terça-feira, 26 de outubro de 2010

UM DOMINGO NO PARQUE [parte 2]



Aquela voz me embriagou. O lago, as árvores, as pessoas, tudo desaparecera e só prestava atenção naqueles jovens, principalmente em sua líder. Ketlyn era uma jovem morena, possuía um corpo muito sensual e tinha olhos muito vivos. Ela falava sem nenhuma inibição, freqüentemente mexendo muito os braços. Estava sentada e realmente suas expressões faciais a destacavam no grupo. Conversava com um rapaz enquanto todos prestavam atenção no diálogo. O garoto era Bruno, jovem magro e de pele muito clara, o que dava a ele um aspecto de doente. Já peguei a conversa “andando”, estavam falando de música. Bruno queria escrever um livro com um personagem inspirado em Janis Joplin, só que ele não sabia que essa era a cantora predileta de Ketlyn. Ela falava da cantora com muita excitação; poderia ser também uma excitação sexual, visto que Ketlyn confessara abertamente ser lésbica. Acredito que Bruno achava isso um desperdício.
- Adoro a voz rasgada da Janis! Parece uma gata no cio - dizia Ketlyn tentando imitar a voz da cantora - Adoro ficar nua e a ouvir cantar.
- Eu também gosto dela. Meu interesse é seu aspecto libertário. Gostaria de escrever pensando em um personagem assim. - Falou bruno escrevendo algumas anotações no caderno que estava segurando.
Bruno parecia ser um estudante bastante aplicado e afirmou que suas notas eram boas. Parecia bastante comedido, pois não estava tomando vinho com o resto do grupo. Esse fato foi motivo de piada, pois Ketlyn disse que nunca tinha ouvido falar em um escritor que não bebesse; chegou até a citar o absinto. Ela afirmou que era louca para experimentar a bebida dos poetas. O que eu achava interessante é que Bruno anotava em seu caderno logo depois que Ketlyn falava, com se estivesse anotando suas características para escrever em seu livro. Parecia que Ketlyn era sua musa inspiradora. Ela chegava a influenciar a escrita do colega. E certo momento da conversa Bruno afirmou que a Janis poderia sofrer de um distúrbio “bipolar”, o que irritou Ketlyn:
- A Essa coisa de bipolar é uma modinha que não “cola” falando da Janis; ela era a Joplin e pronto. Tentar rotular a Janis é uma “merda”. Não faça isso em seu livro. - Falou a líder do grupo.
Bastou essa represália de Ketlyn para que a ideia de retratar a Janis como uma pessoa bipolar fosse embora da mente de Bruno. Nesse momento, um vendedor de pipocas passa perto de onde estávamos e faz muito barulho com seu anúncio; isso interrompe a conversa por alguns minutos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário