terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Texto onomatopaico



Em um bairro periférico, num desses lugares onde o nível cultural reflete a realidade do país, um garoto cujo nome não me recordo – seu apelido era Reco-reco – ao ler um pedaço de jornal viu-se com um problema que o afligia, não sabia o significado da palavra onomatopéia.
Era como descobrir o elo perdido. Reco-reco não sabia o que era aquilo, já tivera ouvido falar em coisa parecida; ele até pensou que era o filho da centopéia com menos patas. Ela teve uma idéia brilhante: iria perguntar o significado da palavra onomatopéia à professora. Tinha um pequeno problema, pois ela morava do outro lado da cidade e estava chovendo muito, as ruas estavam intransitáveis. Pegou um cartão telefônico e ligou para ela; o “chuá-chuá” da chuva batia sobre a cobertura do telefone público. Enquanto isso, o “trim-trim” do aparelho telefônico soava na casa da professora, que tinha como apelido “Toc-toc” – devido ao barulho que a prótese dentária mal feia produzia quando ela falava. Ela atendeu ao telefone e Reco-reco logo fez sua pergunta. Devido ao grande interesse do aluno em aprender e mesmo sabendo do significado da palavra, a professora preferiu não responder e indicou uma solução: procurara apalavra no dicionário.
Outra missão fora incumbida a Reco-reco – como achar um dicionário? Foi à estante de livros da vizinha e lá estava o objeto de desejo. Porém, outro problema surgia, visto que não sabia procurar palavras no dicionário. Lembrou-se que “Tique-tac”, seu amigo mais avançado na escola, sabia manejar o livro que é chamado de “pai dos burros”. Lá foi Reco-reco andando pelas ruas lamacentas tentando descobrir, na sua imaginação o significado da palavra onomatopéia.
Imaginava algo maravilhoso, majestoso, fora do comum; estava realmente encantado com a sonoridade da palavra que nem ouviu o “fom-fom” da buzina do carro que quase o atropelara. Fo quando ouviu um psiu; era Tique-tac que atravessava a rua e vinha de encontro a ele. Reco-reco foi logo apresentando o problema que foi rapidamente solucionado por seu amigo ao pegar o dicionário. Mesmo com a explicação do dicionário, Reco-reco não entendeu o significado da palavra e pediu um exemplo a Tique-tac. O menino curioso acerca da palavra onomatopéia ficou bastante desapontado, a palavra tinha perdido todo gosto para ele. Foi-se embora prometendo nunca mais usar um dicionário.

Um comentário:

  1. Gostei do texto. Também estou a escrever sobre onomatopeias e, na pesquisa, encontrei a sua página. Parabéns e obrigado! A minha página é "Peter Pan", volume 4: https://pensaofinezas.blogs.sapo.pt/

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