sexta-feira, 16 de julho de 2010

Mais uma do genial Santo Souza

Já postei anteriormente uma poesia desse sergipano. Agora, para mim a melhor, mais uma do livro "Pássaro de pedra e sono"(1964). Como queria que fosse meu avô!

Canção para os aflitos

Hoje eu quisera compor
uma canção, acordar
um rouxinol na solitária
garganta dos aflitos,
plantar uma rosa no céu
ou nas águas anônimas
dos rios em silêncio.

Quisera fazer descer
uma ponte de plumas
e de pétalas ao chão
férreo das agonias
alheias, despertar
os corações para a vida
e para o amor.

Entanto, há muitas
cruzes e sabres dispersos
nos caminhos, e os homens
estão distantes, seus
olhos estão perdidos
entre a rosa que nasce
e o mar que se aniquila
sob o peso das algas e das ondas.

Ah, porque não se alumia
a lágrima dos que se vão
sofrendo, dos que lutam
desesperadamente em busca
de uma árvore, no rastro
de uma sombra, de uma
estrela qualquer?

Em verdade, é preciso
acordar as mãos,
para salvar alguém;
molhar os dedos
no sangue amargo da terra,
no suor dos infelizes,
na luz abandonada
nas ruas esquecidas...

(Santo Souza)

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