria saber. Nenhum familiar foi reclamar o corpo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 6]


Estava num estado de sonolência absurdo. Não entendia direito o que estava acontecendo e levantei da cama atordoado. Só deu tempo de vestir uma camisa e colocar minha sandália de plástico. Quando cheguei à rua o sol feriu meus olhos e aumentou ainda mais minha sensação de desorientação. Nem me lembrei de pegar a bicicleta; não era tão longe assim; apenas chegaria mais rápido. O que sentia era um nó na garganta. Só percebia que a vida era realmente rápida nesses instantes, tão veloz como minhas pernas eram naquele momento. Por incrível que pareça, não demorei tanto como devia e cheguei ao alto da ladeira que era o começo da rua de Sandro. Estava lotada, mas não foi isso que chamou minha atenção de imediato. A luz. O brilho dos últimos raios de sol estava refletindo nas águas sujas da maré, mas logo se dissipou. Quando voltei do brilho hipnótico percebi que todos corriam na direção da casa do finado.
Ainda não tinha nenhuma autoridade policial para dar ordem ao caos instaurado naquela rua. Contudo, as pessoas estavam com medo de entrar na cena do crime. Os curiosos olhavam desconfiados pela janela; não queriam se envolver em nenhuma espécie de problemas. Quando entrei na casa duas pessoas estavam olhando o corpo, provavelmente vizinhos mais corajosos. Antes de descrever o qual o estado do corpo de Sandro quero relatar algo que achei estranho – poderia passar despercebido para muitos, mas não para mim. A TV e o aparelho de DVD estavam ligados e tocando uma banda de pagode. Já tinha comentado anteriormente que Sandro não gostava de música. Realmente não entendia aquela banda sendo executada nos aparelhos eletrônicos de Sandro.