quinta-feira, 26 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte 3]


Não posso deixar de contar mais uma do Sandro: o convidei para uma festa e fui buscá-lo com o carro de meu pai. Creio ter colocado suas melhores roupas e, devo dizer, sem safadeza nenhuma, que ele era uma cara “de presença”. Na verdade esse termo é posto para um homem não assumir que o outro é bonito. Então, Sandro era um cara “de presença”. Voltando à festa: ele foi a sensação, todas as meninas o queriam tirar para dançar. Ele se portava como um burguês – dizia que tinha a melhor moto, que morava na zona sul, etc. Eu apenas admirava sua “performance” de longe. Roubaram um celular nessa festa; desconfiei dele, mas não pude provar.
Um vizinho meu estava comprando pó a ele. Foi esse o motivo de vê-lo com muita freqüência. Trocávamos palavras duas vezes por semana sempre para me perguntar se eu tinha visto o filho dele; depois me contava suas inquietações. Em uma das conversas à porta de minha residência afirmava estar sendo observado por uma pessoa da casa ao lado da minha, mas eu não conseguia ver nada. Ele continuava a dizer que tinha alguém lá no escuro. Como não vi nada dei de ombros. Acho que é uma expressa antiga, “dar de ombros”. Devo ter lido em algum livro, pois nunca vi ninguém usar isso. Realmente não entendia essa mania de perseguição de Sandro e encarava como uma dessas doenças urbanas que os psicólogos inventam todos os dias. Não quero que os profissionais da psicologia se sintam hostilizados pelas minhas palavras. Reitero: não entendo nada de psicologia. E, quando afirmei que eles inventam doenças... Ah! Deixa para lá.
Minha empolgação em contar essa estória me fez se esquecer de descrever Sandro. Já tinha dito que era “de presença” e vou entrar em detalhes. Como me disseram que beleza é algo relativo e cultural, cheguei a essa conclusão, pois todas as garotas que o viam se interessavam por ele. Tinha os olhos castanhos e sempre deixava a barba por fazer. Tinha a pele branca e era magro, mas de uma magreza não anoréxica. Uma coisa que achava curioso em seus trejeitos era que nunca piscava quando alguém lhe estava contando algo. Arregalava ligeiramente os olhos e lhe encarava sem desviar a atenção. Possuía um topete natural que caía na testa e fazia-o parecer um italiano da década de 1960. Sandro foi a primeira pessoa que me disse não gostar de música. Pelas poucas vezes que fui a sua casa pude perceber que não possuía aparelho de som, aliás, aparelho eletrônico só havia uma TV e um aparelho de DVD. Era fanático por futebol gostava do time de maior torcida do Brasil. Não vou citar o nome desse time, pois o detesto.



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