terça-feira, 27 de setembro de 2011

MARIANA [parte 2]


Mariana não se preocupava com a família e nem com seu lugar de origem nesse momento, pois sua mente estava ocupada em salvar sua vida. Soltou outro grito tão agudo quanto o primeiro. Os gritos foram ocasionados devido à pontada fina na barriga, uma dor crônica que parecia atingir a alma. Pôs as mãos no ventre e apertou as carnes para tentar desviar o foco da dor – não obteve sucesso. Caiu novamente junto a um poste se contorcendo de dor. Ela sabia que aquelas dores eram mortais, entendia que deveria encontrar um abrigo; talvez fosse um instinto animal de se recolher e morrer em paz. Contudo, estava exposta e completamente vulnerável. A dor passou. Usou o poste de energia como apoio e levantou novamente. Ainda estava tonta, mas conseguia caminhar e seguiu sem rumo. Ela parou por um instante e percebeu que estava sem calcinha por baixo da saia; percebeu, também, alguns arranhões nas pernas. O que teria acontecido? Ela pensou logo que fora estuprada, mas não sentia nada diferente em sua vagina, estava intacta. Seu corpo estava todo dolorido, como se tivesse pegado alguma dessas febres tropicais, mas a vagina estava ilesa. Ainda não se lembrava de seu passado e as únicas lembranças se resumiam nos eventos ocorridos após ter acordado naquela calçada esburacada. Sentiu a necessidade de falar com alguém, talvez pudessem fazer algo por ela.

Começou a procurar alguém entre as pessoas que estavam na rua que tivesse a cara de solidária. “A solidariedade pode ser vista no rosto?” Sabia que raciocinava bem, pois teve esse questionamento formulado em sua mente. O que teria a feito esquecer tudo? Mariana tentou falar com uma ruiva que passou de seu lado, mas foi ignorada; era como se fosse um fantasma, ninguém dava conta de sua presença. Um senhor de quarenta anos veio em sua direção e esbarrou com o ombro nela. O impacto a fez cair novamente no chão – o senhor seguiu seu curso como se nada tivesse ocorrido. Agora tinha certeza que não era um fantasma, era real, palpável. Pôde levantar sem ajuda de ninguém.  

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MARIANA


Mariana acordou com o calor produzido pelos raios de sol que queimavam a pele de seu rosto. Ao abrir seus olhos mirou imediatamente o sol e sentiu o efeito da força de sua luz. Ficou sentada pelo menos dois minutos até recobrar a visão. Primeiro observou o local onde estava sentada: uma calçada mal feita e cheia de buracos. A sensação de Mariana era de completa desorientação, pois não sabia onde estava e nem como tinha chegado até ali. Apenas ecoava em sua mente a palavra MARIANA. “Eu sou Mariana”. Não entendia essa necessidade primária de auto-identificação. Era como se fosse a última lembrança que a diferenciava de tudo no mundo. “Eu sou Mariana e não sou essa calçada esburacada”.

Vestia uma camisa branca, enfeitada com muita renda e uma saia marrom que cobria até o dedo dos pés – parecia uma hippie. Tentou se levantar, mas ficou tonta e sentou novamente. Tinha que se levantar porque o chão estava começando a esquentar. Mariana percebeu o gosto alcalino na boca e uma vontade imensa de vomitar. Uma sensação que ia e vinha; oscilava. Ao ficar em pé observou onde estava: era uma rua constituída com casas dos dois lados, cuja padronização levava a crer que era um desses conjuntos habitacionais ofertados pelo governo; um lugar para gente pobre. Ela caminhou um percurso entre duas casas e se apoiou no muro de uma delas, pois a tontura tinha voltado. “O que vai acontecer comigo? Como vim parar aqui?” Já eram perguntas que povoavam a mente de Mariana. Na mesma casa em que tinha se apoiado ouvia-se barulhos de seu interior. Ela, então, resolveu bater palmas para que alguém pudesse ajudá-la. Uma mulher negra apareceu carregando um bebê nos braços. “Água”. Foi a única palavra que Mariana tinha conseguido pronunciar. A negra gritou por um dos filhos que logo veio – era bastante magro e tinha a pele mais escura que a da mãe – e pediu ao garoto que trouxesse água. O portão da casa nem sequer foi aberto  e Mariana chegou a tomar dois copos d’água. No primeiro copo percebeu que a ânsia de vômito aumentou, no segundo parecia que a água era composta de centenas de agulhas que feriam sua garganta e laringe. Quando a água do segundo copo bateu em seu estômago voltou imediatamente. Uma contração forte e dolorosa fez com que ela vomitasse. Entregou o copo que ainda estava em suas mãos, olhou para o chão e viu a substância verde que tinha saído de si.

Decidiu continuar caminhando titubeante e nem percebeu que a dona da casa a amaldiçoava pelo vômito deixado em sua porta. Marina tinha traços indígenas. Sua cor vermelha como um jambo era excepcional e seu cabelo era tão liso que não dava uma volta sequer. Começou a observar o cenário ao seu redor. Realmente nunca estivera ali, tudo era estranho e até o ar que entrava em seus pulmões era como de outra atmosfera. As pessoas começavam a sair de suas casas, talvez para o trabalho ou para ir à padaria. Todos, sem exceção, ignoravam a presença da estranha em sua rua, mesmo quando ela soltou um grito agudo.

domingo, 25 de setembro de 2011

VOLTEI


Quanta saudade estava desse blog! Só agora consegui uma internet boa e com preço accessível. Pena que a tela desse computador não passe aromas, toques, pois sentiriam na pele a minha felicidade. Fiquem com as palavras. Eu já estou com elas, talvez morra por elas. O que fiz nesses meses? Nem eu sei. Hibernei, mas chegou a primavera. Estou vendo o que mais amo nesse momento e me sinto vivo, mas com um desejo de morte indizível. Quero morrer nessas linhas, ser cremado nas vírgulas.. ainda não penso, mas sei que existo porque parei no ainda. Deixe de falar, melhor, escrever essas besteiras. Não, devo continuar e acabar definitivamente com isso. Acabar... tudo que quero é isso, dar um basta.

Voltei! Já me reconheceram, mas eu não percebi a mudança.

sábado, 25 de junho de 2011

BUKOWSKI - pareçe que lê meus pensamentos

o humilde herdou

se eu sofro assim diante dessa
máquina de escrever
pense como eu me sentiria
entre os colhedores
de alface em Salinas?

penso nos homens
que conheci nas
fábricas
sem qualquer chance de
escapar -
sufocados enquanto vivem
sufocados enquanto riem
de Bob Hope ou Lucille
Ball enquanto
2 ou 3 crianças jogam
bolas de tênis contra
as paredes

alguns suicídios jamais são
registrados.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

ESCREVI ESSAS PALAVRAS NO FINAL DO ANO PASSADO[que saudade!]


"Cheirou minha camisa impregnada de feromônios. Fez um sinal negativo como sempre faz ao gostar de algo meu. Fiz com que cheirasse mais e joguei meu corpo sobre o seu. Acaricio seu corpo quase por completo; sabe os momentos certos dos toques. Como suspiro tentando tirar de minha mente suas pernas, sua barriga, a cor de sua amilo. Sabe me ganhar deixando minhas mãos escondidas nas tuas. Gosta de mexer em minha barriga e me arrancar cócegas. Está tocando meu corpo e cada dia descobre um novo recanto, uma nova forma de me matar através dos sentidos. Fico pensando... Estou definhando novamente. Esse é meu principal sintoma, mas fico para mim, para a página. Não expresso ao mundo o que passa, meu exibiconismo é velado, dissimulado."

NA SALA DE ESTAR


Tinham se conhecido há uns dois anos. Quando estavam juntos era apenas uma relação de carinho. Osmair contava com dezoito anos e Sandra dez a menos que ele. Mesmo com a diferença de idade a garota apresentava uma atração inexplicável pelo rapaz que adorava sua companhia. Ela freqüentava a casa de Osmair para brincar com a irmã dele que possuía a mesma idade.
Os anos se passaram e Sandra se tornou mais próxima de Osmair que de sua irmã. Os pais do jovem reprovavam a aproximação dos dois, visto afirmarem não existir amizade entre homem e mulher. Um evento inesperado mudou o rumo da relação dos dois: quando o garoto estava em frente ao computador Sandra chegou por trás e o abraçou. Até esse momento estava tudo dentro da normalidade, mas nesse abraço a língua de Sandra passeou dentro da orelha de Osmair. Ele teve um sobressalto e ficou excitado instantaneamente.  Derrubou a cadeira que estava sentado e, com o barulho, sua mãe correu até a sala perguntando o que acontecera. Osmair respondeu:
- Sandra me assustou e a cadeira caiu.
A garota também ficou assustada com a situação e saiu correndo. Porém, a relação dos dois tinha mudado para sempre.
Quando Sandra completou quinze anos uma atração física e incontrolável entre os dois surgiu, mas ambos não revelavam seus sentimentos um ao outro. Tocavam-se e sentiam como que uma corrente elétrica atravessasse seus corpos. Osmair sentia um ciúme enorme de Sandra e ficava, literalmente, doente só em pensar que ela gostava de outra pessoa.
Nesse período que Sandra teve seu corpo desabrochado, tal como uma flor que atrai pelo cheiro e pela beleza, Osmair conseguiu uma camisa dela e dormia todas as noites abraçadas a ela. Ele tinha roubado essa peça de roupa quando Sandra foi dormir no quarto de sua irmã. Embriagava-se todas as noites com o cheiro de Sandra. Essa atração de Osmair logo se tornara uma obsessão. Masturbava-se três vezes ao dia pensando nela. O máximo de intimidade que tiveram foi numa sexta-feira da paixão quando estava só em casa e Sandra apareceu procurando a irmão de Osmair. Ele deu um sorriso no momento em que a viu parada em sua porta ao sol. Nela tudo parecia atraente: seu cabelo negro, sua nuca aveludada, os pelos que apareciam em sua barriga. Ele conseguia sentir o cheiro dela com dois metros de distância. Ela perguntou o que ele fazia; respondeu que estava assistindo a um filme – foi para a sala de estar com ele.
Sandra sentou-se no sofá e Osmair deitou-se no chão disfarçando a excitação que saltava aos olhos. Começou a alisar as pernas da garota que também ardia em suas entranhas. Ela fingia que não estava acontecendo nada. Ele se ergueu e beijou a coxa dela; numa atitude rápida e ousada tocou a vagina de Sandra por cima da bermuda. Ele levantou e saiu correndo da casa. Osmair ficou muito preocupado, pois pensava que ela nunca mais iria olhar para ele. Foi tomar banho e, logo após, deslocou-se à Igreja par a celebração da sexta-feira da paixão. Já dentro do templo seu corpo e sua alma desejavam Sandra. Naquele dia nunca tinha se sentido tão cheio de desejo, tão mortal. O padre estava erguendo uma cruz de madeira e Osmair só lembrava a cor dourada da amada ao sol – teve uma ereção dentro da Igreja.            

quarta-feira, 15 de junho de 2011

SEM CORAÇÃO [parte final]


O mais chocante, sem sombra de dúvida, foi o estado do corpo de meu amigo. Não o chamo de amigo apenas porque está morto. Guardo uma afeição por ele. Não pude ver seu rosto; sua camisa foi levantada e cobria sua cabeça. Seu tórax estava exposto. Não sabia que possuía um sinal perto das costelas: uma marca negra e se forma definida. Sangue por todos os lados e pegadas vermelhas parecia fazer parte da decoração da cerâmica que revestia o chão. Ate hoje lembro a surpresa que tive ao perceber o horrendo rombo feito nas costelas de Sandro. Era um quadrado quase perfeito de onde jorrava muito sangue, mas dava para ver o branco das costelas. Cheguei à conclusão que tinham sido serradas porque, ao lado do corpo, estava um arco de serra todo melado com o líquido vermelho.
Dentro da casa já estavam duas pessoas e já podia ouvir os rumores que tinham arrancado o coração de Sandro. Acompanha tudo isso atônito, ma podia acreditar. Arrancaram o coração de meu amigo. Não se sabe se o coração fora arrancado com ele vivo; qual a diferença?
Sou péssimo em desenho, senão faria um para mostrar como era o arco de serra que abriu as costelas de Sandro. Consistia num arco parecido com o que lançam flechas, mas feito de aço que possuía três extremidades: uma para o apoio das mãos e as outras duas seguravam a lamina de serra. Essa lamina era de cor amarelada com serras minúsculas, porém tão poderosas que cortavam até alguns metais. O apoio para a mão era emborrachado. Estava todo melado de sangue. Imaginei como a barbaridade foi consumada; como aquela serra atravessara os ossos; de que modo teria feito o buraco na forma quadrada. Será que foi um médico que fez aquilo devido à precisão do corte?  Qual a intenção de deixar Sandro sem coração? Estaria ele envolvido em alguma seita de magia negra? Não sei. Nem a polícia queria saber. Nenhum familiar foi reclamar o corpo.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 6]


Estava num estado de sonolência absurdo. Não entendia direito o que estava acontecendo e levantei da cama atordoado. Só deu tempo de vestir uma camisa e colocar minha sandália de plástico. Quando cheguei à rua o sol feriu meus olhos e aumentou ainda mais minha sensação de desorientação. Nem me lembrei de pegar a bicicleta; não era tão longe assim; apenas chegaria mais rápido. O que sentia era um nó na garganta. Só percebia que a vida era realmente rápida nesses instantes, tão veloz como minhas pernas eram naquele momento. Por incrível que pareça, não demorei tanto como devia e cheguei ao alto da ladeira que era o começo da rua de Sandro. Estava lotada, mas não foi isso que chamou minha atenção de imediato. A luz. O brilho dos últimos raios de sol estava refletindo nas águas sujas da maré, mas logo se dissipou. Quando voltei do brilho hipnótico percebi que todos corriam na direção da casa do finado.
Ainda não tinha nenhuma autoridade policial para dar ordem ao caos instaurado naquela rua. Contudo, as pessoas estavam com medo de entrar na cena do crime. Os curiosos olhavam desconfiados pela janela; não queriam se envolver em nenhuma espécie de problemas. Quando entrei na casa duas pessoas estavam olhando o corpo, provavelmente vizinhos mais corajosos. Antes de descrever o qual o estado do corpo de Sandro quero relatar algo que achei estranho – poderia passar despercebido para muitos, mas não para mim. A TV e o aparelho de DVD estavam ligados e tocando uma banda de pagode. Já tinha comentado anteriormente que Sandro não gostava de música. Realmente não entendia aquela banda sendo executada nos aparelhos eletrônicos de Sandro.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 5]

Depois que minha mãe me salvou de uma encrenca, Sandro não demorou mais que cinco minutos; disse que ia para casa. Contudo, antes de ir embora, me contou algo interessante: afirmou que esse tal vizinho estava devendo uma boa quantia de dinheiro a ele e da próxima vez iria ameaçá-lo; caso não pagasse, cumpriria a promessa. Estava tentado ir à casa de Sandro, mas o olhar de minha mãe ainda não tinha saído de minha retina. Entrei e fui dormir meu pesado sono vespertino. Despertei! Mãe balançava minha cabeça.
- Acorde que o menino que trabalha no açougue veio dizer que Sandro acabou de ser assassinado. Acho que foi na casa dele.

domingo, 29 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 4]

Desde a minha prima nunca mais tinha visto ele com mulher. Suas psicoses e seu contato com as drogas devem ter deixado ele sem tesão. Vou contar, de uma vez por todas, como foi seu assassinato. Devo adiantar que não presenciei, mas fui ver o corpo minutos depois. Não sei se é privilégio, mas creio ter sido a última pessoa a estar com ele até seu encontro com o assassino.
Minhas idéias às vezes são desconexas, mas tentarei contar sem me perder na empolgação. Não sei se é comum, mas estou com o nível de adrenalina alto nesse instante. Sinto meu coração pulsar em minha garganta. Deixa para lá! Foi numa sexta-feira. Sandro tinha ido entregar cocaína a meu vizinho e, como sempre, passou lá em casa.
A tarde estava muito bonita. Aqui no Brasil isso significa o céu sem nuvens e um calor imenso. Fazia um mormaço tremendo e a árvore de Ficus na frente de casa não balançava uma folha sequer. Estava deitado na rede – suando e quase dormindo – quando ouvi palmas na casa d meu vizinho. Sabia que era Sandro, pois possuía um jeito peculiar de bater com as mãos: as pontas dos dedos da mão direita batam bem no centro da outra mão fazendo um estalo agudo. Foram doze palmas. Lembro até isso! Sabia que viria até minha casa e já passei a ficar sentado na rede.
Estava muito calmo, nunca tinha o visto dessa forma. Estranhei. Perguntou sobre o paradeiro de meu vizinho e respondi que não sabia. Ofereceu-me erva transgênica vinda de um país da América do Sul. Prefiro não dizer o nome da erva. Sim! Tenho surtos de moralismo. O que impressiona é que até essa droga natureba já sofre modificação genética. A condição imposta para ganhar a Mac... a erva era de ir pegá-la em sua casa. Por sorte, minha mãe estava chegando do centro da cidade naquele instante; como estava carregada com compras fui ajudar a segurar as sacolas. Em dois segundos, dois míseros segundos, ela lançou-me um olhar ameaçador. Caso minha mãe não tivesse lançado esse olhar mortal talvez tivesse aceitado o convite de Sandro e poderia não estar contando essa estória. Não gosto de desobedecer minha mãe e nesse caso deu muito certo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 3]


Não posso deixar de contar mais uma do Sandro: o convidei para uma festa e fui buscá-lo com o carro de meu pai. Creio ter colocado suas melhores roupas e, devo dizer, sem safadeza nenhuma, que ele era uma cara “de presença”. Na verdade esse termo é posto para um homem não assumir que o outro é bonito. Então, Sandro era um cara “de presença”. Voltando à festa: ele foi a sensação, todas as meninas o queriam tirar para dançar. Ele se portava como um burguês – dizia que tinha a melhor moto, que morava na zona sul, etc. Eu apenas admirava sua “performance” de longe. Roubaram um celular nessa festa; desconfiei dele, mas não pude provar.
Um vizinho meu estava comprando pó a ele. Foi esse o motivo de vê-lo com muita freqüência. Trocávamos palavras duas vezes por semana sempre para me perguntar se eu tinha visto o filho dele; depois me contava suas inquietações. Em uma das conversas à porta de minha residência afirmava estar sendo observado por uma pessoa da casa ao lado da minha, mas eu não conseguia ver nada. Ele continuava a dizer que tinha alguém lá no escuro. Como não vi nada dei de ombros. Acho que é uma expressa antiga, “dar de ombros”. Devo ter lido em algum livro, pois nunca vi ninguém usar isso. Realmente não entendia essa mania de perseguição de Sandro e encarava como uma dessas doenças urbanas que os psicólogos inventam todos os dias. Não quero que os profissionais da psicologia se sintam hostilizados pelas minhas palavras. Reitero: não entendo nada de psicologia. E, quando afirmei que eles inventam doenças... Ah! Deixa para lá.
Minha empolgação em contar essa estória me fez se esquecer de descrever Sandro. Já tinha dito que era “de presença” e vou entrar em detalhes. Como me disseram que beleza é algo relativo e cultural, cheguei a essa conclusão, pois todas as garotas que o viam se interessavam por ele. Tinha os olhos castanhos e sempre deixava a barba por fazer. Tinha a pele branca e era magro, mas de uma magreza não anoréxica. Uma coisa que achava curioso em seus trejeitos era que nunca piscava quando alguém lhe estava contando algo. Arregalava ligeiramente os olhos e lhe encarava sem desviar a atenção. Possuía um topete natural que caía na testa e fazia-o parecer um italiano da década de 1960. Sandro foi a primeira pessoa que me disse não gostar de música. Pelas poucas vezes que fui a sua casa pude perceber que não possuía aparelho de som, aliás, aparelho eletrônico só havia uma TV e um aparelho de DVD. Era fanático por futebol gostava do time de maior torcida do Brasil. Não vou citar o nome desse time, pois o detesto.



terça-feira, 24 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 2]

Não falava uma palavra sem mexer no nariz. Foi nesse momento que ele observou no céu uma estrela cadente. Infelizmente só pude ver o final desse fenômeno – um dos mais bonitos da natureza. Ele fez um pedido inaudível aos meus ouvidos. Logo após percebi que ele realmente estava com problemas. Começou a contar uma história sem pé nem cabeça. Afirmava a todo o momento que já possuía dinheiro para comprar uma moto. Disse, ainda, que tinham arrombado sua casa e atirado seu sofá na maré. Quando tinha chegado ao começo da rua em que mora, ou seja, no alto da ladeira, pôde observar seu sofá boiando nas águas poluídas e salgadas da maré que, como disse anteriormente, era o final da rua. Sandro disse que não sabia como e quando sua casa foi arrombada, pois estava fora há três dias. Estou louco para contar logo seu assassinato, porém é muito importante contar como foram meus últimos contatos com ele – não quero botar a carroça na frente dos bois.  Nesse mesmo dia afirmou estar sofrendo uma perseguição. Não entendi a princípio e não dei importância ao que ele falava, mas segurou meu braço e apertou:
- Acho que querem me matar, mas não sei quem é. Ontem a noite estava deitado na cama e ele tirou uma telha e ficou me observando lá de cima. Só seu para ver a parte branca de seus olhos. Não conseguia me mexer de medo e pegue no sono; quando acordei a telha estava faltando.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte I]


Devo confessar que sou um leitor voraz, mas sempre esqueço o nome dos livros. Tenho a necessidade de dizer isso antes de iniciar a história propriamente dita. Preciso ser viril para terminar ela – o que acabei de dizer não é original, pois li em um livro de uma mulher. Concordo com a autora: escrever exige força e tenacidade. Vou contar os fatos que antecederam um assassinato, mas não foi uma morte comum. É comum morrer, porém dessa vez me impressionei. Não fico abismado rápido com as coisas e sei que não sou um bom narrador. Vou correr um enorme risco tentando contar esses eventos. Quero pedir desculpas antecipadamente, pois sei que sou inconstante  – posso parecer empolgado e, logo na seqüência, não demonstrar nenhuma emoção. Agora, portanto, estou ansioso para contar a estória do assassinato de um conhecido meu.

Sandro era seu nome. O conheci através de uma prima, visto ser ele pai de seu filho. Para minha sorte – e dela – esse relacionamento não durou muito. À primeiro vista ele era esquisito: morava só, ninguém sabia quem o sustentava e andava bem arrumado. Com certeza roupas de marca não faltavam em seu armário. De uma coisa eu sabia com certeza, não deve ser surpresa; já devem imaginar que ele usa drogas. Eu mesmo já tinha fumado um entorpecente popular com ele, mas agora sabia que estava viciado em cocaína. Contudo, ele mesmo me informou que agora estava vendendo essas substâncias. Lembrei que meus amigos sempre caçoavam de mim por utilizar a palavra entorpecente. Gosto dessa palavra, pois parece exprimir os efeitos das drogas: e-n-t-o-r-p-e-r-c-er. Sandro morava em um local inóspito, pelo menos para mim, pois era uma vila perto de uma maré. A rua era uma ladeira e não possuía asfalto; era um lugar tenebroso: as casas não tinham reboco, o que dava um aspecto ainda mais feio ao local. Era um lugar pobre típico do Brasil. O movimento nessa rua era bastante intenso porque na última casa havia uma “boca de fumo” e gente de todos os tipos desciam a ladeira para comprar drogas.

Certa vez, Sandro chegou afobado lá em minha casa. Minha mãe tinha ido atender a porta e já veio me dizendo:

- Já falei que não gosto desse rapaz. Para de andar com ele. Basta o que fez a sua prima.

Estava completamente “chapado”.   

sexta-feira, 22 de abril de 2011

EXISTE UM TEMPO PARA CADA COISA - NÃO ME CONFORMO





“Há um tempo para cada coisa”. Essa máxima hebraica é muito difundida para explicar nossa passividade perante certos eventos humanos. Nunca sabemos o tempo certo de nada; as coisas vão acontecendo e nós nos conformamos repetindo àquela primeira frase. Óbvio! Trato das coisas humanas. É muito certo que há um “tempo para plantar e outro para colher”, mas o tempo – meu tempo – não obedece as essa leis naturais. Minhas pulsões aparecem desassociadas das estações do ano. Acho que não sou natural.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

VIDA+OBRA=OBRA+VIDA


“Ninguém entra para o panteon dos filósofos por se dedicar a ter apenas pensamentos eternos, pois o tom da verdade só vibra longamente quando o autor interpela sua vida.” (MERLEAU-PONTY) “A filosofia está em toda parte, até mesmo nos fatos, e em parte alguma e em domínio algum acha-se preservada do contágio da vida”. (MERLEAU-PONTY) Tive um professor na graduação que era contra essa visão de Merleau-Ponty. Afirmava que a obra do filósofo era independente de sua vida. Ele afirmava, por exemplo, que não importava se Rousseau teria deixado seus filhos para a adoção e ter escrito o Emílio, um grande tratado sobre educação das crianças burguesas iluministas. Concordo com Ponty, pois não há como separar o pensamento do autor das vicissitudes dele. Teriam outra coisa para provar, a não ser Deus, os filósofos medievais que eram padres? Foucault, que escreveu a História da sexualidade e a História da Loucura, era muito afetado por sua homossexualidade e seu problema psicológico. Até o exemplo de meu antigo professor pode ser utilizado contra ele: por ser uma coisa que marcou a vida de Rousseau, a educação se tornou um tema crucial no conjunto de sua obra. Óbvio! Não deixaria de ler o livro de Bacon por ele ter sido um mau caráter em sua vida pessoal. Muito menos deixar de ler Wittgenstein por ter sido homossexual. O que defendo é que no percurso de suas vidas fatos e acontecimentos tem um papel importante na influência contida em suas obras – elas estão impregnadas da vida do autor. O caráter de universalidade; que faz do filósofo um autor, do literato um autor, do cineasta um autor; só é alcançado porque percebe que o problema não atinge só a ele, mas a humanidade. Hoje assisti a um filme de autor: COPPOLA. A história desse filme veio a calhar com o que refletia anteriormente. Tetro (2009) foi o filme assistido. Em preto e branco, o personagem central – que dá nome ao filme – é muito curioso. Dois irmãos se encontram na Argentina e ambos são americanos. Tetro é super estranho e hostiliza a visita do irmão. É revelado que a mulher de Tetro é uma médica de loucos que o teria conhecido em um manicômio – o louco afirmava ser escritor e guardava um manuscrito feito em código dizendo ser uma obra prima. Não conseguia perder uma fala desse filme, pois eventos inesperados deixavam a trama intensa. Apesar de não gostar do personagem fiquei feliz de ver Carmem Maura, atriz fetiche do genial Almodóvar. Seu personagem é uma crítica cultural famosa. “Ainda continuo a não ligar para sua opinião” – é a resposta de Tetro (ou COPPOLA) a ela. Ora, a obra prima escrita por Tetro, nada mais é que a história de sua própria vida. Não contarei mais, mas o final do filme é surpreendente. Foi um bom dia, um bom filme, uma boa companhia. Se compor uma obra algum dia, não tenha dúvida, esses momentos estarão inclusos lá.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

UM ANO A MAIS QUE A METADE DE MEIO SÉCULO


Lembro que no ano passado, nesse mesmo dia de aniversário, perguntava se deveria comemorar mais um ano de vida ou mais um perto da morte. Ainda não decidi a comemoração, mas estou feliz por estar vivo. Confesso que começo a me preparar psicologicamente para a data de meu aniversário com um mês de antecedência. Não sei se é algum trauma, mas fico profundamente depressivo nessa data. Contudo, nos últimos anos o carinho dos alunos tem tornado esse dia muito agradável. Creio ser um carinho irônico, sincero e devoto. Certa vez escrevi em meus alfarrábios: “Que mundo sedento! Observo pessoas cada vez ais carentes; poderia compartilhar com todos. Sou traficante de carinho...” – tenho a mania de ler coisas que escrevi a muito. Tenho hoje a necessidade de total entrega a tudo e a todos. Quero fazer parte do domínio público. Posso não entender o que escrevo e o risco que corro, mas é isso.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

BLUETOOH

Não sou apenas uma transferência de dados. Nenhuma vocação para ser infravermelho, muito menos para bluetooh. Querem sugar, por vias telepáticas, todo meu interior – me nego. A única transferência seria apenas de fluidos e se sinta feliz com isso. Para mim basta: a memória é minha e as imagens passaram em um fotoshop. Realmente sou para poucos, quase ninguém. Sou assim; não sou exclusivo, apenas escolho – a atitude deve partir de mim. Pareço imortal, um insensível, mas não. Choro, amo, tenho dor. Sou essencialmente mortal. Aparento ser exibicionista sentimental, contudo não passa de uma farça – o que é meu fica para mim. Minha motivação são fatos corriqueiros, porém eu os deturpo, troco os personagens etc. Odeio psicólogos e os que querem me analisar como tal. Desista! Primeiro: não sou uma pessoa interessante e minhas excentricidades só servem para mim. Segundo: não tento fazer nenhuma psicologia reversa, ou seja, chamar atenção ao máximo me escondendo e causando a curiosidade. Sou real e imaginário ao mesmo tempo, mas saiba que sou e estou duro na realidade. Confesso que tentei usar a técnica do bluetooh sentimental; logo voltei atrás e cancelei.

domingo, 27 de março de 2011

MEMÓRIAS DE MINHAS PUTAS TRISTES... ESTOU FICANDO VELHO


Saí finalmente de meu jejum que já fazia duas semanas: não escrevia para o blog e ao estava lendo nenhuma obra literária nem filosófica. Justifico: estava estudando para uma seleção de emprego – o pior é que ela foi adiada para semana que vem. Peguei um livro emprestado com Luciana (www.reunindopalavras.blogspot.com); o primeiro que leio de Gabriel Garcia Marquez: Memórias de minhas putas tristes. No começo dessa obra lembrei imediatamente de BERGMAN, que fez alguns meus filmes prediletos. A lembrança foi de Morangos silvestres, no qual trata da velhice. A conexão entre os dois - livro e filme – está nessa citação: “ a moral é uma questão de tempo”. Apesar do filme em questão ser lindo, o livro é depressivo. Estou me arriscando ao ler essa obra do premio Nobel de literatura, pois só aumenta meu desejo de eremita urbano. O personagem do livro é extremamente solitário e para ter companhia preferia pagar às prostitutas. No aniversário de noventa anos ele quer uma excentricidade: uma jovem virgem para tirar o cabaço dela. Bom se Jorge Amado pode utilizar a palavra cabaço eu também posso. Não quero me comparar ao fantástico escritor baiano, mas, como o personagem, estou ficando sem moralismos ridículos de uma sociedade cheia de máscaras. Ontem alguém prestou atenção em minha cabeça e percebeu cabelos brancos que despontam nela; bem no dia que comecei a ler o livro. Coincidência?

terça-feira, 15 de março de 2011

PENSO EM FAZER UMA MÚSICA DISSO

PIRATA AMADOR


Sempre amei o mar de sus olhos e
atravessar suas ondas e ver sua majestade.
Quantoa amores já teriam afogado em suas águas?


Amador penso que sou.
Um pirata em automar.
Domar um coração selvagem
sem correr riscos em me afogar.


Odor salgado que experimento
vem da amplitude do encontro com o céu.
Quantas miragens foram vistas nesse junção com o mar?

segunda-feira, 14 de março de 2011

NUNCA MAIS TINHA CITADO MEU CONTERRÂNEO

É opinião minha, não sei se justa, que o comentarista político está para o repórter assim como o crítico literário está para o escritor. Há qualquer coisa de eunuco no primeiro e no terceiro.
(JOEL SILVEIRA, Você nunca será um deles)

sexta-feira, 11 de março de 2011

ANDROPAUSA PRECOCE

Não sei se estou ficando velho, mas de uns tempos para cá estou sentindo calor demais. Longe da andropausa estou suando muito. Tive que comprar um ventilador para poder dormir. Creio já ter comentado em postagem anterior uma imagem que me surpreendeu: havia apenas 2 metros de distância entre o calçadão de Copacabana e o mar e uma das marés cheias do ano passado. O aquecimento global é real!
Li em uma das revistas sobre história que uma das hipóteses do desaparecimento da civilização que ergueu enormes estátuas na ilha de Páscoa foi um desequilíbrio ambiental causado por esse povo. Será que é esse o destino de toda humanidade? Outra questão: se somos parte da natureza, como o resto dos animais, a natureza seria suicida? Não vejo nenhum tucano emitindo gazes poluentes na atmosfera. Não observo nenhum tigre de bengala fazendo queimadas. O ser humano, que se diz também animal e parte da natureza, é capaz de fazer isso e mito mais. Então, a natureza seria suicida ao produzir um ser com essa potencialidade autodestrutiva. A não ser que o ser humano derive de outra realidade cósmica, como vi em um filme: “Missão Marte”.
E pensar que nos preocupamos com coisas tão insignificantes e bobas. Pensar que guerras são decretadas com o intuito de manter o processo de extinção global acelerado me deixa triste. Que reuniões de líderes mundiais servem para turismo diplomático, isso todo mundo devia saber.
Estou com vontade de me tornar ermitão e aproveitar os últimos momentos de unidade com a natureza, visto que a dicotomia moderna (sujeito/objeto) me fez senhor dela. Desde a revolução industrial estamos poluindo o planeta. Quinhentos anos de poluição e estamos sentindo as conseqüências agora. Estou completamente suado a escrever tais palavras.

quinta-feira, 10 de março de 2011

POR QUE GOSTO DE PINTURA



Estou na fase inicial de meu novo quadro. Nunca fiz curso de pintura e nem de desenho, mas gosto de me aventurar em uma tela em branco. Estive pensando nos artistas/ ou escolas que estão me influenciando. Como sou petulante! Será que Monet sabia que suas telas eram impressionistas? Será que Louis David se intitulou neoclássico? Geralmente as definições de escolas artísticas e literárias são nomeadas após a consolidação dessa nova técnica ou estilo. Portanto, não sei em que escola estou metido, mas tenho consciência de meus mestres. Fui motivado a adentrar nesse mundo em 2009, ao ouvir uma história cabulosa sobre um quadro que herdei de meu avô.
O quadro em questão foi pintado no final da década de cinqüenta. A história é a seguinte: meu avô estava sentado na porta de casa, no bairro 18 do forte – em minha imaginação ele estava com uma boina (tipo Chico Xavier) e óculos escuros –, numa posição imponente e arrogante, quando um caminhão de mudança derrubou esse quadro que estava assinado por A. Figueiredo. Será que o (A) da assinatura do quadro é, na verdade, uma preposição indicando que deva pertencer a meu avô? O quadro tem influência do cubismo e surrealismo. As figuras pintadas (A sagrada família) são como fantasmas.
Após a morte de meu avô fiquei com o quadro e o coloquei em uma moldura. Sempre fui bom em desenhar e estou em meu oitavo quadro. Na minha próxima tela irei adentrar na figura humana. Em postagens anteriores, principalmente do ano passado, tem imagens de meus quadros já registrados. Até isso tenho que registrar!

quarta-feira, 9 de março de 2011

17 anos de morte do "Velho safado"(BUKOWSKI)



Caramba! Como gosto desse autor; talvez não o quisesse conhecê-lo pessoalmente, mas tenho profunda admiração por ele. Ele me ensinou a crer em sonhos, mas sabendo que eles são cruéis; que vale a pena estar no mundo, mas ter consciência que ele é rude. Suas histórias autobiográficas revelam o que o ser humano na cidade tem que ser. Vale à pena citá-lo no aniversário de sua morte – 17 anos de morte desse velho safado:
“Escrever? Que diabo significa isso? Alguém está com medo ou com raiva do que escrevo. Olho bem, e claro que tem uma máquina de escrever por perto. Posso ter uma espécie de escritor, mas lá fora existe outro mundo, feito de manobras imposturas, grupos e macetes.”

terça-feira, 8 de março de 2011

SONHO OU PESADELO?



Realmente estou com dúvidas se a atividade cerebral que me fez acordar esta manhã foi um sonho ou pesadelo. Sei que sonho muito à noite, mas na maioria dos casos não me recordo com exatidão. Hoje ocorreu o oposto.
Cheguei cansado do bloco de carnaval (Rasgadinho) – o primeiro da minha vida, pois não gosto dessa festividade – e assisti a um filme bobo com meu irmão, logo depois fui dormir. Acordei na madrugada com fome: servi-me de um pedaço de pão e voltei à cama. Sem mais delongas; o sonho foi o seguinte: caminhava por uma rua familiar e entrei e um lugar reservado para retiros – creio ter sonhado por ver uma reportagem que informava ter pessoas que trocavam a “muvuca” do carnaval por retiros espirituais. Entrei nesse local que também me parecia familiar. Carregava uma sacola que guardava minhas roupas e “não via a hora” de deixá-la em algum lugar. Uma freira simpática veio me receber e informou que poderia me instalar em qualquer sala, pois serviam de quartos. É nessa parte do sonho que comecei a ficar agoniado: todos os locais que procurava para me acomodar estavam superlotados e a pretensa paz que esses retiros oferecem estava se transformando em um pandemônio. Muito barulho, gente correndo por todos os lados, bebês chorando – parecia uma estação de metrô de uma grande metrópole. E o pior: todos me ignoravam. Saí daquele recinto angustiante e nem olhei para trás. Quando cheguei à porta de casa um gordo (não é uma ofensa) que não suporto trocar uma mísera palavra, portava uma câmera potente e começou a tirar fotos como um paparazzi. Acordei e fiquei sem saber se foi um mero sonho ou pesadelo.
Quando tenho pesadelos meu coração dispara e acordo sem ar. Parece cena de novela, mas é assim comigo. Dessa vez fiquei apenas atônito.

sábado, 5 de março de 2011

FUGAZ - (EXPRIME BEM MEU DIA)

Fugaz
O que dói
no amor
não é a insensatez
nem o êxtase
mas a justa consciência
do fugaz
(Núbia Marques, escritora sergipana)

quarta-feira, 2 de março de 2011

LIVRO DA SEMANA QUE REMETE AO ANO PASSADO



Meu gosto literário deve e foi melhorado com os anos. Devo a essa melhora a um convívio acadêmico bom e a minha atitude suicida de querer cada vê mais estar isolado. Gosto de prosa e poesia. Ano passado tive a oportunidade de ler “Uma temporada no inferno”, de Rimbaud. Apesar de achar extremamente difícil, a estrutura simbólica construída me impressionou. Atualmente estou na segunda parte do livro “A hora dos assassinos”; subtítulo: “um estudo sobre Rimbaud”. O caráter erótico nos textos de Miller foi um dos fatos que o deixou famoso e odiado. Espero que até o final do livro ele possa identificar o simbolismo erótico mundano de Rimbaud.
Vale à pena citar MILLER:
“O caminho do céu passa pelo inferno, não passa? Para merecer a salvação é preciso estar inoculado com o vírus do pecado. E ter saboreado todos, os capitais como os veniais. Tem que se chegar à morte com todo apetite, sem recusar nenhum veneno, sem rejeitar nenhuma experiência, por mais degradante ou sórdida que seja.” a FOTO dessa postagem é do jardim de minha casa: a flor exposta só aparece uma vez por ano no mês de janeiro - essa apareceu em fevereiro e murchou no mesmo dia.

terça-feira, 1 de março de 2011

BRUNA SURFISTINHA + ALCOOL = POSTAGEM ATRASADA


AS PALAVRAS SEGUINTES FORAM ESCRITAS ONTEM, MAS SÓ TIVE A OPORTUNIDADE DE POSTAR HOJE:
“Estou escrevendo em um terminal de ônibus. Espero uma amiga para irmos juntos “Bruna Surfistinha”. Essa produção nacional já foi assistida por meio milhão de pessoas na estréia – uma marca interessante para o mercado interno do cinema. O que chamou minha atenção nesse filme para me deslocar ao shopping? (Em Aracaju só tem cinema em shoppings, deve ser uma tendência nacional.) Talvez a febre surfistinha do erotismo nacional? Gostaria de ter lido o livro que deu origem ao filme, mas ainda não tive a oportunidade. Minha amiga está chegando... quando voltar escreverei a impressão que tive do filme [...] parque da sementeira [...] álcool [...] sexo verbal[...]
Cheguei a casa com a mente perturbada pelo álcool, mas me dispus a continuar a escrever. A impressão do filme citado foi boa. Não esperava, mas superou minhas expectativas. Sem muito moralismo, gostei da determinação da personagem, traçava metas e planos para alcançar seus objetivos. Não percebi nenhuma apologia à prostituição e em uma condenação àquelas que o fazem. Curti muito a música de Radio Head no final. Mudando de assunto: assim que largar esse caderno de anotações que escrevo irei ler minha nova aquisição – Henry Miller, A hora dos assassinos (Um estudo sobre Rimbaud). Estou super empolgado, pois finalmente irei ler algo do macho de Anaïs Nin

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

MISTÉRIO - PARA ALGUNS (risos)

Escrevi essas palavras em meu caderno de anotações no dia 13/02 deste ano: “Esse jogo de sedução está me enlouquecendo. Passou o perfume que gosto e permitiu que cheirasse direto em sua pele. Fiz isso três vezes e, em todas, fui ao céu. Fez de propósito e percebeu a alteração física que causou em mim.”
Ontem, nesse mesmo caderno: “Como seu corpo se encaixa perfeitamente em minhas mãos!”
Na postagem anterior afirmei estar escrevendo um conto. Uma amiga minha, dona de um blog que sigo, afirmou que escrevemos o que geralmente nossa vida exterior ao texto influencia. Não concordei imediatamente, mas com Anaïs Nin e Hilda Hilst passei a crer nisso – coloquei essa minha amiga ao lado de grandes (risos).
Mas quero propositalmente deixar a dúvida: essas palavras colocadas entre aspas são literárias ou realmente aconteceram? Gosto de mistério.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

NUNCA MAIS VI TANAJURAS


Como gosto desses dias chuvosos! Tornam-se mais intimistas, mais preguiçosos. Nesse instante observo um rival e sei que ganho. Pensei como deve ser a vida social em países que chovem muito – Londres, por exemplo. As reuniões de amigos devem acontecer no interior das casas ou em locais específicos, devidamente climatizados. Parei! Escrevi palavras com “dev”. Senti a necessidade de atualizar meu blog – narcisista, por sinal. Concentrei meus esforços ultimamente em escrever um conto: mania antiga. Brigo com o texto indefinidas vezes e demoro a escrever. Um dia publicarei.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

HILDA HILST - CONCORDO... E MUITO


Concordo com a autora:
“Parmênides sabe dessa grande viagem a caminho da luz. Olha, eu deveria continuar falando sobre Parmênides mas é difícil diante do teu corpo, é muito difícil.”
(Hilda Hist, Fluxo-Floema)

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

ANAÏS NIN - COMO QUERIA QUE ELA TIVESSE VINDO AO BRASIL



Tenho um colega que tem desejo sexual por livros. Lembro de seus suspiros de gozo ao folhear um exemplar da primeira edição de “Os Pensadores” (1973). Sempre tive medo de mexer em seus livros – não sei o que ele faz com eles ao ficar só. Contudo, quem pegar emprestado meus livros pode ficar tranqüilo. Emprestei a um aluno a obra “Pequenos Pássaros” de Anaïs Nin no final do ano passado; estava desesperado para receber de volta esse exemplar. Já comentei minha atração por essa autora. Não resisti à devolução do livro citado e reli uma história erótica. Já pus aqui nesse blog várias referencias ao Brasil quando das obras literárias que leio. Não resisti a mais essa referencia ao Brasil – vejam que hilário:
“Dizia que, na Brasil, as pessoas faziam amor como macacos, a toda hora e sem problemas... Costumava contar, rindo, o conselho que dera a um amigo que iria seguir viagem para o Brasil: [...]
- Mesmo assim, você tem que levar os dois chapéus. O vento pode carregar um deles.
- Mas eu posso apanhar o chapéu no chão, não posso?
- No Brasil, você não pode se abaixar, senão...”
Como são generosos esses estrangeiros com o Brasil; eles não sabem que as coisas por aqui são bem piores... Sorte nossa!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

RITMOS AFRICANOS



Dispus-me a ir a uma festa de interior, nesse caso excepcional o cenário foi o município de Capela. Apesar da raiva que tive, pois fui obrigado a compartilhar o mesmo teto co m uma pessoa que não gosto, deu para aproveitar esses últimos dias antes da volta às aulas. Já tinha conhecimento da programação das bandas e nada me empolgou. Portanto, o único interesse nessa festa foi a oportunidade de tomar bebidas alcoólicas com centenas de pessoas ao redor.
Esse tipo de “música rápida”, ou seja, qualquer estilo musical fora musica erudita clássica, já foi objeto de análise de vários estudiosos. Confesso que o ritmo “baiano” d influência da religião africana contagiou o espírito. Percussão, atabaque, – todos esses instrumentos milimetricamente sincronizados e harmônicos fazem qualquer corpo mexer. Bastaria essa orquestra de instrumentos africanos para que a noite fosse legal, porém alguns “ditos” cantores fazem do religioso ritmo se tornar uma “merda”. Com letras de um apelo sexual baixo, que não consegue deixar meu pau duro, o ritmo se estraga. Não consegui abstrair e me chateei muito com as bandas. Não bastasse o pandemônio gerado por esses conjuntos musicais e pelas presenças indesejadas da casa, fiquei chateado com um falta de consideração que fizeram comigo; não esperava isso dessa pessoa. Mas esses dias da semana não foram totalmente perdidos, pois tomei leite de verdade nesse interior de Sergipe.

domingo, 30 de janeiro de 2011

SERIA SIMPLES


Seria simples
Como seria simples se apenas
existisse nós dois. Não
teríamos medo
do toque,
do olhar,
da voz rouca,
do cheiro,
do gemido,
do arrepio,
dos outros,
dogozo.
Simples seria.

sábado, 29 de janeiro de 2011

RISCOS



Cada vez que vou pagar contas na casa lotérica aproveito para fazer uma “fezinha” nos jogos lícitos do governo, a saber, mega-sena, lotofácil, e lotomania. Contudo, fui jogar sem o pretexto de pagar contas e creio estar viciando. Como são jogas da caixa econômica não ofereço risco à sociedade. Correr riscos na vida se igualaria a concorrer aos prêmios da loteria federal? Fiz esse questionamento após observar minhas vizinhas lésbicas que estão integradas na malandragem. Não sei o que elas aprontaram, mas alguns meliantes deram uma “carreira” nelas. Curioso que já emprestei o filme “Meninos não choram” para elas assistirem.
Ultimamente estou sem correr riscos humanos, só os alienados da loteria. Um gosto mórbido pela solidão – que já dura algumas semanas – está me tirando o prazer de correr riscos. Só irei correr riscos segunda feira.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

[........]

“Em primeiro lugar declarei-me pelo olhar: e seus olhos responderam-me com encorajamentos carinhosos. A muda linguagem, precedendo a voz, soube exprimir com eloqüência e repentino recíproco ardor que nos fazia suspirar”.
(Satiricon,Petrônio) Já postei isso anteriormente; é que acho bonito demais.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

"O TURISTA", MAS MEU DIA NÃO FOI DE UM TODO RUIM



Fui ao cinema assistir “O turista” nessa última segunda-feira. Algo aconteceu comigo de muito estranho. Confesso que o interesse pelo filme se resumiria a seus protagonistas, a saber, Angelina Jolie e Jhonny Deep. Recordo que certa vez estava no cinema para assistir um filme argentino ruim sobre a ditadura militar naquele país e lá, no cinema, encontrei Jadson e Wesley – ambos cinéfilos –; o primeiro afirmou que dormira durante a exibição. Este foi o fato estranho que aconteceu comigo: também dormi durante o filme “O turista”. Nem Deep e Jolie foram capazes de prender minha atenção. O filme é ruim, com interpretações apáticas e com um roteiro previsível.
Mas meu dia não foi todo perdido. Sim! Perdi meu tempo no cinema, apesar de minha mente estar em outro lugar, menos na telona. Comprei um livro de poemas bilíngüe de Pablo Neruda. Nesse mesmo dia recebi a prova de amor mais expressiva que tivera conhecimento, mas com meu humor sádico fingi que não entendi.
Este foi o poema de Neruda que resume meu dicotômico dia:

[Obrigado, violinos]

Origado, violinos, por este dia
de quatro cordas.
É puro o som do céu,
a voz azul do ar.”
(NERUDA)

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

OUSADIA



Interessante a leitura dos fragmentos dos pré-socráticos, visto que as maiorias dos textos propriamente ditos não chegaram a nós; não sei se já confessei ser admirador de Heráclito de Éfeso – o PANTA REI (tudo flui) sempre me atraiu. Contudo, o pré-socrático da vez é Demócrito. Li seus fragmentos milenares e tive a ousadia de discordar de alguns e concordar com outros, como se minha opinião (dóxa) servisse para algo (risos irônicos):
Concordo: “Não desejes saber tudo, para que não se tornes desconhecedor de tudo”.
Não concordo: “O comedimento multiplica as alegrias e faz maior o prazer.”
Concordo: “A vida sem festas é um longo cominho sem hospedaria”.
Não concordo: “Uma mulher é muito mais fina que um homem para maus pensamentos”.
Concordo: “É duro ser governado por um inferior”.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

MISTO QUENTE



Li pela primeira vez em 2001 e fiquei extasiado – Noite na Taverna, de Álvares de Azevedo, está na minha lista de livros que mais me marcaram. Fiz a leitura desse livro de contos “fantásticos” antes de conhecer Poe. Suas vicissitudes são transpostas para o texto com uma maestria não comparável; procura pela morte, incesto, necrofilia são postas em imagens com uma carga dramática impressionante desse romântico. Sempre que leio esse trecho (hoje, por exemplo) fico estupefato:
“Sabei-los, Roma é a cidade do fanatismo e da perdição: na alcova do sacerdote dorme a gosto a amásia, no leito da vendida se pendura o Crucifixo lívido. É m requintar de gozo blasfemo que mescla o sacrilégio à convulsão do amor, o beijo lascivo à embriaguez da crença!”

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

[...........]



Foi condescendente aos meus carinhos. Entregava-se como a fêmea que deseja procriar. Exigiu minha dissimulação e a felicidade invadiu meu peito. Em cinco segundos me perdi em seus cabelos e vaguei em sua nuca; senti como se estivessem fazendo o mesmo comigo. Dormi com todas essas lembranças; morri de saudades em meus sonhos. Não consigo mais escrever sem esses desejos. Quero devorar a página, lamber a tinta grudada no papel. Quero deixar meus fluidos nela. Quero que ela tenha o cheiro que sinto ao ficar excitado. Não existe nada mais terrível que seu olhar – me deixa desarmado e vulnerável aos seus caprichos. Queria falar mal e maldizer essa prisão dos sentidos. Contudo, percebo que só existe isso: uma teorização do sensorial.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

10 ACONTECIMENTOS DOS ÚLTIMOS DIAS



Acontecimentos dos últimos dias: [1] comecei a ler meu primeiro SARAMAGO – “A caverna”. A narrativa desse livro possui um ritmo diferente, preciso identificá-lo dentro de uma estrutura feita de parágrafos enormes. [2] Percebi como tenho uma palavra na ponta da língua ao ser enjoado: FODA-SE. [3] Fui à casa de minha avó – que AMO de paixão. [4] Conheci um casal sadomasoquista – até então só tinha visto no cinema. Gostei muito da agressão mútua e a cara de PRAZER de ambos. A s marcas em seus corpos eram como troféus. [5] Ganhei um voto de afeto e uma indicação sexual de como agir CLANDESTINAMENTE. [6] Tomei sorvete em demasia: não faço isso durante o período das aulas DEVIDO à garganta. [7] Observei uma cor diferente no crepúsculo do dia 18/01/11 – vou tentar reproduzir essa cor em meu próximo quadro. [8] Recordei da feição, ao ver uma foto na casa de minha Avó, da tia idosa e falecida de minha MÃE que se encantou com meu pênis quando tinha 12 anos. [9] Assisti malhação e só confirmei o que já sabia – odeio aquilo. [10] Assiti o filme de Nolan (A Origem) e gostei, apesar da pretensão.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

UMA LEITURA HERMENÊUTICA - UM PACTO DE SANGUE


Aprendi com certo filósofo de Fortaleza – sim! Um filósofo – que “as pessoas só precisam de uma oportunidade”. Aprendi também com ele a fazer certas “leituras” panorâmicas de certas situações. Realmente nada é gratuito; cada gesto, frase tem um significado intencional e essa leitura hermenêutica esclarece coisas que passariam despercebidas.
Ultimamente estou com as “antenas ligadas” para tudo. Quero entender sou recepcionado, amado e odiado analisando gestos e palavras.
Hoje me senti amado e muito querido. Um ritual primitivo e inconsciente me deixou muito feliz. O sangue alheio foi propositalmente depositado em meu braço selando uma relação à sangue. Não precisei tirar o meu sangue. Ufa! Somos primitivos usando microondas? Não quero adentrar nessa questão, mas lembrei de uma música de Engenheiros do Hawai: “Você que tem idéias tão modernas é o mesmo homem vivia nas cavernas”.
Fiz a leitura da situação e percebi a relação masoquista representada pelo sangue alheio. Teria controle sobre a pessoa que depositou seu sangue em mim? Aparentemente sim e quero aproveitar isso ao máximo.
O sangue ficou em mim por várias horas, secou e foi retirado com água. Mas aquilo tornou próximo demais pessoas que não possuíam laços sanguíneos. Quero mais sangue, mais intimidade primitiva, mais toque.

PANDORA


Fujo de uma palavra –
a que estava imersa na caixa
de Pandora. Ela realmente é um
mal como os outros.

[mas, sem ressalva, ajo e
tomo minhas decisões.]

Prefiro morrer por seu amor
que esperar sentado.
Pode parecer retrocesso; somente
quero afastar o pranto salgado.

Quando olho o passado sinto
a força de sua presença.
Mesmo ausente crio coragem para
te trazer de volta.

[Contudo, minha mente sempre
Esteve mergulhada em seu cheiro]

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O SOLITÁRIO



“A palavra ‘joia’ chegou-nos pelo francês antigo ‘joiel’ que, por sua vez, proveio do latim ‘jocalis’, ‘aquilo que causa prazer’. Tem a ver também com ‘jocus’, graça, divertimento, brincadeira.”(PERISSÉ, Gabriel. Palavras e origens: considerações epistemológicas. São Paulo: Saraiva, 2010)

Fiz a leitura de um conto que, sem firulas, prendeu minha leitura da primeira frase à última oração. A derradeira experiência que tive com essas “short stories” foi com um conto do sergipano Antonio Carlos Viana, contudo o escritor da vez é o uruguaio Horácio Quiroga. O nome do conto: O Solitário. Gosto das histórias que ecoam em minha mente durante muito tempo após a leitura – essa foi uma delas. Pensei até em adaptar esse conto em um roteiro para um curta metragem. Devaneio.
A estória conta a saga de um joalheiro chamado Kassim. Se destacva em sua profissão, mas – sem ambição – não tinha acumulado fortuna. Tudo que o hábil joalheiro ganhava era para sua esposa Maria. Seu trabalho era uma atividade solitária que o afastava de uma vida social. Porém, Maria era ambiciosa e chorava por não usar as jóias que o marido confeccionava. Essa obsessão começou a perturbar a mente da esposa inconformada. Ela chegou a roubar um broche para ir ao teatro.
Um evento muda decisivamente o rumo dos acontecimentos: a chegada da pedra preciosa mais impressionante vista por Kassim designada para fazer um alfinete de gravata. A obsessão de Maria chega a níveis alarmantes e desencadeou uma crise de nervos horrível. Kassim chegou a prometer a jóia à mulher.
Final: ao terminar de fazer o alfinete de gravata com essa jóia exuberante, Kassim o enterra no peito da louca atingindo seu coração.
Esse conto deixou-me estupefato pela maestria da narrativa desse uruguaio, bem como me fez pensar algumas questões. A história representa o duelo de duas forças antagônicas: Maria representa o prazer [vale relembrar da consideração epistemológica da palavra jóia] fetichista e Kassim representa o artista solitário paciente e desprendido. A luta de Maria era pela notoriedade, pelo reconhecimento e aceitação social; dessa forma seus prazeres deveriam ser atendidos e vistos pelos outros. Ela não controla esses impulsos e chega ao extremo. Kassim, o solitário, para salvar sua arte teve que se livrar dessa pressão social. Soou psicanalítico e sociológico? Deve ter sido pelas leituras que fiz ano passado: Eros e Civilização (Marcuse) e Weber.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

PRISÃO DUPLA


Prisão dupla

Misto de duas sensações:
Amo estar odiando e
Odeio estar amando.

Sabia que isso ia acontecer,
Mas sempre me arrisco.
Pareço não aprender ao olhar para trás.

Às vezes me alivio com sua presença,
Outrora me deixa com aperto no peito.

Adoro ver você comer e suas intimidades.
Torno-me tão seu que me aprisiono.

Viciante e – realmente – é seu cheiro.

Esse vício irá me matar.



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

LUTA INTESTINA



“É muito mais difícil matar um fantasma do que matar uma realidade”. (Virgínia Woof, 1882-1941)
As crenças não provadas pela ciência são mais dificultosas de serem superadas. Penso em um exemplo: o medo, que atravessa gerações, do “bicho-papão”. Não gostei dessa exemplificação, mas não consigo pensar em outro no momento.
Crer na realidade não é tão difícil, mas como ela é crua e impactante não queremos enxergar o real. Penso outro exemplo: que o ser humano é capaz de pensar e realizar um campo de concentração. Gostei dessa exemplificação real e inacreditável.
Estou terminando de ler “Henry e June”, de Anaïs Nin. Essa é uma obra retirada dos diários dessa autora de 1931 a 1932. U ano somente foi capaz de render uma das obras mais marcantes que já li. Tinha lido outras obras dessa autora, famosa por suas histórias eróticas. Contudo, confesso que “Henry e June” foi o que mais gostei.
Anaïs Nin conta suas experiências de sua libertação sexual com Henry Miller e sua esposa June. Explicando: Anaïs fez sexo com ambos. Claro! Um por vez. Anaïs era bissexual? Não sei. Mas ela fazia seções de psicanálise. Ela mesma afirma:
“A análise [psicanálise] me faz sentir como se eu estivesse me masturbando em vez de fodendo”.
A tentativa singular da autora em se libertar das amarras moralistas de uma se torna universal e faz com que suas experiências sexuais exprimam a luta intestina de autoconhecimento de um ser humano.
Henry Miller – escritor já renomado era apenas um fantasma para Anaïs. Porém, encarar a realidade de estar apaixonada pelo escritor (Henry) e pela sua mulher (June) a deixou transtornada. Ela já era casada com Hugh, mas já mantinha uma intensa relação com seu primo Eduardo. Foi uma mulher que amou intensamente. Lembro do início de um dos poemas de Fernando Pessoa:
“Beber a vida num trago e nesse trago todas as sensações que ela possa me ofertar”.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

INSÔNIA



Insônia. Escrevo tais palavras na madrugada, visto não conseguir dormir. Minha mente ficou povoada de idéias e de pessoas e resolvi escrever após dias de não redigir uma linha sequer. Devo confessar que não consigo escrever diretamente na tela do computador; primeiro tais palavras são escritas em agendas ou em cadernos antes de serem postadas aqui. Várias agendas e cadernos estão acumulados em meu guarda roupa e não consigo jogá-los fora – uma parte de minha vida está escrita neles. Creio viver um dos momentos mais felizes de minha excêntrica vida. Apesar de ter consciência de ser emocionalmente instável estava pensando e tentando lembrar a última vez eu chorei: não consegui recordar. Esse foi um de meus pensamentos que sondaram minha mente nessa insônia. Vou tentar dormir e pensar em escrever algo interessante para a próxima postagem. Certa pessoa (Luciana – www.reunindopalavras.blogspot.com) disse que ando muito feliz ultimamente: acertou na mosca!