domingo, 26 de setembro de 2010

AMÓS OZ - FINALMENTE!

“Os nossos inimigos trocaram a máscara, mas sempre nos atormentam. Todas as nossas festas nos mostram isso. Sempre os mesmos inimigos, e a mesma guerra continua quase sem interrupção.”

Essa é uma citação do livro “Sumri”, do escritor israelense Amós Oz. Li essa obra por inteiro nessa manhã de Domingo. Gostaria de fazer uma co-relação da citação acima – retirada do final do livro – com outra do início:

“Tudo se troca ou muda. [...] Por sinal, enquanto falamos e discutimos essas coisas, o mundo ao nosso redor segue, também ele mudando. [...] Tudo.”

Voltarei a comentar essas duas citações. Agora quero demonstrar minha felicidade ao terminar de ler esse livro. Há tempos que procurei obras desse autor. Achei muito na internet, mas odeio ler em uma tela luminosa. Certa vez encontrei em uma livraria, mas não comprei por ter esquecido meu contracheque para receber desconto. Minha curiosidade sobre o autor foi despertada por uma referencia feita no programa “Entrelinas”, visto que o autor é engajado no movimento pacifista no Oriente Médio. Ganhei uns livros sábado pela manhã, e “Sumri” estava entre eles. Dei um grito contido para exprimir minha felicidade.

Resumo da história de 72 páginas: Um garoto chamado Sumri, cheio de imaginação, tem o desejo de pôr o “pé na estrada” e conhecer o mundo. É apaixonado por Esti, que só consegue atazanar a vida dela. Possui um tio chamado de Jacó que serve de inspiração para sua vida. Esse tio lhe dá presentes estranhos, que atiçam ainda mais a imaginação do garoto. Quando ganhou uma bicicleta de seu tio tentou colocar seu plano em prática, mas a viagem de seus sonhos ficou apenas no plano imaginário.

A verdadeira viagem do personagem se dá na imaginação. Durante a narrativa, feita pelo narrador-personagem, as histórias de lugares exóticos como, por exemplo, a África e o Egito, são postas como desejo do personagem. O apelido de Sumri é “menino louco”. A bicicleta ganha era considerada feminina, mas ele não liga, quer por seu plano em prática e não ficar só no campo das idéias. Seus planos vão por “água-a-baixo” quando resolve ir, antes de sua viagem, à casa de seu amigo Aldo. Esse colega propõe uma troca: a bicicleta por uma parte de um trem elétrico. Sumri imediatamente imagina esse seu trem passando por vales da Namíbia... Aceita a troca e volta para casa com seu trem em uma caixa. Seu inimigo, Goel, valentão da cidade, interpelou Sumri e praticamente obrigou o garoto a trocar seu trem por cachorro. Caso a troca não fosse feita, Goel iria entregar a Esti a caderneta de Sumri com poemas de amor endereçados a ela. Não teve opção, trocou.

Na volta para casa o cachorro (que na imaginação de Sumri se converte em lobo) se solta e o garoto se vê num dilema: como explicaria aos pais o sumiço da bicicleta? Entre várias opções resolve ir para casa portando nas mãos um apontador qu achou nas mãos – pelo menos não estava de mãos vazias. Ao chegar ao lar apanha do pai por não dar explicações e, agora sim, foge de vez de casa. Fica em uma rua quase chrando quando o pai de Esti o encontra. Inventa uma história e vai para a casa de seu grande amor.

Não contarei o resto da trama que esse inventivo autor israelense no traz, visto ser isso apenas um atrativo para a leitura.

Volto às citações feitas no início da postagem.

Num universo completamente diferente (tradição judaica) e num calendário diferente (os meses, relacionados aos ciclos da lua, são um pouco menores e, por isso, certos anos tem treze meses), essa história tem como pano de fundo a cultura judaica e toda sua dificuldade histórica de se encontrar no mundo. As citações do texto de Amós Oz , antes de apresentar problemas filosóficos, demonstram a perenidade que a guerra se faz na cultura desse povo. Contudo, o autor mostra a solução para isso:

1 – A imaginação: Sumri, mesmo metido em problemas voa em sua imaginação pueril.

2 – O amor: O sentimento que tem por Esti conduz a uma mudança de comportamento exposta no final do livro

Tudo muda, mas algo permanece. Se for guerra para os judeus do Oriente Médio que permanece, ela pode ser transformada e sublimada através da imaginação e do amor. Como sou feliz nesse domingo, como fui feliz nessa semana em que, como o personagem de Amós Oz, fugi e não sou mais o mesmo.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

SEM ÁLCOOL OU COM ÁLCOOL

Alguma coisa mexe com meu cérebro. Será o álcool interferindo em minhas sinapses nervosas? Espero que não, mas lembranças de tempos anteriores em que a única preocupação era passar nas matérias da universidade povoam minha mente nessa nostálgica semana. Parece que nada mudou. Sim! Nada mudou, porém ao acordar percebo que algumas coisas não são mais as mesmas. Paradoxal? Não é efeito do álcool. É difícil expressar a felicidade não mais saudosista que invade meu peito; exprimir sensações que só entenderão quem as viveu. Mas na limitação das palavras, quero dizer algo: amo. Posso dizer sem reservas que amo algumas pessoas. Não é um puro devaneio. Acordarei daqui a algumas horas e estarei sentindo o mesmo.
ACHO QUE SÓ ALGUMAS PESSOAS – SELECIONADAS A DEDO – ENTENDERÃO O QUE ESCREVI.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

"ACONTECEU EM WOODSTOCK" E PODE ACONTECER AGORA



Baseado em uma história real. Assisti a esse filme do premiado Ang Lee. O show de rock mais comentado de todos os tempos realmente merecia ter uma versão cinematográfica feita por um bom diretor. Apreciei com deleite cada cena, observei todas as cores, todo o figurino, os anseios dos personagens.
Os bastidores do show de rock mais famoso foi o pano de fundo do dessa produção. A série de contratempos enfrentados pelos produtores do espetáculo faz com que nos sentirmos próximos do show.
Geralmente quando assisto a um bom filme quero que uma cena esteja viva em minha mente por muito tempo; neste filme elegi minha cena predileta: quando o personagem principal, num processo de libertação da moralidade de uma cidadezinha americana usa uma droga pela primeira vez – ácido – e tem os efeitos alucinógenos mais bonitos que já vi. OBS: nunca usei drogas alucinógenas (risos).
Tiveram cenas memoráveis como, por exemplo, as brincadeiras dos hippies durante os intervalos do show etc. O legal desse filme foi como focou o processo de libertação exposto na vida do personagem central da trama. Este quer salvar a propriedade dos pais da falência e consegue trazer a edição desse show para sua cidade, a contragosto da população que enxergavam a figura do hippie como sendo danosa.
O personagem central, seus pais e alguns vizinhos sofreram a influência libertária dos jovens que queriam ouvir música – o filme mostra a libertação sexual, visto que esse personagem central é gay. Com cenas singelas e surreais foi um filme que encanta qualquer um, principalmente àqueles que gostariam de ver a Janis Joplin cantar em Woodstock.

É REALMENTE UM PARENTE INSISTENTE -- O PRIMO BASÍLIO



“Tinha notado, – e a sua voz tomou o tom espaçado de uma revelação, – tinha notado que muita gente, num local, causa vertigens aos homens de estudo.” (Capítulo IV)
Desde o último comentário desse livro pude perceber o tom crítico do autor acerca da sociedade lisboeta. A citação acima chama atenção, pois o personagem que faz essa referência é Basílio. Um aventureiro como ele se acha um homem de estudo. Claro! Um pseudo-aristocrata se considera superior. Mas não poderia deixar de fazer mais uma citação desse livro em que o Brasil é mencionado:
“Não te podia levar para o Brasil. Era matar-te, meu amor! Tu imaginas lá o que aquilo é!”
Referência à música: uma enxurrada de óperas é mencionada nesse livro (Rossini, Gounald...)
A paixão tórrida entre Luísa e Basílio se tornou explícita para o leitor a partir desse capítulo, ao mesmo tempo em que aumenta o mexerico da vizinhança. A inquietação e irritação de Juliana também começam a crescer. O ódio da empregada aumentava – chegou a gritar na presença de sua amiga sobre o caso de sua patroa, mas Luisa na ouviu. Depois desse grito tem um súbito malestar.
Luísa cede aos desejos d primo e vai ao campo com ele. Quando retorna encontra Sebastião, amigo do marido, em sua cassa para lhe informar sobre os comentários da vizinhança, mas, ao perceber a enxaqueca de Luísa, ele prefere contar no dia seguinte: Luisa fica transtornada, porém agradece o alerta do amigo. Uma nova preocupação surge: se os vizinhos há estão comentado, Jorge, ao voltar, poderá ter conhecimento do adultério.
Leopoldina. Ela aparece com força na trama novamente. Visita Luisa e tem um momento de saudosismo – lembranças escolares. É nessa rememoração que algo ocorre que chamou atenção; Leopoldina afirma:
“- Nunca – exclamou – nunca, depois de mulher, senti por homem o que senti pela Joaninha! ... Pois podes crer...”
É justamente assim que começa o capítulo cinco, com uma confissão de desejos lésbicos. Não posso deixar de comentar que nessa parte do livro é feita uma referência a um dos livros preferidos por mim: Dama das Camélias, de Dumas filho. Essa referência é feita intencionalmete na parte em que Leopoldina faz um discurso contra a casa de Luísa – afirmava que parecia um convento.
Caramba esse registro das impressões desse livro me deixam cansado. Ufa!


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

PROSA DE ESPINHOS [novo vídeo, uma bela canção]

Outro vídeo do ensaio da banda. Desta vez a música – até agora a minha predileta – é uma composição do guitarrista Bob Lopes. Desta vez não é necessário colocar a letra aqui, visto que uma legenda acompanha o vídeo. Mais uma vez não é uma gravação profissional, mas já informa a característica da banda em tratar com carinho a música. Curtam e deixem comentários.

UMA PEQUENA PROPEDÊUTICA WEBERIANA

Tardiamente a Alemanha se torna um estado independente. Não parece, visto que a Alemanha é uma potência no mundo contemporâneo e sua posição nos países mais ricos e influentes do mundo é privilegiada. Sim, a unificação alemã foi tardia. Retirando o passado nazista (uma verdadeira pedra no sapato) é uma nação admirável.
A história desse país oferece as características de seus pensadores. Para entender isso basta tentar analisar a gênese do pensamento de um clássico da sociologia: Max Weber. Nascido na cidade de Erfurt, na Alemanha, Weber desenvolveu estudos de direito, filosofia, história e sociologia. Contudo, no campo sociológico Weber é conhecido e influenciou nos estudos sobre religião. Sua principal obra: “A ética protestante e o espírito do capitalismo”. Foi comentado, neste mesmo blog, sobre o Darwinismo social, uma espécie de positivismo – evolução social cujos estágios que anulam as particularidades, ou seja, a comparação de sociedades e a tentativa de homogeneizar. Exemplo: se a cultura e a sociedade européia eram consideradas mais evoluídas, na época das grandes navegações, não importava a história das sociedades indígenas que eram consideradas inferiores.
É contra essa visão que Weber fará oposição. A concepção histórica é de extrema importância para o autor, pois é um elemento fundamental para a compreensão das sociedades. Não pode haver estágios (preconceituosos) de evolução nas sociedades, pois as diferenças sociais são interpretações de acordo com a gênese (origem) e formação.
As perspectivas weberianas são duas: histórica – respeita as particularidades de cada sociedade – e sociológica – ressalta elementos gerais de cada fase do processo histórico.
As particularidades de cada sociedade ou formação social e histórica devem ser respeitadas. Não quer comparar sociedades como Durkheim.
Os questionamentos que nortearam a construção desse texto foram:
1º) Por que a Alemanha , apesar de ter se tornado um país unificado tardiamente,se tornou um país desenvolvido?
2º) Qual a principal obra de Weber e a sua maior contribuição para a sociologia alemã?
3º) Qual a diferença entre o pensamento de Weber e o do positivismo (darwinismo social)?
4º) Explique as perspectivas de Weber para entender a sociedade.



sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Matou a família e foi ao cinema. É um título de um filme



Político. Insano. Lésbico. Báquico. São alguns adjetivos que povoaram a minha mente após assistir esse filme do Júlio Bressane. Com uma linguagem cativante, não consegui desviar a atenção das imagens projetadas na tela dos computadores. Não tinha dado muito crédito a esse filme quando me foi ofertado por Luciana parceria na cinefilia e em outra filias. Nos primeiros minutos assistidos pude perceber que se tratava de uma jóia do cinema. Não pesquisou sobre o diretor, mas quero conhecer mais de sua obra.
Pude perceber toda intenção política nas cenas, contudo a que mais me chamou atençã foi quando o verbo saber foi conjugado. Tinham perguntado sobre a política do Brasil; a resposta: Eu sei/ Tu sabes/ Ele sabe/ Nós sabemos / vós sabeis / Eles sabem. Até Dom Helder foi citado.
A trilha sonora. Ah! Que maravilha!
A relação lésbica das personagens centrais é muito curiosa. Minhas vizinhas assumiram o lesbianismo há pouco. Elas são, atualmente, o centro das fofocas da vizinhança. Olhares de reprovação são passados a elas pela forma escachada de seus comportamentos. Acredito que olhares de desejo também sejam lançados, apesar da hipocrisia.
Lembrei muito do núcleo lésbico das imediações da casa em que habito ao assistir esse filme. Os olhos da mãe – no filme –, quando vê a filha numa relação homo, se comparam aos olhos de meus vizinhos. A filha mata a mãe enquanto a parceira lixa as unhas: acho que é essa a reação das minhas vizinhas lésbicas, visto que afrontam os olhares de todos.
Relações não politicamente corretas como, por exemplo, assassinatos de pais, lesbianismo etc., fazem desse filme uma afronta aos nossos princípios consolidados pela realidade ou pelo consciente coletivo, como diria Durkheim.