quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

INSTIGA



Tu sabes me deixar aceso.
Tu entendes os mecanismos para tal.
Cada poro de minha pele anseia
pelo seu toque. Quando isso ocorre
meu estômago contrai.

Depois da animação tu te afastas
e me enlouquece. Apenas me instiga
e me mata aos poucos.
Essa dor é viciante. Quero a todo
momento observar a languidez
[dos movimentos de seu corpo]

Sua face angelical e perversa me atrai.
Seus atos falhos me alegram;
deixam-me esperançoso.
Queria viver só de palavras,
pois elas não doem tanto.

Mas as palavras se materializam
e consigo pegá-las com as mãos.
Elas cortam
e ferem. Aliso essa palavra
consubstanciada e me torno feliz.

Quero alcançar a pura forma,
mas o sentimentalismo está impregnado
nelas. Rendo-me à dor,
faço dela uma fonte de prazeres.
Continuo aceso.
[Não consigo desativar tais mecanismos]

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

MOTO, PLATÃO E PETER GREENWAY



“[...] Quanto melhores forem, pois assim sendo tanto mais amam a imortalidade.” (Platão, O Banquete)
I –MOTO
Será que anseio pela imortalidade? Creio não pensar nisso ainda, pois equanto jovem, a imortalidade está em potência em mim. Atualmente, estou aprendendo a pilotar motocicleta – por que não utilizei apena moto? Sou retrógrado – e já coloquei o veículo a uma velocidade que, em uma queda quebraria todos os meus ossos. Penso ser imortal (risos).
II – PLATÃO
Contudo, questões relacionadas à imortalidade povoaram a minha mente pseudo-depressiva-romantica ao assistir dois filmes do diretor Peter Greenway. Seguirei o roteiro do título e deixarei o comentário sobre esse diretor por último. Comentarei sobre Platão.
“Um dos trechos mais lidos de sua obra chamada de “Symposium”, conhecida como “ O Banquete”, é o discurso de Diotima. Não quero me prender a detalhes desse livro de Platão, mas quero re-lembrar (risos) das maneiras de se imortalizar, segundo Platão, ao inventar esse personagem interessante (Diotima).
1ª Maneira de se tornar imortal® (pelo corpo) tendo filhos. Sua matéria crpórea, suas características, sua carga genética se perpetuaria.
2ª Maneira de se tornar imortal® (pelo espírito) cria aquilo que compete a alma criar. A criação é feita pelo pensamento e virtudes. Curiosamente, Platão cita os poetas.
Nesse livro platônico um trecho chamou minha atenção: Aquiles (não lembre Brad Pitt no horrível “Tróia”) não morreu pelo seu amor homossexual por Pátroclo, mas desejou ser imortalizado pelo seu feito. A premissa platônica: O homem deseja ser imortal.
III – PETER GREENWAY
Volto a comentar sobre Peter Greenway. Assisti apenas 2 filmes desse diretor: “O livro de cabeceira”(1996) e “Ronda da noite” (Nightwatching, 2008). Ambos filmes citados tem, em meu devaneio, uma ligação com o desejo da imortalidade. A arte será a promotora da sensação imortal e a libertadora das coisas fugazes. No primeiro filme, o desejo compulsivo de uma mulher em escrever livros na pele de seus amantes leva, depois da morte de um deles, à retirada da pele e a enterrá-la embaixo de um bonsai. No segundo filme as vicissitudes de Rembrant demonstram a força de sua pintura e a necessidade de se imortalizar com sua arte.
IV – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Continuarei a pilotar motocicleta – com menos velocidade –, não pretendo nesse momento ter filhos e quero assistir mais filmes de Peter Greenway.

domingo, 19 de dezembro de 2010

[................]



Como pode uma formiga se apaixonar por um escorpião? À primeira vista ela sentiu-se hostilizada pela presença arrogante do escorpião. As diferenças – contrário ao que todos pensam – fizeram com que elas se afastassem. Contudo, a aproximação se deu quando perceberam seus pontos em comum. Ambas gostam de liberdade e possuem uma vida noturna muito ativa. O primeiro encontro foi um desastre: não conseguiram fazer nada, apenas cheiraram os orifícios alheios.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

NAKED LUNCH - preciso criar outro blog



Confesso que um de meus desejos foi realizado após terminar de ler esse livro: “Almoço nu”, de Burroghs. Infelizmente, ao devo detalhar as descrições do livro, visto que o público de leitores desse humilde blog também é composto de crianças – muitas mais espertas que eu, mas me rendo a essas convenções. Contudo, demonstro a felicidade com essa citação:
“Amável leitor, a fealdade de tal espetáculo desafia qualquer descrição. [...] Ah, meu Deus, que cena aquela! Seriam a língua ou pena capazes de transmitir tamanho escândalo? Um jovem rufião descontrolado arranca fora o olho de um confrade e passa a foder-lhe o cérebro! Temos aqui um caso de atrofia cerebral, esse negócio está tão secoquanto a buça da vovó.”
Me preparo agora para ler minha nova aquisição: “Fluxo-floema”, de Hilda Hilst.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Motivos



Nesse processo de chatice que enfrento – enjôo comigo e com o mundo – percebo que a solução está, talvez, na poesia-arte-filosofia. Percebo, também, que a solução está na alteridade, leia-se outra pessoa, visto ser muito bom conversar, amar e etc. Meus momentos de misantropia urbana, embora necessários, revelam quanto preciso dessa alteridade. Bastou um toque para que esse momento de solidão voluntária se dissipasse, bastou um olhar para perceber que também preciso de interação.
ACREDITO TER ESCRITO TAIS PALAVRAS DEPOIS DE LER ESSE POEMA :
MOTIVO
(Cecília Meireles)
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

CREIO NÃO PRECISAR DIZER MAIS NADA

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UM GRITO SILENCIOSO



Um grito não audível ecoa na mente. Dura cerca de um minuto e meio. Meus lábios apenas pronunciaram – “que legal” – palavras de agradecimento. A curiosidade já deve “martelar” algumas mentes, pois: qual seria o motivo desse grito inaudível? Um grito que não brota dos pulmões e das cordas vocais, mas de um recôndito abaixo do estômago – semelhante à sensação de encontrar a pessoa amada. Chega de invenção! O motivo de tal devaneio foi a chegada de um livro em minhas mãos. Um objeto de fetiche como esse é capaz de fazer tudo o que foi descrito acima.
“Almoço nu” (Naked lunch), de Willian S. Burroughs, foi o livro que chegou às mãos pela manhã. Um amigo de infância – Carlos – foi o sacerdote que trouxe o objeto de oferenda aos deuses. Certamente o grito ecoado em minha mente não foi percebido por ele, visto ter entrado numa euforia interna sem precedentes. Qual a origem disso?
Primeiro motivo: a versão cinematográfica do livro de Burroughs ter sido gravada pelo diretor canadense David Croenemberg, o qual tenho profunda admiração. No Brasil esse filme recebeu o título – não sei por que – de Mistérios e Paixões.
Segundo motivo: Burroughs é considerado beatnick. Essa literatura americana que foge e combate os esquemas morais mais rígidos e hipócritas da sociedade. Já comentei sobre Bukowski em postagens recentes.
Devido a essa oferenda aos deuses, tive que interromper a leitura da obra que estava lendo: “O coração das trevas”, de Joseph Conrad. Curiosamente, também primeiro conheci a versão do cinema desse livro – Apocalipse Now(1979), de Copolla.
Neste exato momento acabo de ler a sexta parte do livro de Burroughs que, aparentemente, não possui nenhuma conexão, mas percebo que uma das intenções do autor é causar um efeito alucinógeno semelhante ao dos personagens Outro beatnick! Estou viciado.

domingo, 5 de dezembro de 2010

AMO PROSA, GOSTO DE POESIA. QUE TAL UMA PROSA POÉTICA?

Reservei esse final se semana a ler alguns poemas. Creio não ter nada a ver a leitura de poemas com o estado sentimental do indivíduo, mas nesse caso específico penso que sim. A leitura desses textos impregnados de poesia fez com que a seguinte interrogação pairasse sobre minha cabeça: Como entender poemas – leia-se também poesia? Não quero adentrar nesse tipo de discussão, visto ser leigo nesse assunto, mas sou leitor de poemas há bastante tempo e eles realmente me fazem viajar, sem ajuda de nenhuma droga.
Acabei nesse instante de ler o planejado para esse fim de semana e me preparo para compor mais uma música. Nunca tinha lido algo de Henriqueta Lisboa e gostei muito de um de seus poemas:
FIDELIDADE
Ainda agora e sempre
o amor complacente.

De perfil de frente
com vida perene.

E se mais ausente
a cada momento.

Tanto mais presente
com o passar do tempo.

à alma que consente
no maior silêncio

em guardá-lo dentro
de penumbra ardente

sem esquecimento
nunca para sempre

doloridamente.

(Henriqueta Lisboa)

Ouvi da boca do escritor sergipano Antônio Carlos Viana que é possível ler poesia em prosa. "Que todo prosador tem um caderno de poesia escondido". Tô começando a concordar com ele.