terça-feira, 19 de janeiro de 2010

OS ESPELHOS SÃO PARA VER O ROSTO

“Os espelhos são para ver o rosto; a arte para ver alma.”
George Bernard Shaw (1856-1950) dramaturgo inglês


Qual era a verdadeira intenção das artes rupestres da pré-história? Parece ser a mesma da arte em geral. As imagens gravadas nas paredes das cavernas retratam, geralmente, cenas do cotidiano desses povos: homens caçando, animais, formatos de mãos, etc. Formas geométricas também são comuns na arte rupestre.
O que vou defender é que a arte é uma tentativa do ser humano de “ver-a-si-mesmo”. Mas, afinal, o que é ver-a-si-mesmo? Responderemos um pouco adiante. Sabe-se, de certeza, que o animal que pergunta sobre sua existência é o ser humano – precisaríamos ser uma rã para constatarmos realmente se elas não podem fazer esse tipo de pergunta; como isso é impossível, nunca saberemos. A pergunta fundamental pelo que é, que dá origem à filosofia e a toda intelectualidade do ocidente, também é feita ao ser humano. O que é ser humano? O indivíduo irá empregar vários artifícios para tentar responder a essa indagação. Inventa: a filosofia, a ciência e, entre outras coisas, a arte. Fiquemos com a arte.
Lembremos do que quero defender: a arte é uma tentativa de “ver-a-si-mesmo”. Fisicamente, só o outro vê você. Pode-se argumentar contra: em uma imagem do espelho é possível a visão de si mesmo. A imagem que a pessoa observa no espelho é invertida – quando você levanta o braço esquerdo, sua imagem levanta a direita e vice-versa. Você não é uma imagem invertida, portanto seu reflexo não é você – que delírio! Fisicamente é impossível ver-se. Certas “experiências” em que a alma sai do corpo não são levadas em conta aqui. Só o outro pode me observar fisicamente; só me reconheço graças ao outro.
Numa tentativa de conhecer a si mesmo, a arte é criada e, nesse sentido, imita a vida. Quando o humano pré-histórico deixa a marca de sua mão gravada na parede está tentando se conhecer. Essa atitude não se difere muito do naturalismo da arte antiga grega e do homem religioso da arte medieval, muito menos da descentralização do homem na arte contemporânea. A arte contempla as várias facetas e dimensões que o ser humano expressa; tudo isso numa tentativa de ver-a-si-mesmo.
O “conhece-te a ti mesmo” é uma frase muito antiga, estava escrita no pórtico do oráculo de Delfos, um dos mais famosos da antiguidade grega. O velho Sócrates parece ter levado isso muito a sério. A única certeza que ele chegou: “só sei que nada sei”. Ironias à parte, essa frase é muito contemporânea, quanto mais a ciência avança, a arte se transforma, a religião se espalha, mais o conhecimento acerca do homem parece ser impossível.

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