terça-feira, 11 de janeiro de 2011

O SOLITÁRIO



“A palavra ‘joia’ chegou-nos pelo francês antigo ‘joiel’ que, por sua vez, proveio do latim ‘jocalis’, ‘aquilo que causa prazer’. Tem a ver também com ‘jocus’, graça, divertimento, brincadeira.”(PERISSÉ, Gabriel. Palavras e origens: considerações epistemológicas. São Paulo: Saraiva, 2010)

Fiz a leitura de um conto que, sem firulas, prendeu minha leitura da primeira frase à última oração. A derradeira experiência que tive com essas “short stories” foi com um conto do sergipano Antonio Carlos Viana, contudo o escritor da vez é o uruguaio Horácio Quiroga. O nome do conto: O Solitário. Gosto das histórias que ecoam em minha mente durante muito tempo após a leitura – essa foi uma delas. Pensei até em adaptar esse conto em um roteiro para um curta metragem. Devaneio.
A estória conta a saga de um joalheiro chamado Kassim. Se destacva em sua profissão, mas – sem ambição – não tinha acumulado fortuna. Tudo que o hábil joalheiro ganhava era para sua esposa Maria. Seu trabalho era uma atividade solitária que o afastava de uma vida social. Porém, Maria era ambiciosa e chorava por não usar as jóias que o marido confeccionava. Essa obsessão começou a perturbar a mente da esposa inconformada. Ela chegou a roubar um broche para ir ao teatro.
Um evento muda decisivamente o rumo dos acontecimentos: a chegada da pedra preciosa mais impressionante vista por Kassim designada para fazer um alfinete de gravata. A obsessão de Maria chega a níveis alarmantes e desencadeou uma crise de nervos horrível. Kassim chegou a prometer a jóia à mulher.
Final: ao terminar de fazer o alfinete de gravata com essa jóia exuberante, Kassim o enterra no peito da louca atingindo seu coração.
Esse conto deixou-me estupefato pela maestria da narrativa desse uruguaio, bem como me fez pensar algumas questões. A história representa o duelo de duas forças antagônicas: Maria representa o prazer [vale relembrar da consideração epistemológica da palavra jóia] fetichista e Kassim representa o artista solitário paciente e desprendido. A luta de Maria era pela notoriedade, pelo reconhecimento e aceitação social; dessa forma seus prazeres deveriam ser atendidos e vistos pelos outros. Ela não controla esses impulsos e chega ao extremo. Kassim, o solitário, para salvar sua arte teve que se livrar dessa pressão social. Soou psicanalítico e sociológico? Deve ter sido pelas leituras que fiz ano passado: Eros e Civilização (Marcuse) e Weber.

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