quarta-feira, 21 de julho de 2010

Um moderno romântico



Entendo a crítica do pessoal da semana de 22 contra os românticos. Essa procura pelo índio belo e virtuoso é convincente. Claro, estou tentando eximir o meu autor preferido do romantismo: José de Alencar. Li vários livros desse escritor nordestino, mas o que mais gostei foi Ubirajara. Pouco tem esse hábito, porém releio meus livros, geralmente os que mais gosto. Perdi as contas de quantas vezes tive o prazer de ler essa obra de Alencar. Creio que umas cinco vezes.
A história narra acontecimentos pré-cabralinos, ou seja, José de Alencar escreve tentando imaginar os índios sem a presença do invasor branco. Curioso ser esse livro o último da série indianista desse autor cearense – ele começa com O Guarani, onde o Brasil já está colonizado, depois Iracema, contando os primeiros contatos os nativos dessa terra selvagem; por fim Ubirajara, narrativa sem a presença dos caras-pálidas.
Esse autor romântico tenta se aprofundar na cultura indígena; isso faz com que esse livro só consiga ser lido com a metade das páginas com notas explicativas no rodapé. Os nomes dos índios devem ser explicados etimologicamente, os nomes dos rituais, enfim, muitos detalhes que revelam a erudição sobre a cultura indígena do autor.
A história é fantástica. Com ares shakespeareanos, o personagem principal, que dá nome ao livro, oscila entre o amor de uma índia de sua aldeia e o de uma da tribo inimiga. Pasmem: Ubirajara tinha matado o irmão dessa índia da tribo rival. É curioso também como o autor informa a transformação social do personagem. É um livro que está vivo em meu imaginário. Lembro vivamente da descrição das guerras entre as tribos rivais e dos rituais desse povo nativo – os verdadeiros brasileiros. Mais uma vez, entendo os modernistas, mas acho que ainda estamos com esse projeto romântico: tentar encontrar os modelos virtuosos nacionais. Porém, em tempos de dinheiro na cueca, fico com os modernistas e leio os românticos.

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