segunda-feira, 18 de abril de 2011

VIDA+OBRA=OBRA+VIDA


“Ninguém entra para o panteon dos filósofos por se dedicar a ter apenas pensamentos eternos, pois o tom da verdade só vibra longamente quando o autor interpela sua vida.” (MERLEAU-PONTY) “A filosofia está em toda parte, até mesmo nos fatos, e em parte alguma e em domínio algum acha-se preservada do contágio da vida”. (MERLEAU-PONTY) Tive um professor na graduação que era contra essa visão de Merleau-Ponty. Afirmava que a obra do filósofo era independente de sua vida. Ele afirmava, por exemplo, que não importava se Rousseau teria deixado seus filhos para a adoção e ter escrito o Emílio, um grande tratado sobre educação das crianças burguesas iluministas. Concordo com Ponty, pois não há como separar o pensamento do autor das vicissitudes dele. Teriam outra coisa para provar, a não ser Deus, os filósofos medievais que eram padres? Foucault, que escreveu a História da sexualidade e a História da Loucura, era muito afetado por sua homossexualidade e seu problema psicológico. Até o exemplo de meu antigo professor pode ser utilizado contra ele: por ser uma coisa que marcou a vida de Rousseau, a educação se tornou um tema crucial no conjunto de sua obra. Óbvio! Não deixaria de ler o livro de Bacon por ele ter sido um mau caráter em sua vida pessoal. Muito menos deixar de ler Wittgenstein por ter sido homossexual. O que defendo é que no percurso de suas vidas fatos e acontecimentos tem um papel importante na influência contida em suas obras – elas estão impregnadas da vida do autor. O caráter de universalidade; que faz do filósofo um autor, do literato um autor, do cineasta um autor; só é alcançado porque percebe que o problema não atinge só a ele, mas a humanidade. Hoje assisti a um filme de autor: COPPOLA. A história desse filme veio a calhar com o que refletia anteriormente. Tetro (2009) foi o filme assistido. Em preto e branco, o personagem central – que dá nome ao filme – é muito curioso. Dois irmãos se encontram na Argentina e ambos são americanos. Tetro é super estranho e hostiliza a visita do irmão. É revelado que a mulher de Tetro é uma médica de loucos que o teria conhecido em um manicômio – o louco afirmava ser escritor e guardava um manuscrito feito em código dizendo ser uma obra prima. Não conseguia perder uma fala desse filme, pois eventos inesperados deixavam a trama intensa. Apesar de não gostar do personagem fiquei feliz de ver Carmem Maura, atriz fetiche do genial Almodóvar. Seu personagem é uma crítica cultural famosa. “Ainda continuo a não ligar para sua opinião” – é a resposta de Tetro (ou COPPOLA) a ela. Ora, a obra prima escrita por Tetro, nada mais é que a história de sua própria vida. Não contarei mais, mas o final do filme é surpreendente. Foi um bom dia, um bom filme, uma boa companhia. Se compor uma obra algum dia, não tenha dúvida, esses momentos estarão inclusos lá.

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