terça-feira, 29 de junho de 2010

Foucault e Scosese se apoderam do discurso



The poetry of earth is never dead. (John Keats)
Nesse início de férias tenho assistido inúmeros filmes. Essa carácter voyerista cinematográfico não é nenhuma novidade param os leitores desse modesto blog. Contudo, essa paixão quase cinéfila aumenta a cada dia, pois isso me ajuda a relembrar questões filosóficas e autores estudados anteriormente, às vezes por obrigação. Michel Foucault não foi um filósofo que chamou minha atenção, apesar de sua popularidade nos meios acadêmicos; só li um de seus trabalhos – A ordem do discurso. Lembrei e reli esse texto ao assistir o último filme do Scorsese: A ilha do medo (Shutter island). Bons filmes sempre me remetem à filosofia e à boa literatura. O puro entretenimento e pura alienação.
Antes de comentar o filme protagonizado por Leonardo di Caprio quero externar minhas considerações sobre o livro, já citado, de Foucault. “A ordem do discurso” apresenta essa hipótese: a produção do discurso é controlada, organizada e redistribuída por alguns procedimentos que tem por função controlar seus poderes e perigos. De outra maneira: o discurso gera poder e é perigoso, portanto existem procedimentos que controlam esse poderio. “Não se tem o direito de dizer tudo”. É nesse sentido que o filósofo afirma a existência de interdições que revelam a ligação com o desejo e o poder. Os três tipos de interdição:
1-Tabu do objeto.
2-Ritual da circunstância.
3-Direito privilegiado o exclusivo do sujeito que fala
Tentarei exemplificar essas interdições no discurso. (1) Não se pode falar e discutir religião; (2) Não se deve discutir sexo em um convento; (3) só Einstein deve falar sobre a teoria d relatividade. “O discurso não é simplesmente aquilo que manifesta o desejo, é também o objeto do desejo; o discurso é o poder do qual nos queremos nos apoderar”. A quarta interdição, a que nesse texto se torna a mais importante, é a oposição entre razão e loucura: “o louco é aquele cujo discurso não pode circular como o dos outros”. Assim, o louco não fala “coisa com coisa”, seu discurso expõe sua loucura.
A trama desenvolvida no último filme de Scorsese ocorre em uma prisão/hospital para loucos. O desaparecimento de uma assassina hospitalizada nessa ilha leva dois agentes federais a investigar o caso onde enfrentam uma rebelião e um furacão. A rede de intrigas põe em xeque o próprio discurso do personagem principal, pois ele pode ser um louco também. O clímax do filme gera no expectador uma confusão visual e verbal: quem tem a posse do discurso está no comando; a posse do poder varia durante o filme. Não quero comentar muito sobre o filme que retrata também o clima psicológico dos EUA na guerra fria, mas recomendo insistentemente os dois – livro de Foucault e filme de Scosese – para um deleite intelectual.

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