terça-feira, 26 de janeiro de 2010

De Joel Silveira

[Foto(by myself): Aracaju's sunrise]
Concordo: todo tradutor é um traidor. Mas lhes pergunto: quantos escritores, particularmente os ficcionistas, já não foram beneficiados pela paciente e oportuna traição dos tradutores - quero dizer, dos traidores?

sábado, 23 de janeiro de 2010

A formiga e a lagartixa



Uma formiga com asas se aventura, após uma chuva fina que refrescou o solo, em adentrar numa residência que está iluminada – isso é um atrativo para essa formiga. O que ela não esperava era encontrar uma tela de proteção contra insetos que estava na janela. De repente, nossa amiga sentiu uma corrente de ar e percebeu que a porta estava entreaberta. Dessa passagem vinha uma luz que estimulou a entrada da formiga para dentro da casa.
No interior da residência, outra figura conhecida dos lares estava atentamente observando a entrada atrapalhada da formiga voadora. Era uma lagartixa que movia a cabeça de acordo com a direção que a formiga alada tomava. Se a formiga pousasse perto da lagartixa seria seu fim. O inseto já tinha pressentido perigo, pousou na parede oposta em que estava a lagartixa.
- Porque você não para de me olhar? – perguntou a formiga – estou com medo de você.
- Na verdade, companheira, estava aqui sozinha e fiquei feliz por ter uma companhia; quero fazer amizade com você – mentiu a lagartixa que tinha a intenção, na verdade, de devorar a formiga.
A formiga alçou vôo novamente e a lagartixa salivou ainda mais. O show aéreo errante de nossa amiga encantava o lagarto tal qual um encantador de serpente. A luz, até então, que iluminava a sala, vinha de uma lâmpada fluorescente instalada no teto. A formiga começou a voar em torno da lâmpada e a bater com a cabeça nela. O calor proveniente da lâmpada começou a machucar as antenas da formiga que começou a chorar. Pousou novamente na mesma parede que já tinha pousado anteriormente.
- Venha minha amiga formiga, eu irei passar minha língua em suas queimaduras para ajudar a sarar a dor.
- Ai! Ai! Eu ainda não lhe conheço bem. Minha mãe, a rainha, disse para não cair na conversa de estranhos; principalmente daqueles que possuem rabo.
A barriga da lagartixa roncou por causa da fome que sentia. Ela perguntou para a formiga se não tinha um lanche para saciar a fome dela. Nesse instante, uma pessoa entra na sala e liga a televisão. Com a luminosidade gerada por aquela caixa, a formiga ficou cega, no primeiro instante, mas depois ficou encantada com aquelas cores e formas.
A lagartixa nem se moveu em direção a televisão. A formiga, mais uma vez, levantou suas asas e se aventurou nessa empreitada enquanto podia, visto que ela logo iria perder suas asas. Ficou voando em círculos, mas o encanto do brilho da TV fez com que ela perdesse o senso de direção: pousou bem ao lado da lagartixa. O réptil, seguindo seus instintos, escancarou a boca e estava prestes a devorar a frágil formiga. O susto foi tão grande que as asas da nossa amiga insetívora caíram. O tamanho era desproporcional, a lagartixa era um verdadeiro dinossauro perante a formiga. Só restava a pequenina usar a inteligência para não ser engolida.

RESTA AGORA O FINAL DA HISTÓRIA. O FIM E POR CONTA DE VOCÊS, ESCREVAM NO COMENTÁRIO A SUA SUGESTÃO DE FINAL PARA ESTA PARÁBOLA; PENSEM EM UMA MORAL PARA ELA.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Sergipe na Guerra do Paraguai (Foto: Visconde de Maracaju)



Na grande guerra entre o Brasil e o Paraguai (1865-1870), lutaram 2.762 soldados sergipanos do Exército, do Corpo de Polícia e da Armada (Marinha), destacando-se o coronel Oliveira Valadão, o Visconde de Maracaju, o major Gonsalo Paes Azevedo e o soldado Francisco Camerino, natural de Estância, que com apenas 16 anos seguiu para a linha de frente, ficando conhecido como “herói paisano” devido à bravura com quem lutou na batalha Curuzu (1866); sendo morto no ataque à fortaleza de Curupaiti atingido por um estilhaço de granada.
Outro oficial sergipano que se destacou no conflito foi o capitão da Marinha de Guerra Imperial Aurélio Garcindo Fernandes de Sá, que comandou a canhoneira “Parnaíba” que participou das célebres batalhas de Riachuelo, Humaitá e Tibiguari.
A guarda nacional da província não participou da campanha porque a maioria de seus guardas não compareceu ao recrutamento.
Muitos escravos foram libertados para participarem da guerra, enquanto os senhores de terras ofereceram recursos materiais às tropas para não irem combater. A maior parte dos soldados sergipanos que lutaram no Paraguai eram pobres, negros libertos ou escravos, e criminosos.
Os militares sergipanos retornaram a Aracaju em 27 de maio de 1870 no navio vapor “S. Salvador”. Os soldados desfilaram pelas ruas da capital e à noite participaram de um jantar oferecido pelo presidente da província. No dia seguinte assistiram missa na capela de São Salvador e no dia 30 foi celebrada outra missa pelos companheiros mortos na guerra.
No dia 6 de junho, o batalhão de Voluntários da Pátria foi dissolvido oficialmente.
(Extraído de : CORREA, Antônio Vanderley de Melo. Sergipe nossa história: ensino fundamental. Aracaju: Edição dos autores, 2005)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

FUTEBOL - I don't want to play



I don’t want to play football

É o título de uma das músicas da banda inglesa Belle and Sebastian
[1] – “eu não quero jogar futebol”. Observação: a Inglaterra é o país de origem do futebol e onde esse esporte é uma paixão nacional. Pode-se afirmar que a institucionalização do esporte como responsabilidade pública começou com os gregos na antiguidade. Os jogos olímpicos paravam a “pólis[2]” grega e atualmente consegue atrair a atenção do mundo. Dentre os esportes, o Futebol é o mais popular do planeta.
Como um esporte consegue atingir um alto nível de interferência na vida da população mundial? Como, defendendo uma bandeira de time, pode-se tirar a vida de outra pessoa? Qual a diferença entre os skinheads
[3] e os hoolingans[4]?
Talvez questões econômicas possam explicar essa massificação midiática do futebol. É interessante lembrar que há pouco tempo mal se ouvia notícias sobre os campeonatos de outros países; hoje eles são transmitidos pela TV aberta brasileira. Será porque há muitos brasileiros jogando no futebol estrangeiro?
Milionários: times e jogadores. Quem sustente a conta bancária são as entradas nos estádios e as vendas em merchandising dos times (camisas oficiais, chaveiros, etc.). é um fenômeno não só dos países subdesenvolvidos, mas também dos países mais ricos do mundo. Os milionários do petróleo do Oriente médio, também se interessam pelo futebol e investem pesado nos times. Porém, como manter o dinheiro? Óbvio, mantendo os espectadores e telespectadores devidamente amestrados. Não critico os que, depois de uma semana estressante de trabalho, queiram se divertir assistindo uma partida de futebol. Mas o fanatismo de alguns (milhares, melhor bilhões) revela a imensa domesticação ao grande sistema futebolístico. Esporte é saúde. Mas a saúde intelectual e crítica, como vão?
O louco é quem critica isso. A banda que escreve uma letra como a que vimos no início é insana. Prefere-se continuar aderindo a essa prisão invisível.
Qual seria a solução para esse problema? Bem, a maioria não vê problema nisso. Claro, não foram educados para ter a criticidade necessária para o exercício da cidadania. Talvez a filosofia ajudasse nesse aspecto.
A letra da música da banda inglesa é bem legal:

I Don't Want To Play Football
I don't want to play football
eu não quero jogar futebol
I don't understand the thrill of the game
eu não entendo a emoção do jogo
I don't want to play football
eu não quero jogar futebol
I don't understand the thrill of running, catching, throwing
eu não entendo a emoção de correr, receber a bola, lançar
Taking orders from a moron
receber ordens de um retardado
Grabbing for the sweaty crotches
agarrar pelas virilhas suadas
Getting hit by people I don't know
ser atingido por pessoas que eu não conheço
Sugar, I'd rather play a different sort of game
querida, eu preferiria jogar outro tipo de jogo
Sugar, the girls are just as good as boys at playing
querida, as garotas são tão boas jogando quanto os rapazes


[1] Banda inglesa.
[2] Cidade-estado grega.
[3] A proposta original era um retorno às origens do movimento punk paulista, aliada à uma ideologia baseada na violência e no vandalismo, no patriotismo, no anti-racismo, no anti-militarismo, contra os políticos e seus partidos, contra a polícia, contra a igreja. Com o passar do tempo, foram se desvinculando dessa proposta original e adquiriram um caráter conservador, que levou a se posicionar e promover ações contra esquerdistas, diferentes tribos urbanas (em especial àquelas ligadas ao pensamento de esquerda), drogados e homossexuais. Facções ligadas a neonazistas também agridem, em alguns casos, judeus, prostitutas, e outras minorias.

[4] Hooligans são grupos de torcedores de eventos esportivos que existem na Europa, mais precisamente: Inglaterra, Rússia, Polónia, Alemanha e Croácia e que sentem prazer em brigar, usando o futebol como o evento alvo para isso.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

De JOEL SILVEIRA (jornalista)

No barsinho da heráldica Laranjeiras, em Sergipe. O primeiro, todo pimpão:
- Graças a Deus, a mim nunca faltou trabalho!
O outro, a voz pastosa, arrastada:
- Pois a mim, graças a Deus, sempre faltou.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Texto onomatopaico



Em um bairro periférico, num desses lugares onde o nível cultural reflete a realidade do país, um garoto cujo nome não me recordo – seu apelido era Reco-reco – ao ler um pedaço de jornal viu-se com um problema que o afligia, não sabia o significado da palavra onomatopéia.
Era como descobrir o elo perdido. Reco-reco não sabia o que era aquilo, já tivera ouvido falar em coisa parecida; ele até pensou que era o filho da centopéia com menos patas. Ela teve uma idéia brilhante: iria perguntar o significado da palavra onomatopéia à professora. Tinha um pequeno problema, pois ela morava do outro lado da cidade e estava chovendo muito, as ruas estavam intransitáveis. Pegou um cartão telefônico e ligou para ela; o “chuá-chuá” da chuva batia sobre a cobertura do telefone público. Enquanto isso, o “trim-trim” do aparelho telefônico soava na casa da professora, que tinha como apelido “Toc-toc” – devido ao barulho que a prótese dentária mal feia produzia quando ela falava. Ela atendeu ao telefone e Reco-reco logo fez sua pergunta. Devido ao grande interesse do aluno em aprender e mesmo sabendo do significado da palavra, a professora preferiu não responder e indicou uma solução: procurara apalavra no dicionário.
Outra missão fora incumbida a Reco-reco – como achar um dicionário? Foi à estante de livros da vizinha e lá estava o objeto de desejo. Porém, outro problema surgia, visto que não sabia procurar palavras no dicionário. Lembrou-se que “Tique-tac”, seu amigo mais avançado na escola, sabia manejar o livro que é chamado de “pai dos burros”. Lá foi Reco-reco andando pelas ruas lamacentas tentando descobrir, na sua imaginação o significado da palavra onomatopéia.
Imaginava algo maravilhoso, majestoso, fora do comum; estava realmente encantado com a sonoridade da palavra que nem ouviu o “fom-fom” da buzina do carro que quase o atropelara. Fo quando ouviu um psiu; era Tique-tac que atravessava a rua e vinha de encontro a ele. Reco-reco foi logo apresentando o problema que foi rapidamente solucionado por seu amigo ao pegar o dicionário. Mesmo com a explicação do dicionário, Reco-reco não entendeu o significado da palavra e pediu um exemplo a Tique-tac. O menino curioso acerca da palavra onomatopéia ficou bastante desapontado, a palavra tinha perdido todo gosto para ele. Foi-se embora prometendo nunca mais usar um dicionário.

OS ESPELHOS SÃO PARA VER O ROSTO

“Os espelhos são para ver o rosto; a arte para ver alma.”
George Bernard Shaw (1856-1950) dramaturgo inglês


Qual era a verdadeira intenção das artes rupestres da pré-história? Parece ser a mesma da arte em geral. As imagens gravadas nas paredes das cavernas retratam, geralmente, cenas do cotidiano desses povos: homens caçando, animais, formatos de mãos, etc. Formas geométricas também são comuns na arte rupestre.
O que vou defender é que a arte é uma tentativa do ser humano de “ver-a-si-mesmo”. Mas, afinal, o que é ver-a-si-mesmo? Responderemos um pouco adiante. Sabe-se, de certeza, que o animal que pergunta sobre sua existência é o ser humano – precisaríamos ser uma rã para constatarmos realmente se elas não podem fazer esse tipo de pergunta; como isso é impossível, nunca saberemos. A pergunta fundamental pelo que é, que dá origem à filosofia e a toda intelectualidade do ocidente, também é feita ao ser humano. O que é ser humano? O indivíduo irá empregar vários artifícios para tentar responder a essa indagação. Inventa: a filosofia, a ciência e, entre outras coisas, a arte. Fiquemos com a arte.
Lembremos do que quero defender: a arte é uma tentativa de “ver-a-si-mesmo”. Fisicamente, só o outro vê você. Pode-se argumentar contra: em uma imagem do espelho é possível a visão de si mesmo. A imagem que a pessoa observa no espelho é invertida – quando você levanta o braço esquerdo, sua imagem levanta a direita e vice-versa. Você não é uma imagem invertida, portanto seu reflexo não é você – que delírio! Fisicamente é impossível ver-se. Certas “experiências” em que a alma sai do corpo não são levadas em conta aqui. Só o outro pode me observar fisicamente; só me reconheço graças ao outro.
Numa tentativa de conhecer a si mesmo, a arte é criada e, nesse sentido, imita a vida. Quando o humano pré-histórico deixa a marca de sua mão gravada na parede está tentando se conhecer. Essa atitude não se difere muito do naturalismo da arte antiga grega e do homem religioso da arte medieval, muito menos da descentralização do homem na arte contemporânea. A arte contempla as várias facetas e dimensões que o ser humano expressa; tudo isso numa tentativa de ver-a-si-mesmo.
O “conhece-te a ti mesmo” é uma frase muito antiga, estava escrita no pórtico do oráculo de Delfos, um dos mais famosos da antiguidade grega. O velho Sócrates parece ter levado isso muito a sério. A única certeza que ele chegou: “só sei que nada sei”. Ironias à parte, essa frase é muito contemporânea, quanto mais a ciência avança, a arte se transforma, a religião se espalha, mais o conhecimento acerca do homem parece ser impossível.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Sem nome

Vazio o que escrevo;
A tinta grudando no papel,
Do “L” que não falo,
escrevo a imposta escrita do “L” que digo.

Vazio o que falo;
O som articulado no ar,
Da fala não corresponde os atos,
Faço o que não força a fala.

Vazio o que penso;
O tentar entender isso através
Da escrita, se ela for possível,
E da fala dos fatos.

O que almejo é encher o escrever com a certeza real do que se fala comprovando o que se pensa.


sábado, 16 de janeiro de 2010

CANSAÇO

Cansaço
à Giselda Moraes
Havia espelhos refletindo
a água clara da chuva
que caía. E havia flores,

pássaros, caleidoscópios,
relógios nos lembrando
o instante exato e a precisão

da angústia em nossos olhos.
E havia mãos tão magras,
Que doíam. E havia pés

e movimentos rápidos. Choro
de alguém cravado contra
o muro. E a ânsia do homem

aflito, já exausto de
carregar nos ombros doloridos
a curva e as cores do arco-íris.

(Santo Souza, poeta sergipano)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Frase de Joel Silveira

Lentas e disciplinadas, assim são as uvens do imenso céu de Aracaju. Todas indo, nenhuma com vontade de chegar.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Existe uma cultura atrasada?



A cultura dos maias, aparentemente, parecia atrasada para os brancos europeus e quando eles chegaram e massacraram os nativos para que sua cultura fosse imposta. É sabido que os europeus, na época dos descobrimentos, não possuíam rede de esgotos; suas fezes eram atiradas pelas janelas das casas. Paris, a cidade luz, poderia ser chamada de cidade da merda. Porém, vários povos nativos da América hispânica possuíam saneamento básico.
Fica parecendo que o possuidor de recursos bélicos (armas) é o mais avançado ou civilizado. Os europeus tinham armas tecnicamente mais sofisticadas. Na atualidade, os EUA possuem um arsenal bélico gigantesco e um exército numeroso e preparado.
Apesar de ter outros motivos, a superioridade de uma cultura é medida pela força de sua imposição.
O perigo que Irã e da Coréia do sul oferecem aos EUA não parte de sua cultura, mas sua ameaça bélica. Não importa se Alá ou a burca são bons ou ruins, mas se o deus permite um suicídio em que se possam carregar bombas por baixo dos turbantes.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Malvados


Dentro do negro rugiam desejos de touro ao pressentir a fêmea...Todo ele vibrava, demorando-se na idolatria pagã daquela nudez sensual como um fetiche diante de um símbolo de ouro ou como um artista diante duma obra prima. (Adolfo Caminha, Bom Crioulo)
Ela falou no meu ouvido algo indecente
Qual será sua intenção?
Será que quer me concertar?
Me convidou para o café da manhã.
Comi até me fartar, queria mais.
Que deliciosa sensação de comer.
Gozo sublime dos deuses.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Arrested birds


Dor, sofrimento e amor. Três coisas em um único olhar.
Um olhar impossível de uma forma possível de amar.

Fim do poeta



Para quem quiser me seguir no twitter: @filofigueiredo.
Só para lembrar: a maioria das fotos contidas nesse blog foram tiradas por mim e possuem direitos de imagem.

PITANGA




Quando o menino viu a fruta se espantou, sua imaginação começou a fluir; pensou em uma abóbora em miniatura, só faltava prová-la para ver se tinha o mesmo sabor. Viu outra, sua cor rubra e bem mais escura que a primeira – sentiu sua boca encher-se de saliva. A fruta estava no seu alcance quando ele a pegou com força; um líquido escorreu pelas mãos do garoto que, imediatamente, passou a língua. Sentiu, finalmente, o gosto acre-doce apaixonante.
Sua vida mudara desde aquele instante, estava acostumado com a doçura infantil, agora tinha provado um gostinho azedo que iria sentir até o resto de sua vida. Ele aprendeu que só o doce enjoa, mas equilibrando os dois sabores sua vida seria emocionante.
A árvore crescia e o menino também. Sua adolescência seria adocicada com novas paixões e também azeda pela frustração de não conseguir liberdade; era um equilíbrio delicioso igual à pitanga. Chegando a maturidade seu comportamento era outro; tinha aproveitado a juventude, mas agora sentia, constantemente, o azedo da responsabilidade, das dificuldades de um casamento. Raramente sentia o gosto doce – só quando descansava.
Os anos passaram e a pitangueira continuava a dar frutos, mas o menino tornara-se um velho que, diferente de sua infância, só prova o azedo a vida. Ele pensava que nunca mais iria provar de um momento doce. Olhou pela última vez a pitangueira e viu o último fruto vermelho-fogo. Logo pensou em provar e sentir algo adocicado e ao mesmo tempo azedo. De agora em diante não abria mais os olhos.

(Escrito em: 24/03/2004)

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A CULTURA MAIA


A cultura Maia, do milho ao calendário

A cultura mais surpreendente pelas descobertas científicas, como calendário solar preciso, de 365.2422 dias, e igualmente por uma agricultura avançada que melhorou produtos e foi capaz de conservá-los graças a um inteligente sistema de armazenamento subterrâneo, para alimentar a população numerosa se suas cidades quase metrópoles, como El Mirador, que chegou a abrigar 200 mil habitantes. Hoje já é fato comprovado que a civilização maia, sem contar com instrumentos de metal ou fertilizantes, praticamente “domesticou” e melhorou o milho até torná-lo o grão que conhecemos. Embora ainda persistam controvérsias, está mais ou menos aceito que o milho já era cultivado nos campos das cidades situadas na costa do Pacífico, próximo da Guatemala, muito ates da era cristã, aí por volta de 2500 a.C. Para muitos, o milho é uma evolução do teosinto – uma erva frágil e semelhante ao trigo – que os maias modificaram ao longo do tempo, até conseguir que a espiga contivesse grãos maiores e mais agrupados.
Outro fato de suma importância é que os maias, naquela época, não conheciam os metais nem haviam ainda domesticado os animais. Portanto, não contavam com instrumentos de trabalhar a terra nem com os animais de tração. Mesmo assim, foram capazes de verdadeiras façanhas na agricultura, a exemplo do cultivo do milho em grande escala. Aproveitando a água das chuvas, que era armazenada, os maias cavaram canais e, aos poucos, segundo a necessidade, utilizavam essa água no campo, num engenhoso sistema de irrigação.
O milho é tão importante e tão intimamente ligado à civilização maia que a palavra maia significa aqueles que cultivam milho. Essa importância fica clara quando se sabe que eles faziam oferendas das espigas ao deus da agricultura Yum Kaax, que, por sua vez, é um símbolo de ressurreição. O cultivo do milho exigia técnicas semelhantes ao que se faz hoje com a cana-de-açúcar, por exemplo. Uma área era desmatada e então se fazia o plantio. Ao fim do cultivo, fazia-se a queimada. As cinzas, depositadas no solo, serviam como adubo. A terra passava dois ou mais anos em repouso para depois receber novo plantio.
Os maias também são os “inventores” do chocolate. O cacauseiro foi introduzido pelos maias na península de Yucatán (México) por volta do ano 600. Os frutos foram observados e provavelmente “pesquisados” na busca do seu melhor ou mais variado rendimento. E dessas buscas resultou uma bebida deliciosa, o xocoaltl, que, no entanto, ficou reservada à elite. Só os escolhidos por sua posição consumiam a bebida. Hoje, o chocolate, em suas mais diferentes formas e usos, é um produto que já não serve apenas ao consumo das elites. Na verdade, há muito que é um produto popular, quer dizer, a que todos têm acesso.
(Extraído de: MENEZES, Fernando. Divirta-se e aprenda 6. Recife: Editora Construir, 2009)

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

FÁBULA DE ESOPO



Fábula sf 1.Narração alegórica, cujas personagens são, em regra, animais, e que encerra lição moral. 2. Mito. 3. Lenda, ficção


O macaco e o camelo

Numa reunião de bichos, um macaco se levantou e dançou.
Fez grande sucesso:
- Como é engraçado!
- Como dança bem!
E todos aplaudiram.
Um camelo, com inveja, quis ganhar os mesmos elogios.
Levantou-se e foi dançar.
Não tinha o menor jeito. Embrulhou as quatro patas de tal maneira que os bichos morreram de rir:
- Mas que exibido!
- Por que ele nos ocupa com essas bobagens?
E como o camelo insistia, perderam a paciência e acabaram por expulsá-lo da reunião.
Moral: é perda de tempo invejar as qualidades dos outros. Cada um tem as suas.