segunda-feira, 23 de maio de 2011

SEM CORAÇÃO [parte I]


Devo confessar que sou um leitor voraz, mas sempre esqueço o nome dos livros. Tenho a necessidade de dizer isso antes de iniciar a história propriamente dita. Preciso ser viril para terminar ela – o que acabei de dizer não é original, pois li em um livro de uma mulher. Concordo com a autora: escrever exige força e tenacidade. Vou contar os fatos que antecederam um assassinato, mas não foi uma morte comum. É comum morrer, porém dessa vez me impressionei. Não fico abismado rápido com as coisas e sei que não sou um bom narrador. Vou correr um enorme risco tentando contar esses eventos. Quero pedir desculpas antecipadamente, pois sei que sou inconstante  – posso parecer empolgado e, logo na seqüência, não demonstrar nenhuma emoção. Agora, portanto, estou ansioso para contar a estória do assassinato de um conhecido meu.

Sandro era seu nome. O conheci através de uma prima, visto ser ele pai de seu filho. Para minha sorte – e dela – esse relacionamento não durou muito. À primeiro vista ele era esquisito: morava só, ninguém sabia quem o sustentava e andava bem arrumado. Com certeza roupas de marca não faltavam em seu armário. De uma coisa eu sabia com certeza, não deve ser surpresa; já devem imaginar que ele usa drogas. Eu mesmo já tinha fumado um entorpecente popular com ele, mas agora sabia que estava viciado em cocaína. Contudo, ele mesmo me informou que agora estava vendendo essas substâncias. Lembrei que meus amigos sempre caçoavam de mim por utilizar a palavra entorpecente. Gosto dessa palavra, pois parece exprimir os efeitos das drogas: e-n-t-o-r-p-e-r-c-er. Sandro morava em um local inóspito, pelo menos para mim, pois era uma vila perto de uma maré. A rua era uma ladeira e não possuía asfalto; era um lugar tenebroso: as casas não tinham reboco, o que dava um aspecto ainda mais feio ao local. Era um lugar pobre típico do Brasil. O movimento nessa rua era bastante intenso porque na última casa havia uma “boca de fumo” e gente de todos os tipos desciam a ladeira para comprar drogas.

Certa vez, Sandro chegou afobado lá em minha casa. Minha mãe tinha ido atender a porta e já veio me dizendo:

- Já falei que não gosto desse rapaz. Para de andar com ele. Basta o que fez a sua prima.

Estava completamente “chapado”.   

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