segunda-feira, 26 de setembro de 2011

MARIANA


Mariana acordou com o calor produzido pelos raios de sol que queimavam a pele de seu rosto. Ao abrir seus olhos mirou imediatamente o sol e sentiu o efeito da força de sua luz. Ficou sentada pelo menos dois minutos até recobrar a visão. Primeiro observou o local onde estava sentada: uma calçada mal feita e cheia de buracos. A sensação de Mariana era de completa desorientação, pois não sabia onde estava e nem como tinha chegado até ali. Apenas ecoava em sua mente a palavra MARIANA. “Eu sou Mariana”. Não entendia essa necessidade primária de auto-identificação. Era como se fosse a última lembrança que a diferenciava de tudo no mundo. “Eu sou Mariana e não sou essa calçada esburacada”.

Vestia uma camisa branca, enfeitada com muita renda e uma saia marrom que cobria até o dedo dos pés – parecia uma hippie. Tentou se levantar, mas ficou tonta e sentou novamente. Tinha que se levantar porque o chão estava começando a esquentar. Mariana percebeu o gosto alcalino na boca e uma vontade imensa de vomitar. Uma sensação que ia e vinha; oscilava. Ao ficar em pé observou onde estava: era uma rua constituída com casas dos dois lados, cuja padronização levava a crer que era um desses conjuntos habitacionais ofertados pelo governo; um lugar para gente pobre. Ela caminhou um percurso entre duas casas e se apoiou no muro de uma delas, pois a tontura tinha voltado. “O que vai acontecer comigo? Como vim parar aqui?” Já eram perguntas que povoavam a mente de Mariana. Na mesma casa em que tinha se apoiado ouvia-se barulhos de seu interior. Ela, então, resolveu bater palmas para que alguém pudesse ajudá-la. Uma mulher negra apareceu carregando um bebê nos braços. “Água”. Foi a única palavra que Mariana tinha conseguido pronunciar. A negra gritou por um dos filhos que logo veio – era bastante magro e tinha a pele mais escura que a da mãe – e pediu ao garoto que trouxesse água. O portão da casa nem sequer foi aberto  e Mariana chegou a tomar dois copos d’água. No primeiro copo percebeu que a ânsia de vômito aumentou, no segundo parecia que a água era composta de centenas de agulhas que feriam sua garganta e laringe. Quando a água do segundo copo bateu em seu estômago voltou imediatamente. Uma contração forte e dolorosa fez com que ela vomitasse. Entregou o copo que ainda estava em suas mãos, olhou para o chão e viu a substância verde que tinha saído de si.

Decidiu continuar caminhando titubeante e nem percebeu que a dona da casa a amaldiçoava pelo vômito deixado em sua porta. Marina tinha traços indígenas. Sua cor vermelha como um jambo era excepcional e seu cabelo era tão liso que não dava uma volta sequer. Começou a observar o cenário ao seu redor. Realmente nunca estivera ali, tudo era estranho e até o ar que entrava em seus pulmões era como de outra atmosfera. As pessoas começavam a sair de suas casas, talvez para o trabalho ou para ir à padaria. Todos, sem exceção, ignoravam a presença da estranha em sua rua, mesmo quando ela soltou um grito agudo.

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