quarta-feira, 14 de abril de 2010

Dia do nascimento ou menos dia de vida?




Entra no meio e se agarra a ele.
As extremidades podem ser perigosas.
Limites não foram feitos para estar neles.
Evite como se fosse a doença mais dolorosa.
(Figueiredo, 2009)

Como escolher entre Parmênides (imobilidade) e Heráclito (movimento)? Como escolher entre Rousseau (o homem é bom no estado de natureza) e Hobbes (o homem é o lobo do homem)? A atitude mais sensata seria a cética: suspender juízo devido à força dos argumentos. Porém, no mundo cotidiano a atitude cética quase nunca é seguida – a maioria das pessoas se rende à atração da oratória e da retórica para decidir.
Hoje e meu aniversário. A pergunta feita no título caminha nessa linha de pensamento: devo celebrar a quantidade de anos já vividos, ou comemorar a proximidade da morte? A retórica favorece a ambas as proposições. A primeira – comemorar a data de nascimento e o tempo decorrido até então – oferece a possibilidade de uma argumentação forte: é preciso lembrar, festejar pelos dias decorridos desde o seu nascimento e a data, mais que especial, que sua vida iniciou. Esta comemoração anual por mai tempo de vida é importante, pois indica certos estágios sociais que o indivíduo se encontra. O festejo de um aniversário infantil é diferente do adulto. É preciso lembrar os ritos de iniciação dos jovens guerreiros indígenas para se tornarem guerreiros – já ouvi relatos de pais que levam seus filhos ao cabaré (zona de prostituição) para celebrar sua nova fase. Assim comemorar mais um ano de vida é comum em nossa sociedade, pois indicam essas características do grupo etário em que você se encontra.
A maioria dos amigos me perguntou como iria ser a comemoração desse jubiloso dia; foi a partir desses questionamentos que comecei esses devaneios. Há realmente motivos para comemorar?
Estou completando metade de meio século. Por enquanto não tenho muitos motivos para me preocupar, a não ser com o aquecimento global que está deixando o mundo muito quente. Eu imagino o aniversário de um idoso; uma mistura de sentimentos deve ocorrer naquelas cabeças brancas ou tingidas: alegria por mais um ano de vida e uma profunda tristeza por saber estar mais perto da morte. Sim, eles têm essa consciência. A cada ano que passa minhas células degeneram e muitas delas não se recuperam, meu corpo vai perdendo a agilidade da criança e da juventude a cada aniversário percebe como fiz da vida rápida – quem quiser saber mais sobre esse tema procure nesse mesmo blog o texto “Considerações sobre o tempo” – está mais perto o final da partida de xadrez que jogo com a morte e sei que irei perder – sobre essa partida de xadrez assista o filme “O sétimo selo”. Uma profunda tristeza ocorre aos que percebem a morte chegar cada vez mais perto; essa percepção ocorre a cada aniversário.
Qual dos dois sentimentos deve adotar: alegria ou tristeza? Lendo aquele aforismo do início do texto, escrito no aniversário do ano passado, torna-se necessário dizer que nem um nem outro. Solução: fico alegre com a saudação de meus alunos e realmente fico contente na comemoração de meus amigos; quando estiver só, pensando na morte sentirei a profunda tristeza de estar perto dela, a não ser que eu seja epicurista.




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