quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

PITANGA




Quando o menino viu a fruta se espantou, sua imaginação começou a fluir; pensou em uma abóbora em miniatura, só faltava prová-la para ver se tinha o mesmo sabor. Viu outra, sua cor rubra e bem mais escura que a primeira – sentiu sua boca encher-se de saliva. A fruta estava no seu alcance quando ele a pegou com força; um líquido escorreu pelas mãos do garoto que, imediatamente, passou a língua. Sentiu, finalmente, o gosto acre-doce apaixonante.
Sua vida mudara desde aquele instante, estava acostumado com a doçura infantil, agora tinha provado um gostinho azedo que iria sentir até o resto de sua vida. Ele aprendeu que só o doce enjoa, mas equilibrando os dois sabores sua vida seria emocionante.
A árvore crescia e o menino também. Sua adolescência seria adocicada com novas paixões e também azeda pela frustração de não conseguir liberdade; era um equilíbrio delicioso igual à pitanga. Chegando a maturidade seu comportamento era outro; tinha aproveitado a juventude, mas agora sentia, constantemente, o azedo da responsabilidade, das dificuldades de um casamento. Raramente sentia o gosto doce – só quando descansava.
Os anos passaram e a pitangueira continuava a dar frutos, mas o menino tornara-se um velho que, diferente de sua infância, só prova o azedo a vida. Ele pensava que nunca mais iria provar de um momento doce. Olhou pela última vez a pitangueira e viu o último fruto vermelho-fogo. Logo pensou em provar e sentir algo adocicado e ao mesmo tempo azedo. De agora em diante não abria mais os olhos.

(Escrito em: 24/03/2004)

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