terça-feira, 27 de setembro de 2011

MARIANA [parte 2]


Mariana não se preocupava com a família e nem com seu lugar de origem nesse momento, pois sua mente estava ocupada em salvar sua vida. Soltou outro grito tão agudo quanto o primeiro. Os gritos foram ocasionados devido à pontada fina na barriga, uma dor crônica que parecia atingir a alma. Pôs as mãos no ventre e apertou as carnes para tentar desviar o foco da dor – não obteve sucesso. Caiu novamente junto a um poste se contorcendo de dor. Ela sabia que aquelas dores eram mortais, entendia que deveria encontrar um abrigo; talvez fosse um instinto animal de se recolher e morrer em paz. Contudo, estava exposta e completamente vulnerável. A dor passou. Usou o poste de energia como apoio e levantou novamente. Ainda estava tonta, mas conseguia caminhar e seguiu sem rumo. Ela parou por um instante e percebeu que estava sem calcinha por baixo da saia; percebeu, também, alguns arranhões nas pernas. O que teria acontecido? Ela pensou logo que fora estuprada, mas não sentia nada diferente em sua vagina, estava intacta. Seu corpo estava todo dolorido, como se tivesse pegado alguma dessas febres tropicais, mas a vagina estava ilesa. Ainda não se lembrava de seu passado e as únicas lembranças se resumiam nos eventos ocorridos após ter acordado naquela calçada esburacada. Sentiu a necessidade de falar com alguém, talvez pudessem fazer algo por ela.

Começou a procurar alguém entre as pessoas que estavam na rua que tivesse a cara de solidária. “A solidariedade pode ser vista no rosto?” Sabia que raciocinava bem, pois teve esse questionamento formulado em sua mente. O que teria a feito esquecer tudo? Mariana tentou falar com uma ruiva que passou de seu lado, mas foi ignorada; era como se fosse um fantasma, ninguém dava conta de sua presença. Um senhor de quarenta anos veio em sua direção e esbarrou com o ombro nela. O impacto a fez cair novamente no chão – o senhor seguiu seu curso como se nada tivesse ocorrido. Agora tinha certeza que não era um fantasma, era real, palpável. Pôde levantar sem ajuda de ninguém.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário